O dia das perguntas bestas
Estava
cansado daquela sala de aula. Não aprendia nada porque todos conversavam muito.
Eu tinha vindo de uma escola particular boa. Já fazia dias que por uma dificuldade
financeira acabei aqui. Os alunos eram muito eufóricos. Mas, naquele dia havia algo
novo no ar. Eles estavam silenciosos.
Há um
diferencial desta escola para a outra. Na outra, eram comum perguntas que
faziam os professores se rebolarem para respondê-las. O professor retorcia o rosto e os colegas
arregalavam os olhos. A atenção era total. Todos sabiam que uma explicação
seria o diferencial na prova e na vida.
Aqui é horrível.
Só que naquele dia todos estavam atentos. Para completar o dia maravilhoso só
faltavam as velhas perguntas da outra escola.
Foi então
que o silêncio foi interrompido.
-Professor,
professor...?
Era o Paulo
- o baixinho. Um pouco inteligente. Muito atentado, mas um pouco inteligente.
Pensei: “finalmente o silêncio seria rompido por uma pergunta que ao ser
repondida melhoria nossas vidas”.
-Professor,
professor...? continuou o Paulo.
O professor
olhou e o menino perguntou:
- Posso ir
ao banheiro?
O menino saiu.
O silêncio continuou. O professor começou a escrever o assunto no quadro. O
silêncio foi rompido de novo.
-Professor,
professor...?
De costas o
mestre copiava.
-Professor,
professor...?
Era a
Andreia, a menina era a mais preguiçosa, mas parecia querer saber algo.
-Professor,
professor...?
Ele olhou e a
menina perguntou:
...É pra
copiar?
O professor
ficou com cara de poucos amigos e pediu para que todos fizessem o exercício da
página seguinte.
-Professor,
professor...?
Dessa vez a
Joyce. Estava muito agressiva. Agora sim, da Joyce sairia algo que valesse o
dia.
-Professor,
professor...? quantas linhas é pra saltar?
O sinal toca.
Era o fim de mais um dia de sofrimento. Todos correm feitos loucos. Na saída da
escola eu encontrei um senhor que juntava latinhas. Estava sujo, talvez nunca
tivesse cortado o cabelo nem tirado a
barba.
-Menino...falou o homem.
-Eu estudei
aí. Gostava muito das conversas na aula; não dava muita atenção aos
professores. Eu estou vivo.
Disponível em
<http://isaacsabino.blogspot.com.br/2014/09/o-dia-das-perguntas-bestas.html>
acesso em 14 de setembro 2014
1.
(2016)
Analise as informações e marque a CORRETA:
(a)
As
perguntas da nova escola eram interessantes.
(b)
Na
outra escola as perguntas eram inteligentes.
(c)
Os
alunos da nova escola não eram muito eufóricos.
(d)
O
narrador não está cansado da nova escola.
(e)
O
homem descrito no término do texto gostava de estudar.
2.
(2017) No texto, por eufóricos entende-se
(a)
animados
(b) discretos (c) cordatos
(d) reservados (e) circuspectos
3. 159
(CÂM.MUN.RIO Renato Aquino b2014) Assinale a classe da palavra destacada nas
frases a seguir, corretamente classificada:
a) Não há
receitas magicas que respondam...(1.31) – conjunção
b) ...para
resolver tais questões. (1.32) – pronome demonstrativo
c) Há que se alargar os
horizontes...(141 – pronome relativo
d) ...como meio de ascensão social (1.43) –
numeral fracionário
e) ...do consumo
mais elitizado. (1.44) –
pronome indefinido
Desmundo, linguagem, Consciência. Uma crítica
De novo a questão da
construção do ser - do “eu”. E a bola da vez é a linguagem - também dilema antigo
entre os homens. O filme da hora é “Desmundo” de Alan Fresnot, 2003.
“Desmundo” é um daqueles enredos bem simples e
que hipnotiza do adolescente mais imperativo ao adulto crítico. A obra retrata
a condição da mulher, mas há outro monte de temas interessantes: a questão do
índio; o poder e declínio do Reino e da igreja. Contudo esse texto aqui se
limitará ao “eu” e a variação linguística histórica.
Ao deslocar uma pessoa no tempo e no espaço,
muito daquilo que ela acredita como verdade se desfaz. Acontece até mesmo com a
língua (sem as legendas “Desmundo” não é compreensível). Então!? A língua não é
legítima? – É o dilema. O debate é antigo e já opinaram personalidades como
Aristóteles, empiristas e intelectualistas.
A bem da verdade é que a construção “dum ser”
dentro “dum corpo” passa também pelo implante de uma língua. É através desta
que a comunidade vai ser controlada com as narrativas míticas; o que pode e não
pode ser pronunciado. “Desmundo” é só a prova de que como qualquer construção
humana, a linguagem se desfaz e muda radicalmente no tempo e no especo.
Disponível em
<http://isaacsabino.blogspot.com.br/2014/10/desmundo-linguagem-consciencia-uma.html>
acesso em 21 junho 2015
5.
(Modelo
SAEB) Analise as informações e marque a CORRETA:
(a)
A
obra não retrata a condição da mulher e índio do Brasil de 1570.
(b)
A
língua não varia nem em tempo, nem em espaço.
(c)
Construir
um ser consciente é implantar-lhe uma língua, também.
(d)
Em
Desmundo não é perceptível variação linguística histórica.
(e)
Desmundo
é uma visão romântica da mulher de 1570.