Por Isaac Sabino Cardoso
1.
INTRODUÇÃO
A Inflação sempre existiu,
mas só nos últimos 150 anos esse debate é frequente em todos os noticiários e
até mesmo nas rodas populares. No mundo acadêmico, entre os economistas, o tema
foi provocado por John Maynards Keynes quando propôs a Macroeconomia. No
Brasil, o nome assusta. O país, apesar das tentativas de estabilizar a
economia, viu a inflação saltar de 415,83% em 1987, para 2.708,55% ao ano em
1993. Só com a implantação do Plano Real o país voltou a quase normalidade.
O estudo aprofundado da
temática é de suma importância para as organizações e administradores
contemporâneos. O controle da inflação perpassa pilares como ajuste fiscal;
desindexação da economia e política monetária restritiva. São itens que estão
intimamente ligados ao equilíbrio financeiro de cada cidadão, e para o seu
correto funcionamento é necessário um conhecimento especializado por parte
daqueles que desejam administrar.
Devido à importância
desse assunto para a vida acadêmica e profissional do administrador, tendo em
vista que ele (o administrador) é peça fundamental no bom funcionamento da
economia, se faz necessário conceituar inflação; conhecer os tipos de inflação
que existem; além do contexto histórico da inflação no Brasil. É com essa
pretensão que esse estudo ora se apresenta. Caracterizando-se como analítico e
bibliográfico. Para sua execução foram realizadas consultas bibliográficas de
literatura especializada como livros, revistas, teses e dissertações além de
fontes eletrônicas disponíveis na internet. Autores como Bresser Pereira
(1984), Luiz Fernando Mählmann Heineck (2010), entre outros, foram consultadas.
A principal metodologia
utilizada na elaboração desse trabalho foi a pesquisa e a leitura de textos antigos
e atuais referentes ao assunto: buscou-se conceitos e práticas da atualidade
para explicar o fenômeno à época pré e pós Plano Real. A linguagem é objetiva e
simples, trazendo a todo o momento referências à vida dez anos após o Plano
Real no Brasil. O trabalho está dividido nas seguintes: Conceito e tipos de
inflação; O administrador público e o conhecimento acerca da inflação e o
controle da inflação no Brasil. Também se utilizou a troca de ideias entre os
componentes do grupo através de e-mails e interações no Ambiente Virtual de
Aprendizagem.
2.
INFLAÇÃO: CONCEITO E TIPOLOGIAS
A maioria das pessoas pensa
que só porque um produto aumenta aqui e outro ali já há inflação. O que não é
bem verdade. Não há debates acerca do conceito de inflação, ou seja, todos os
especialistas são unânimes em dizer que a inflação é o aumento dos preços de
forma contínua e durante muito tempo, atingindo todos os setores da economia.
Segundo
Luiz Fernando Mählmann Heineck (2010) “A alta de alguns poucos produtos, o
aumento não persistente de preços e os aumentos unicamente setoriais não
correspondem à inflação”.
Um exemplo claro e
prático da ocorrência de inflação é a desvalorização do papel (a moeda,
dinheiro). Isso ocorre quando o governo resolve despejar muita moeda no
mercado. O dinheiro acaba perdendo o seu valor. Esses papéis em demasia
circulam para cobrir gastos, às vezes com custeio, às vezes com investimento. O
pensamento é Monetarista, mas convence, pois com a desvalorização haverá uma
alta generalizada dos preços na economia e por um longo período. É claro, que o
efeito disparador não se reduz ao exemplo citado, os economistas divergem sobre
o assunto. Os Estruturalistas, por exemplo, irão trabalhar em cima das subidas
nos preços agrícolas, taxas de câmbio e custo de vida urbano. A estrutura em
si.
O que há de
convergência entre os especialistas é o enquadramento da inflação em várias
tipologias. As principais dizem respeito à inflação de demanda; a inflação de
custos e a inflação inercial.
Mas, o que significa inflação
de demanda, custos, inercial? E qual o histórico e formas de controle destas no
Brasil? Quais as vantagens que o administrador e a sociedade têm ao conhecê-las?
Como tal conhecimento quando inserido na Administração Pública pode ajudar o
administrador a ajudar a sociedade?
Há uma pretensão deste
artigo em responder tais perguntas no decorrer desse estudo.
2.1 Um conceito à Inflação
de Demanda; de custo e Inercial
Grupos que sempre rivalizaram
acerca das causas da inflação concordam sobre uma coisa: o conceito e a
existência da inflação de demanda; de custos e inercial.
Heineck (2010) entende que a
inflação de demanda ocorre quando os agentes econômicos, incluindo famílias,
organizações e governo desejam comprar mais bens do que aqueles que a sociedade
é capaz de ofertar. Um excesso de demanda para uma quantidade restrita de bens
faz com que os preços tendam a subir.
A inflação de demanda ocorre quando o
mercado não está preparado para uma determinada situação. Imagine uma onda de
calor súbita e com demora além do previsto pelos especialistas. Há correria por
aparelhos de refrigeração (ar-condicionado e outros). Se a comunidade
empresarial está com um estoque limitado, a tendência é que os poucos produtos
que restam tenham uma alta inesperada. E piora à medida que o verão se estende
por mais tempo.
Quanto à inflação de custos,
Heineck (2010) argumenta que ela ocorre quando fatores inesperados aumentam os custos de
produção, como quebras de safras agrícolas, dificuldades com o transporte de
mercadorias, novos impostos incidentes sobre a produção ou comercialização,
quebras de produtividade das máquinas ou de produtividade de recursos humanos.
Um exemplo
bem prático que serve de desenho para explicar este tipo de inflação é a
questão do trigo. Imagine que haja alta no preço do trigo. Embora distante,
essa alta terá reflexo no custo do pãozinho da padaria da esquina do homem
comum. O mesmo ocorre quando há alta no cimento, que tem reflexo na construção
civil; ou no canavial que influi no álcool
nas bombas de combustível.
Por
último, tem-se a inflação inercial. Por sua vez, essa age mais na mente das
pessoas. É inercial, imóvel. Não surge nem da parte da demanda, nem da parte
dos custos. Ao lembrarem de uma inflação ocorrida num tempo atrás, as pessoas
tendem a aumentar os preços. Sem causa aparente, por puro medo psicológico
relacionado ao período inflacionário existente em suas memórias.
2.2 O Administrador Público
e o conhecimento acerca da inflação
Elo de comunicação entre a
economia aplicada pelos governos e a população, o administrador público é peça
fundamental no bom funcionamento do jogo econômico. O problema é que por não
conhecer afundo mecanismos macroeconômicos – como a inflação, muitos
administradores públicos terminam mais atrapalhando do que ajudando o país. É bem
verdade que muitos destes não passaram por uma universidade.
Não saber que o controle da
inflação perpassa pilares como ajuste fiscal, e em plena crise, servidores pedem
aumento acima dos índices oficiais é uma dessas demonstrações de ausência de conhecimento
que não contribui em nada para o crescimento igual dos cidadãos de uma nação;
outro fator que aponta que o desconhecimento atrapalha o país e maltrata os
mais frágeis, diz respeito à indexação da economia. Neste caso, o administrador
ou servidor exige que seus vencimentos sejam corrigidos de acordo com algum
índice. Até aí tudo bem, mas quando esse índice reside somente na memória
destas pessoas é que o problema se agrava.
Saber de tudo isso é o
diferencial entre os administradores que farão com que as coisas deem certo
para o coletivo e àqueles que pensando unicamente em si fazem com que deem
errado.
Com tudo isso é que se
faz necessária a existência de administradores públicos dentro da coisa pública
formados pela teoria ditada nos centros acadêmicos. Não administradores feitos
pela lida do dia-a-dia (a sociedade pensa que nestes casos a experiência é mais
importante, o que não é bem verdade). É em entidades superiores que são
debatidos temas como a macroeconomia, e nesse caso os futuros líderes terão uma
bagagem formada tanto pela teoria quanto pela prática (experiência).
Conceituar
Inflação; saber os tipos de inflação que existem; ter uma visão
histórico-teórico do problema inflacionário no país; ser peça fundamental no
combate a tal problemática; é o mínimo que se espera de líderes que desejam o
bem aos seus subordinados. E nesse grupo de líderes têm que estar os
administradores públicos.
3.
CONTROLE DA INFLAÇÃO NO BRASIL: ANÁLISE DO PLANO REAL
“Aqui jaz a moeda que
acumulou, de julho de 1965 a junho de 1994, uma inflação de 1,1 quatrilhão por cento. Sim, inflação de 16 dígitos, em três décadas. Ou precisamente, um
IGP-DI de 1.142.332.741.811.850%.
Dá para decorar? Perdemos a noção
disso porque realizamos quatro reformas monetárias no período e em cada uma
delas deletamos três dígitos da moeda nacional. Um descarte de 12 dígitos no
período. Caso único no mundo, desde a hiperinflação alemã dos anos 1920.” Joelmir
Beting
O ano é 2012, a inflação beira os 6% ao ano. O país inteiro fica
em alvoroço. A oposição usa o tema como bandeira de campanha e o governo
promete fazer o dragão recuar.
Boa parte da nação, hoje
chefes de família, ou eram bem pequenas ou não eram nem nascidas quando o país
viveu tempos terríveis com relação ao aumento dos preços. O desequilíbrio teve
picos altíssimos entre os anos de 1960 a 1970. FGV e DIEESE registraram números
parecidos que iam de 15,5% a 91,90% ao ano. Mas, o pior ainda estava por vir. A
década de 1980 teve forte retração na taxa de expansão econômica e significativo
aumento da inflação. Entre 1990 e 1994 registrou-se 764% de inflação.
Imagine um país com tudo
aumentando todos os dias. O povo, com medo, estocando alimentos. De longe, a crise do tomate registrada no
início de 2013 se assemelha com os problemas vividos pelos brasileiros antes da
implantação do Plano Real.
De 1960 a 1970 foram várias
tentativas. Todas falharam e agravaram o problema. Segundo Bresser Pereira (1984) os economistas de
Castelo Branco trataram a inflação pelo lado da demanda e adotaram medidas para
reduzirem o consumo. O resultado foi mais crise. O autor cita Ignácio Rangel
(1963) chamando atenção para o controle dos preços pelos oligopólios da época,
motivo real dos agentes inflacionários daquele momento. Delfim Netto ao assumir
o ministério tentou o controle administrativo dos preços, mesmo assim a
inflação continuou alta. Nos anos seguintes as táticas seriam bem parecidas com
as dos anos anteriores.
Só no dia 19 de maio de 1993, o
então Presidente Itamar Franco deu carta branca no combate a inflação ao novo
ministro da fazenda Fernando Henrique Cardoso. Como em tudo pra dá certo, FHC
começa formando uma equipe de competentíssimos economistas da época: Persio
Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan, Edmar Bacha, Clóvis
Carvalho e Wiston Fritsch. A promessa era acabar com a inflação, ou pelo menos
reduzi-la.
Para a adoção do Plano Real
foram seguidos alguns passos: (1) houve um período de equilíbrio das contas
públicas com redução das despesas e aumento das receitas. Um país com as
dimensões do Brasil acumulou gastos e desperdícios durante anos, a medida foi
válida e teve efeito rápido; (2) para evitar o confisco da poupança, medida
adotada por governos anteriores, e preservar o poder de compra da massa
salarial, foi criado a URV (Unidade Real de Valor) - a medida de valor foi uma
transição para a nova moeda – o Real.
Mas, as medidas não pararam
por aí. Seis anos depois da implantação do Plano Real ainda foram tomadas uma
série de medidas, entre elas: Privatização de vários setores estatais, o Proer,
a criação de agências reguladoras, a Lei de
Responsabilidade Fiscal, a liquidação ou venda da maioria dos bancos
pertencentes aos governos dos estados, a total renegociação das dívidas de
estados e municípios com critérios rigorosos (dívida pública), maior abertura
comercial com o exterior, entre outras.
Joelmir Beting abre esse
texto citando um número que avançou estratosfericamente desde 1967 a 1994 forçando a adoção de seis novas moedas: Cruzeiro Novo
(1967), Cruzeiro (moeda) (1970), Cruzado (BRC) (1986), Cruzado Novo (1989), Cruzeiro (moeda) (1990)
e Cruzeiro Real (1993). Foram décadas de tentativas e crises.
Mas, finalmente, nos primeiros momentos do Plano Real, o brasileiro pôde
conviver com uma inflação de 6,08%.
O Plano Real deu certo. Foram
anos de descontrole na economia brasileira. Governos caíram e outros se
levantaram. A proposta era sempre a mesma – acabar com um mal que assolava a
todos os brasileiros. Foi com audácia e com as medidas econômicas certas que a
partir do primeiro ano do Real o cidadão comum, empresários e muitos
economistas puderam dormir com mais tranquilidade.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A
complexidade assumida pela economia nos últimos 150 anos exige das organizações
contemporâneas, sejam elas públicas ou privadas, uma capacitação de seus
administradores quanto à macroeconomia. Um estudo minucioso acerca da inflação
tem sido o diferencial nesta empreitada. As conquistas inflacionárias
conseguidas no Brasil depois da implantação do Plano Real dependem de
manutenção e essa perpassa por todos da nação, mas principalmente por aqueles
que agem intimamente para o funcionamento da economia – os administradores
públicos.
Afim
de não retroceder a um tempo em que os preços aumentavam todos os dias, faz-se
necessário que os administradores públicos cobrem. Cobrem para que os que
estejam em cargos de administração da coisa pública tenham passado por cursos
superiores, dominem o conceito de inflação, seus tipos, o histórico
inflacionário no Brasil e como esta afeta o homem simples dessa nação.
A inflação é até
tolerada numa economia. Com o Plano Real, veio o plano de metas a cuidado do
Banco Central – algo em torno de 4,5% ao ano. Manter essa meta requer
conhecimentos técnico e histórico sobre o assunto, se não dos leigos pelo menos
daqueles que lubrificam as engrenagens da economia.
Apesar das conquistas
na última década, a ausência de conhecimento por parte de quem deveria tê-lo, tem
ameaçado a meta que trouxe tranquilidade ao país. Nos últimos anos, o setor
privado e mais ainda, o setor público têm dado aumentos bem acima do salário
mínimo estipulado. Tal prática quebra a conquista do chamado “ajuste fiscal” e
provoca desequilíbrio na hora de fechar as contas. Vale lembrar que tais
aumentos são cobranças de servidores públicos e funcionários privados que sem
se darem conta impulsionam os agentes inflacionários que a bem pouco tempo
assustava a população.
A Administração
Pública precisa de administradores públicos profissionais. Conhecedores do
histórico da inflação no Brasil; conhecedores dos Planos que culminaram com o real;
articuladores de uma economia que dá certo. Para tal, os centros acadêmicos
devem sempre incentivar o estudo acerca do controle da inflação no Brasil, e
principalmente, com uma análise minuciosa acerca do Plano Real.
REFERÊNCIAS
Brasil
Gov.BR. Plano real , controle da
inflação e redução da pobeza. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/linhadotempo/epocas/1994/plano-real-controle-da-inflacao-e-reducao-da-pobreza>
acesso em 17 maio 2013
Heineck, Luiz Fernando Mählmann Macroeconomia. Florianópolis : Departamento de Ciências da
Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2010.178p. : il.
BRESSER-PEREIRA, L. C. As contradições da inflação brasileira.
Disponível em: < http://www.bresserpereira.org.br/Books/InflacaoeRecessao-1Edicao/09-As
Contradi%C3%A7%C3%B5es-da-Infla%C3%A7%C3%A3o-Brasileira.pdf > Acesso em 17 maio
2013
WIKIPÉDIA.
Plano Real. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Plano_Real
>. Acesso em 17 maio2013.
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