sábado, 1 de junho de 2013

CONTROLE DA INFLAÇÃO NO BRASIL: ANÁLISE DO PLANO REAL

Por Isaac Sabino Cardoso
 
 
 
1.      INTRODUÇÃO
 
 
                   A Inflação sempre existiu, mas só nos últimos 150 anos esse debate é frequente em todos os noticiários e até mesmo nas rodas populares. No mundo acadêmico, entre os economistas, o tema foi provocado por John Maynards Keynes quando propôs a Macroeconomia. No Brasil, o nome assusta. O país, apesar das tentativas de estabilizar a economia, viu a inflação saltar de 415,83% em 1987, para 2.708,55% ao ano em 1993. Só com a implantação do Plano Real o país voltou a quase normalidade.
O estudo aprofundado da temática é de suma importância para as organizações e administradores contemporâneos. O controle da inflação perpassa pilares como ajuste fiscal; desindexação da economia e política monetária restritiva. São itens que estão intimamente ligados ao equilíbrio financeiro de cada cidadão, e para o seu correto funcionamento é necessário um conhecimento especializado por parte daqueles que desejam administrar.
Devido à importância desse assunto para a vida acadêmica e profissional do administrador, tendo em vista que ele (o administrador) é peça fundamental no bom funcionamento da economia, se faz necessário conceituar inflação; conhecer os tipos de inflação que existem; além do contexto histórico da inflação no Brasil. É com essa pretensão que esse estudo ora se apresenta. Caracterizando-se como analítico e bibliográfico. Para sua execução foram realizadas consultas bibliográficas de literatura especializada como livros, revistas, teses e dissertações além de fontes eletrônicas disponíveis na internet. Autores como Bresser Pereira (1984), Luiz Fernando Mählmann Heineck (2010), entre outros, foram consultadas.
A principal metodologia utilizada na elaboração desse trabalho foi a pesquisa e a leitura de textos antigos e atuais referentes ao assunto: buscou-se conceitos e práticas da atualidade para explicar o fenômeno à época pré e pós Plano Real. A linguagem é objetiva e simples, trazendo a todo o momento referências à vida dez anos após o Plano Real no Brasil. O trabalho está dividido nas seguintes: Conceito e tipos de inflação; O administrador público e o conhecimento acerca da inflação e o controle da inflação no Brasil. Também se utilizou a troca de ideias entre os componentes do grupo através de e-mails e interações no Ambiente Virtual de Aprendizagem.
2.      INFLAÇÃO: CONCEITO E TIPOLOGIAS
 
                   A maioria das pessoas pensa que só porque um produto aumenta aqui e outro ali já há inflação. O que não é bem verdade. Não há debates acerca do conceito de inflação, ou seja, todos os especialistas são unânimes em dizer que a inflação é o aumento dos preços de forma contínua e durante muito tempo, atingindo todos os setores da economia. Segundo Luiz Fernando Mählmann Heineck (2010) “A alta de alguns poucos produtos, o aumento não persistente de preços e os aumentos unicamente setoriais não correspondem à inflação”.
Um exemplo claro e prático da ocorrência de inflação é a desvalorização do papel (a moeda, dinheiro). Isso ocorre quando o governo resolve despejar muita moeda no mercado. O dinheiro acaba perdendo o seu valor. Esses papéis em demasia circulam para cobrir gastos, às vezes com custeio, às vezes com investimento. O pensamento é Monetarista, mas convence, pois com a desvalorização haverá uma alta generalizada dos preços na economia e por um longo período. É claro, que o efeito disparador não se reduz ao exemplo citado, os economistas divergem sobre o assunto. Os Estruturalistas, por exemplo, irão trabalhar em cima das subidas nos preços agrícolas, taxas de câmbio e custo de vida urbano. A estrutura em si.
O que há de convergência entre os especialistas é o enquadramento da inflação em várias tipologias. As principais dizem respeito à inflação de demanda; a inflação de custos e a inflação inercial. 
Mas, o que significa inflação de demanda, custos, inercial? E qual o histórico e formas de controle destas no Brasil? Quais as vantagens que o administrador e a sociedade têm ao conhecê-las? Como tal conhecimento quando inserido na Administração Pública pode ajudar o administrador a ajudar a sociedade?
Há uma pretensão deste artigo em responder tais perguntas no decorrer desse estudo.
 
 
2.1  Um conceito à Inflação de Demanda; de custo e Inercial
 
                  Grupos que sempre rivalizaram acerca das causas da inflação concordam sobre uma coisa: o conceito e a existência da inflação de demanda; de custos e inercial.
                 Heineck (2010) entende que a inflação de demanda ocorre quando os agentes econômicos, incluindo famílias, organizações e governo desejam comprar mais bens do que aqueles que a sociedade é capaz de ofertar. Um excesso de demanda para uma quantidade restrita de bens faz com que os preços tendam a subir.
                  A inflação de demanda ocorre quando o mercado não está preparado para uma determinada situação. Imagine uma onda de calor súbita e com demora além do previsto pelos especialistas. Há correria por aparelhos de refrigeração (ar-condicionado e outros). Se a comunidade empresarial está com um estoque limitado, a tendência é que os poucos produtos que restam tenham uma alta inesperada. E piora à medida que o verão se estende por mais tempo.
                  Quanto à inflação de custos, Heineck (2010) argumenta que ela ocorre quando fatores inesperados aumentam os custos de produção, como quebras de safras agrícolas, dificuldades com o transporte de mercadorias, novos impostos incidentes sobre a produção ou comercialização, quebras de produtividade das máquinas ou de produtividade de recursos humanos.
                Um exemplo bem prático que serve de desenho para explicar este tipo de inflação é a questão do trigo. Imagine que haja alta no preço do trigo. Embora distante, essa alta terá reflexo no custo do pãozinho da padaria da esquina do homem comum. O mesmo ocorre quando há alta no cimento, que tem reflexo na construção civil;  ou no canavial que influi no álcool nas bombas de combustível.
                 Por último, tem-se a inflação inercial. Por sua vez, essa age mais na mente das pessoas. É inercial, imóvel. Não surge nem da parte da demanda, nem da parte dos custos. Ao lembrarem de uma inflação ocorrida num tempo atrás, as pessoas tendem a aumentar os preços. Sem causa aparente, por puro medo psicológico relacionado ao período inflacionário existente em suas memórias.
 
2.2  O Administrador Público e o conhecimento acerca da inflação
 
                   Elo de comunicação entre a economia aplicada pelos governos e a população, o administrador público é peça fundamental no bom funcionamento do jogo econômico. O problema é que por não conhecer afundo mecanismos macroeconômicos – como a inflação, muitos administradores públicos terminam mais atrapalhando do que ajudando o país. É bem verdade que muitos destes não passaram por uma universidade.
                   Não saber que o controle da inflação perpassa pilares como ajuste fiscal, e em plena crise, servidores pedem aumento acima dos índices oficiais é uma dessas demonstrações de ausência de conhecimento que não contribui em nada para o crescimento igual dos cidadãos de uma nação; outro fator que aponta que o desconhecimento atrapalha o país e maltrata os mais frágeis, diz respeito à indexação da economia. Neste caso, o administrador ou servidor exige que seus vencimentos sejam corrigidos de acordo com algum índice. Até aí tudo bem, mas quando esse índice reside somente na memória destas pessoas é que o problema se agrava.
                      Saber de tudo isso é o diferencial entre os administradores que farão com que as coisas deem certo para o coletivo e àqueles que pensando unicamente em si fazem com que deem errado.
                      Com tudo isso é que se faz necessária a existência de administradores públicos dentro da coisa pública formados pela teoria ditada nos centros acadêmicos. Não administradores feitos pela lida do dia-a-dia (a sociedade pensa que nestes casos a experiência é mais importante, o que não é bem verdade). É em entidades superiores que são debatidos temas como a macroeconomia, e nesse caso os futuros líderes terão uma bagagem formada tanto pela teoria quanto pela prática (experiência).
                         Conceituar Inflação; saber os tipos de inflação que existem; ter uma visão histórico-teórico do problema inflacionário no país; ser peça fundamental no combate a tal problemática; é o mínimo que se espera de líderes que desejam o bem aos seus subordinados. E nesse grupo de líderes têm que estar os administradores públicos.
                    
3.      CONTROLE DA INFLAÇÃO NO BRASIL: ANÁLISE DO PLANO REAL
 
“Aqui jaz a moeda que acumulou, de julho de 1965 a junho de 1994, uma inflação de 1,1 quatrilhão por cento. Sim, inflação de 16 dígitos, em três décadas. Ou precisamente, um IGP-DI de 1.142.332.741.811.850%. Dá para decorar? Perdemos a noção disso porque realizamos quatro reformas monetárias no período e em cada uma delas deletamos três dígitos da moeda nacional. Um descarte de 12 dígitos no período. Caso único no mundo, desde a hiperinflação alemã dos anos 1920.” Joelmir Beting
 
                  O ano é 2012, a inflação beira os 6% ao ano. O país inteiro fica em alvoroço. A oposição usa o tema como bandeira de campanha e o governo promete fazer o dragão recuar.
                 Boa parte da nação, hoje chefes de família, ou eram bem pequenas ou não eram nem nascidas quando o país viveu tempos terríveis com relação ao aumento dos preços. O desequilíbrio teve picos altíssimos entre os anos de 1960 a 1970. FGV e DIEESE registraram números parecidos que iam de 15,5% a 91,90% ao ano. Mas, o pior ainda estava por vir. A década de 1980 teve forte retração na taxa de expansão econômica e significativo aumento da inflação. Entre 1990 e 1994 registrou-se 764% de inflação.
                  Imagine um país com tudo aumentando todos os dias. O povo, com medo, estocando alimentos.  De longe, a crise do tomate registrada no início de 2013 se assemelha com os problemas vividos pelos brasileiros antes da implantação do Plano Real.
                 De 1960 a 1970 foram várias tentativas. Todas falharam e agravaram o problema. Segundo  Bresser Pereira (1984) os economistas de Castelo Branco trataram a inflação pelo lado da demanda e adotaram medidas para reduzirem o consumo. O resultado foi mais crise. O autor cita Ignácio Rangel (1963) chamando atenção para o controle dos preços pelos oligopólios da época, motivo real dos agentes inflacionários daquele momento. Delfim Netto ao assumir o ministério tentou o controle administrativo dos preços, mesmo assim a inflação continuou alta. Nos anos seguintes as táticas seriam bem parecidas com as dos anos anteriores.
                Só no dia 19 de maio de 1993, o então Presidente Itamar Franco deu carta branca no combate a inflação ao novo ministro da fazenda Fernando Henrique Cardoso. Como em tudo pra dá certo, FHC começa formando uma equipe de competentíssimos economistas da época: Persio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha, Clóvis Carvalho e Wiston Fritsch. A promessa era acabar com a inflação, ou pelo menos reduzi-la.
                  Para a adoção do Plano Real foram seguidos alguns passos: (1) houve um período de equilíbrio das contas públicas com redução das despesas e aumento das receitas. Um país com as dimensões do Brasil acumulou gastos e desperdícios durante anos, a medida foi válida e teve efeito rápido; (2) para evitar o confisco da poupança, medida adotada por governos anteriores, e preservar o poder de compra da massa salarial, foi criado a URV (Unidade Real de Valor) - a medida de valor foi uma transição para a nova moeda – o Real.
                 Mas, as medidas não pararam por aí. Seis anos depois da implantação do Plano Real ainda foram tomadas uma série de medidas, entre elas: Privatização de vários setores estatais, o Proer, a criação de agências reguladoras, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a liquidação ou venda da maioria dos bancos pertencentes aos governos dos estados, a total renegociação das dívidas de estados e municípios com critérios rigorosos (dívida pública), maior abertura comercial com o exterior, entre outras.
                  Joelmir Beting abre esse texto citando um número que avançou estratosfericamente desde 1967 a 1994 forçando a adoção de seis novas moedas: Cruzeiro Novo (1967), Cruzeiro (moeda) (1970), Cruzado (BRC) (1986), Cruzado Novo (1989), Cruzeiro (moeda) (1990) e Cruzeiro Real (1993). Foram décadas de tentativas e crises. Mas, finalmente, nos primeiros momentos do Plano Real, o brasileiro pôde conviver com uma inflação de 6,08%.
                 O Plano Real deu certo. Foram anos de descontrole na economia brasileira. Governos caíram e outros se levantaram. A proposta era sempre a mesma – acabar com um mal que assolava a todos os brasileiros. Foi com audácia e com as medidas econômicas certas que a partir do primeiro ano do Real o cidadão comum, empresários e muitos economistas puderam dormir com mais tranquilidade.
 
 
 CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
 
A complexidade assumida pela economia nos últimos 150 anos exige das organizações contemporâneas, sejam elas públicas ou privadas, uma capacitação de seus administradores quanto à macroeconomia. Um estudo minucioso acerca da inflação tem sido o diferencial nesta empreitada. As conquistas inflacionárias conseguidas no Brasil depois da implantação do Plano Real dependem de manutenção e essa perpassa por todos da nação, mas principalmente por aqueles que agem intimamente para o funcionamento da economia – os administradores públicos.
Afim de não retroceder a um tempo em que os preços aumentavam todos os dias, faz-se necessário que os administradores públicos cobrem. Cobrem para que os que estejam em cargos de administração da coisa pública tenham passado por cursos superiores, dominem o conceito de inflação, seus tipos, o histórico inflacionário no Brasil e como esta afeta o homem simples dessa nação. 
A inflação é até tolerada numa economia. Com o Plano Real, veio o plano de metas a cuidado do Banco Central – algo em torno de 4,5% ao ano. Manter essa meta requer conhecimentos técnico e histórico sobre o assunto, se não dos leigos pelo menos daqueles que lubrificam as engrenagens da economia.
Apesar das conquistas na última década, a ausência de conhecimento por parte de quem deveria tê-lo, tem ameaçado a meta que trouxe tranquilidade ao país. Nos últimos anos, o setor privado e mais ainda, o setor público têm dado aumentos bem acima do salário mínimo estipulado. Tal prática quebra a conquista do chamado “ajuste fiscal” e provoca desequilíbrio na hora de fechar as contas. Vale lembrar que tais aumentos são cobranças de servidores públicos e funcionários privados que sem se darem conta impulsionam os agentes inflacionários que a bem pouco tempo assustava a população.
A Administração Pública precisa de administradores públicos profissionais. Conhecedores do histórico da inflação no Brasil; conhecedores dos Planos que culminaram com o real; articuladores de uma economia que dá certo. Para tal, os centros acadêmicos devem sempre incentivar o estudo acerca do controle da inflação no Brasil, e principalmente, com uma análise minuciosa acerca do Plano Real.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS
 
 
 
Brasil Gov.BR. Plano real , controle da inflação e redução da pobeza. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/linhadotempo/epocas/1994/plano-real-controle-da-inflacao-e-reducao-da-pobreza> acesso em 17 maio 2013
 
Heineck, Luiz Fernando Mählmann Macroeconomia. Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2010.178p. : il.
 
BRESSER-PEREIRA, L. C. As contradições da inflação brasileira. Disponível em: < http://www.bresserpereira.org.br/Books/InflacaoeRecessao-1Edicao/09-As Contradi%C3%A7%C3%B5es-da-Infla%C3%A7%C3%A3o-Brasileira.pdf > Acesso em 17 maio 2013
 
 
WIKIPÉDIA. Plano Real. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Plano_Real >. Acesso em 17 maio2013.

 


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