domingo, 22 de junho de 2014

As metáforas de Gareth Morgan e um contraponto entre as organizações como máquinas e as organizações como organismos

     O professor Gareth Morgan durante seus estudos acerca das organizações conseguiu definir essas entidades e seu funcionamento sob a ótica de oito metáforas. No livro “Imagens da Organização”, Morgan fala de forma objetiva sobre o funcionamento das empresas comparando-as com máquinas, organismos, cérebros, cultura, sistemas políticos, fluxo e transformação. É difícil descartar uma ou outra ideia do autor. Todas são boas, reais e às vezes juntas dentro de um órgão. Contudo, nesse texto, se escolherá uma como modelo mais ideal e outra como problema para as empresas.
     Metáfora é uma espécie de comparação marcada por um verbo de ligação. É quando uma pessoa lança mão das características de um ser ou objeto e as coloca em outro. Um exemplo clássico: João é um leão. Significa que este homem é forte, ou valente. É essa figura de linguagem que Morgan usa para descrever as organizações humanas. Mas, assim como a comparação com o leão deixa brechas, (alguém pode usar mais atribuições do bicho com o homem) o autor esclarece que com o seu estudo também pode ocorrer o mesmo.
    É perceptível que o estudo de Morgan segue uma gradação histórica (Pelo menos em dois momentos). A administração clássica e científica é o ápice da metáfora das máquinas; seguida, pelo surgimento das entidades como organismos e as posteriores. As duas primeiras têm um contraponto interessante e é por isso que esse artigo é uma análise minuciosa delas.
    Ver as organizações como organismos vivos, seja sob o aspecto de um ser uno e complexo – suas células, seus órgãos – ou, como seres vivos num ambiente, é muito interessante. Nessa análise o homem é visto como uma parte que é boa para o todo – o homem é a célula ou órgão (parte) e a empresa é o corpo (todo). É só a partir dessa visão que surge a necessidade de um pensamento administrativo marcado pela necessidade do equilíbrio. O lado ruim da proposta é visto sob o ponto de visto “ser vivo e ambiente”. Nesse caso é levada em consideração a adaptação da empresa ao ambiente – seu nascimento, sua vida ou sua extinção.
     A metáfora das organizações como organismos é a mais completa e menos agressiva das oito, de qualquer forma não é humana. O homem como agente individual, capaz de fazer a diferença, não é levado em consideração. Mesmo assim, o pensamento de Morgan é válido e representa um rompimento da metáfora anterior – aquela que nesse artigo será analisada como a mais agressiva e desumana de todas – a metáfora das organizações como máquinas.
     Quem assistiu ao filme Tempos Modernos de Charlie Chaplin lembra bem da cena do operário na fábrica apertando parafusos que passam por uma esteira e rapidamente partem para outro empregado em outro departamento. No término do expediente o homem fica louco e sai apertando tudo que ver. Também é memorável a cena do operário tendo seu almoço regulado por uma máquina. A proposta é que ele termine logo o seu descanso e volte à produção. O homem sendo regulado por uma rotina; o trabalho repetitivo e eficiente; as máquinas no dia a dia. Essa é a desumanização do homem e nascimento do homem máquina.
     A metáfora das organizações como máquinas tem seu ápice nos séculos XIX e XX, logo após a revolução industrial. O desejo dos pensadores administrativos da época é transformar o ser humano em parte do maquinário – uma simples engrenagem. A ideia é que para um trabalho rotineiro não haveria necessidade de pensar – só o fazer. Esse desejo de uma época vai perdurar até os dias de hoje: muitas empresas, públicas e privadas, privilegiam o horário, a rotina – uma peça de carne que faz o todo funcionar e que pode ser facilmente substituída.
     O homem como máquina é o pensamento mais forte dos oito, e o mais fácil de ser compreendido. De qualquer forma é o mais maldoso e por isso o mais criticado. A humanidade já caminhou muito para evitar a desumanização, mesmo assim, a prática de tornar o empregado em só mais uma ferramenta do todo é a regra. Mas, como qualquer outra metáfora - que é um leque aberto para as comparações - a falha dessa é justamente não considerar o desejo dos homens em não se deixar aprisionar.
     Para o futuro administrador é fundamental a leitura do Livro “Imagens da Organização” de Gareth Morgan. Entender como os homens produzem, e com eficiência, é o dilema de todos os gestores de todos os tempos, e a obra traz um perfil detalhado das organizações sob um ponto de vista comparativo muito bom. Atenção especial deve ser dada aos momentos históricos em que grandes pensadores tentaram produzir um  homem fácil de ser controlado e substituído, e o rompimento desses instante com as revoluções que viam o homem como organismo vivo.
    


     

REFERÊNCIAS

Coelho, Ricardo Corrêa Ciência política / Ricardo Corrêa Coelho. – 2. ed. reimp.Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC, 2012.159p. : il.

Morgan, Gareth, 1943 - Imagens da organização: edição executiva/Gareth Morgan; tradução Geni G. Goldschmidt. - 2. ed. - 4a reimpressão - São Paulo : Atlas, 2002.

Silva, José Maria da. Apresentação de trabalhos acadêmicos: normas e técnicas/José  Maria da Silva , Emerson Sena da Silveira. 5. Ed. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2009

Jacobsen, Alessandra de Linhares Teorias da administração II / Alessandra de Linhares Jacobsen, Luís Moretto Neto. – 2. ed. reimp. – Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC, 2012. 168 p. : il.

Sanson, João RogérioTeoria das finanças públicas / João Rogério Sanson. – Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2011.
132p. : il.


TREVISAN, Andrei Pittol; BELLEN, Hans Michael vanRevista de Administração Pública. Rio de Janeiro 42 (3): 529-50, maio/jun. 2008.

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