quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Crítica ao Ensaio sobre a cegueira de José Saramago

     Há uma indicação de livro ou filme excelente que mostra o quanto o homem está mergulhado em merda e não percebe. Acostuma-se. Ver Tudo lindo às mil maravilhas. Não percebe que é só na TV; na propaganda; nas promessas do governo. Na realidade o que se tem é o que mostra o escritor José Saramago em Ensaio sobre a cegueira: esgoto e lixo a céu aberto; governos que vivem discutindo sobre saúde e educação enquanto vários morrem e outros tantos continuam analfabetos. O autor vai além, e já que a humanidade não quer enxergar sua real condição, Saramago arranca a visão de todos. É isso mesmo, na ficção uma epidemia cega toda a humanidade. Somente duas pessoas irão continuar enxergando e vendo o homem quebrar todas as convenções morais e voltar ao estado de animal “selvagem”. As duas pessoas que continuam enxergando é você leitor e a “mulher do médico”.     
     Há várias convenções morais que perduram no tempo. O problema é que essa convenções são elaboradas por uma pequena minoria rica e poderosa e seguida por uma grande maioria, pobre e ignorante. Essa minoria é tão audaciosa que arranca os nomes das pessoas e as rebatiza com o que elas fazem. Se você enxerga, você leu ou viu. Em Ensaio sobre a Cegueira não há nomes pessoais. As pessoas se conhecem e se respeitam pelo o que elas fazem e não pelo que elas são. Não há nomes, há professor, médico, menino, número um, dois, trés...É preciso um tapa de Saramago para que as pessoas vejam o quanto são desrespeitadas. 
     O radicalismo da obra é tanto que o Escritor desfaz tudo aquilo que o homem crer como verdade. Até mesmo a sua condição de alienígena neste mundo é desfeito. A moral fica de lado no momento em que comer ou simplesmente sobreviver é o mais importante. Deve ser por isso que tantos se submetem a uma esmola do governo; deve ser por isso que muitos dizem que vender o voto é imoral e muitos continuam com a prática; deve ser por isso que alguém diz sempre “ele rouba, mas faz”. As pessoas são roubadas em sua dignidade, aceitam as regras que lhe são imposta, mas sem o mínimo pra viver - comer, por exemplo, aceitam aquilo que outrora seria visto como mal. Para um Cego, dinheiro não tem valor, roupas não têm valor, jóias não têm valor. O homem retorna a natureza. O animal retorna a natureza. As convenções eram só ilusões.  
     E àqueles que enxergam? Eles existem mesmo? Quais as suas características?  
    A obra não deixa esse tipo humano de fora: no enredo, essa pessoa que continua enxergando, além de você leitor, é a mulher do médico. Muito provável ela enxergue porque nunca se preocupou em limpar um homem sujo; em guiar outros que não enxergam; em perdoar. Portanto, esses personagens existem tanto na ficção de Saramago quanto no mundo real. Essas pessoas são fáceis de serem identificadas porque elas são inconformadas, elas enxergam e não são egoístas de esconderem o que vêem - elas falam.  
     O que há de mais triste na obra do escritor português é o andar em círculo da humanidade. Note-se que mesmo ficando cegos e voltando ao estado de natureza, onde o que importa simplesmente é comer, beber e transar, outros ignorantes cegos vão se impor aos demais, e de novo instituir um governo. No primeiro momento democracias, mas depois ditaduras. É como se o homem, por ser fraco, estivesse fadado, enternamente, a obedecer àqueles que aparentam mais forças. Mesmo depois de há muito a natureza deixar livre o homem, o homem se aprisiona a outros. E na ficcão, a natureza recolhe a homem a si, mesmo assim ele continua com sua necessidade miserável de ser guiado. Saramago deixa subentendido que semore existirão esses malditos líderes que se predispõem a guiar,mas o que fazem mesmo é explorar. Tanto faz se na ficção ou na realidade. As práticas dos líderes são sempre as mesmas - ficarem na zona de conforto e explorar os outros.    

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