O professor Gareth Morgan durante seus
estudos acerca das organizações conseguiu definir essas entidades e seu
funcionamento sob a ótica de oito metáforas. No livro “Imagens da Organização”,
Morgan fala de forma objetiva sobre o funcionamento das empresas comparando-as
com máquinas, organismos, cérebros, cultura, sistemas políticos, fluxo e
transformação. É difícil descartar uma ou outra ideia do autor. Todas são boas,
reais e às vezes juntas dentro de um órgão. Contudo, nesse texto, se escolherá uma
como modelo mais ideal e outra como problema para as empresas.
Metáfora é uma espécie de comparação
marcada por um verbo de ligação. É quando uma pessoa lança mão das
características de um ser ou objeto e as coloca em outro. Um exemplo clássico:
João é um leão. Significa que este homem é forte, ou valente. É essa figura de
linguagem que Morgan usa para descrever as organizações humanas. Mas, assim
como a comparação com o leão deixa brechas, (alguém pode usar mais atribuições
do bicho com o homem) o autor esclarece que com o seu estudo também pode
ocorrer o mesmo.
É perceptível que o estudo de Morgan segue
uma gradação histórica (Pelo menos em dois momentos). A administração clássica
e científica é o ápice da metáfora das máquinas; seguida, pelo surgimento das
entidades como organismos e as posteriores. As duas primeiras têm um
contraponto interessante e é por isso que esse artigo é uma análise minuciosa
delas.
Ver as organizações como organismos vivos,
seja sob o aspecto de um ser uno e complexo – suas células, seus órgãos – ou,
como seres vivos num ambiente, é muito interessante. Nessa análise o homem é
visto como uma parte que é boa para o todo – o homem é a célula ou órgão
(parte) e a empresa é o corpo (todo). É só a partir dessa visão que surge a
necessidade de um pensamento administrativo marcado pela necessidade do equilíbrio.
O lado ruim da proposta é visto sob o ponto de visto “ser vivo e ambiente”.
Nesse caso é levada em consideração a adaptação da empresa ao ambiente – seu
nascimento, sua vida ou sua extinção.
A metáfora das organizações como
organismos é a mais completa e menos agressiva das oito, de qualquer forma não
é humana. O homem como agente individual, capaz de fazer a diferença, não é levado
em consideração. Mesmo assim, o pensamento de Morgan é válido e representa um
rompimento da metáfora anterior – aquela que nesse artigo será analisada como a
mais agressiva e desumana de todas – a metáfora das organizações como máquinas.
Quem assistiu ao filme Tempos Modernos de
Charlie Chaplin lembra bem da cena do operário na fábrica apertando parafusos
que passam por uma esteira e rapidamente partem para outro empregado em outro
departamento. No término do expediente o homem fica louco e sai apertando tudo
que ver. Também é memorável a cena do operário tendo seu almoço regulado por
uma máquina. A proposta é que ele termine logo o seu descanso e volte à
produção. O homem sendo regulado por uma rotina; o trabalho repetitivo e
eficiente; as máquinas no dia a dia. Essa é a desumanização do homem e
nascimento do homem máquina.
A metáfora das organizações como máquinas
tem seu ápice nos séculos XIX e XX, logo após a revolução industrial. O desejo
dos pensadores administrativos da época é transformar o ser humano em parte do
maquinário – uma simples engrenagem. A ideia é que para um trabalho rotineiro
não haveria necessidade de pensar – só o fazer. Esse desejo de uma época vai
perdurar até os dias de hoje: muitas empresas, públicas e privadas, privilegiam
o horário, a rotina – uma peça de carne que faz o todo funcionar e que pode ser
facilmente substituída.
O homem como máquina é o pensamento mais
forte dos oito, e o mais fácil de ser compreendido. De qualquer forma é o mais
maldoso e por isso o mais criticado. A humanidade já caminhou muito para evitar
a desumanização, mesmo assim, a prática de tornar o empregado em só mais uma ferramenta
do todo é a regra. Mas, como qualquer outra metáfora - que é um leque aberto
para as comparações - a falha dessa é justamente não considerar o desejo dos
homens em não se deixar aprisionar.
Para o futuro administrador é fundamental
a leitura do Livro “Imagens da Organização” de Gareth Morgan. Entender como os
homens produzem, e com eficiência, é o dilema de todos os gestores de todos os
tempos, e a obra traz um perfil detalhado das organizações sob um ponto de
vista comparativo muito bom. Atenção especial deve ser dada aos momentos
históricos em que grandes pensadores tentaram produzir um homem fácil de ser controlado e substituído, e
o rompimento desses instante com as revoluções que viam o homem como organismo
vivo.
REFERÊNCIAS
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trabalhos acadêmicos: normas e técnicas/José Maria da Silva , Emerson Sena da Silveira. 5.
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TREVISAN, Andrei Pittol; BELLEN, Hans Michael van. Revista
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