terça-feira, 18 de outubro de 2022

Reportagem - Informativo Jovem 01/2022

 https://drive.google.com/file/d/135DQYavj1Ujhpom6qmYfRK0SXyd6Tju9/view?usp=sharing


CLIQUE NO LINK ACIMA PARA RESPONDER AS QEUSTÕES ABAIXO



1º As reportagens do link do jornal acima fazem menção em sua maior parte:


(A) A culminância do Livro Lido com as Eletivas de Base;


(B) Do futebol e do desfile realizado no 7 de setembro;



Como silenciamos o estupro

Todo mundo concorda que estupro é um dos piores crimes que existem. Ainda assim,

99% dos agressores sexuais estão soltos ― e eles não são quem você imagina.

Culpa de uma tradição milenar: o nosso hábito de abafar a violência sexual a qualquer custo.

Entenda aqui por que é tão difícil falar de estupro.

Por Karin Hueck


Luci era uma donzela de 13 anos que, no século X, vivia em um importante vilarejo com seus pais. Certo dia de verão, ela saiu para ir à feira com uma amiga quando sentiu uma vontade enorme de ir ao banheiro. Sem ter aonde ir, entrou no primeiro casebre do caminho e resolveu fazer xixi por lá mesmo. Foi quando um homem de 35 anos a encontrou e decidiu que a tomaria à força. O rapaz a prendeu dentro da cabana e a violentou: foi tanta brutalidade que Luci ficou toda ensanguentada e com as vestes rasgadas. Quando a menina chegou em casa, seu pai se encheu de desgosto

– não podia acreditar que a filha não era mais virgem.

Ainda assim, a família decidiu buscar justiça e foi falar com o mandatário local para mandar prender o criminoso. O oficial logo encontrou o acusado, que, depois de muito tempo, acabou confessando o crime. Assim, de acordo com a lei da época, o oficial apresentou duas opções para a família: ou o homem ia preso ou assumia a menina e se casava com Luci para resgatar sua “honra”. Como o pai da menina não queria mais saber daquela filha impura, mandou ela se casar com seu estuprador. Foi o que aconteceu. No dia seguinte, Luci se mudou para a cabana onde foi violentada, onde passou 11 anos ao lado de seu monstruoso marido. Ele a engravidou por cinco vezes e bateu nela todos os dias enquanto permaneceram casados. A história seria apenas mais um terrível conto medieval, se eu não tivesse esquecido um “X” na data lá em cima. O caso de Luci não aconteceu no século X, mas no século XX – em 198, para ser exato. O importante vilarejo era a cidade de Guarulhos, em São Paulo, e Luci é Lucineide Souza Santos, uma cabeleireira de 46 anos que, hoje, está separada de seu estuprador. (E, se você ficou na dúvida: sim, até  existia na lei brasileira a possibilidade de o estuprador não cumprir pena caso ele se casasse com sua vítima.)

Segundo o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, todos os anos cerca de 5 mil pessoas são estupradas no Brasil. Esses são os números oficiais, obtidos a partir da papelada formal. Mas eles não correspondem à realidade. O estupro é um dos crimes mais subnotificados que existem e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada estima que os dados oficiais representem apenas 1% dos casos ocorridos. Ou seja, o verdadeiro número de pessoas estupradas todos os anos no Brasil é mais de meio milhão. Nos EUA, onde existem dados longitudinais, de acordo Patrick Foto/ Shutterstock 247 PRODUÇÃO DE TEXTO Parnasianismo. O advérbio. A reportagem CAPÍTULO 3 com o Center for Disease Control and Prevention, uma em cinco mulheres vai ser estuprada ao longo da vida. Os casos registrados são baixos porque existe um comportamento persistente que cerca o estupro: o silêncio. Vítimas não denunciam seus agressores, policiais não investigam as acusações, famílias ignoram os pedidos de ajuda, instituições não entregam seus criminosos – esses mecanismos invisíveis fazem com que 9% da violência sexual jamais seja conhecida por ninguém. E isso, sim, é um crime ainda maior do que a soma de cada caso. Apesar de entendermos o estupro como um dos piores crimes que podem acontecer a alguém – segundo pesquisas sobre percepção de crueldade, ele só perde para o assassinato –, somos estranhamente incrédulos para acreditar que ele realmente acontece. O estupro é o único crime no qual a vítima é julgada junto com o criminoso. Imagine que roubaram o seu celular e você decide fazer um B.O. Agora imagine que o delegado que pegou o seu caso resolve perguntar onde você foi assaltado, que horas eram e se você era conhecido por trocar de aparelho o tempo todo. Depois ele pergunta se você tem certeza de que o assalto realmente aconteceu ou se você não deu o celular ao bandido por vontade própria. Se você então explica que o roubo foi de madrugada e depois de você ter tomado umas cervejas,o delegado decide – por conta própria – que não houve crime algum: você estava na rua e bêbado, quem pode garantir que você está falando a verdade? Ou então, pior, quem disse que você não queria ter sido assaltado? Isso acontece com quem foi estuprado o tempo todo. Mulheres relatam como são recebidas com desconfiança quando resolvem contar suas histórias para alguém. Pessoas perguntam que roupa ela vestia, onde ela estava, que horas eram, se estava bêbada, se já não havia ficado com o estuprador alguma vez, se deu a entender que queria fazer sexo e até se já teve muitos namorados antes. E essas perguntas podem vir de qualquer um. Foi o que aconteceu com a menina Maria, por exemplo, estuprada pelo avô aos 14 anos. Quando ela resolveu pedir ajuda à avó, ouviu que a culpa havia sido dela. “Você saiu do banho de toalha na frente do seu avô, que não sabe controlar os instintos.” O avô seguiu normalmente a vida, e Maria viveu com a culpa de quase ter desestruturado toda a sua família, como insinuou a avó. Comentários assim surgem de amigos, familiares, policiais, médicos, advogados – e até de juízes. Todas as instâncias trabalham para abafar o crime e jogar o assunto para baixo do tapete. Todas mesmo.

[…]

Perguntar ofende Não é fácil denunciar um estupro. É preciso ir à delegacia e prestar depoimento para funcionários que nem sempre sabem lidar com vítimas de violência sexual (não há nenhum tipo de treinamento especial para isso aqui no Brasil) e que podem, sim, fazer as perguntas e insinuações que nosso delegado fictício lá atrás fez. Se quiser que o caso tenha continuidade no processo jurídico, a vítima terá de ir ao IML fazer o exame médico (consultas feitas em postos de saúde ou médicos particulares não têm validade legal). O exame é constrangedor: o médico legista examina o corpo inteiro da mulher em busca de fibras ou pelos que possam incriminar alguém, além de vasculhar vagina, ânus e períneo por sinais de laceração, feridas ou esperma. A mulheré apalpada, penetrada por

instrumentos e interrogada sobre

detalhes do crime, apenas

horas depois do ocorrido. Em seguida, a agredida terá de torcer para que seu caso seja encaminhado para os tribunais:

quem decide isso são promotores e juízes, e a maioria deles prefere dar continuidade apenas aos casos que têm  maior chance de serem provadosnas cortes. Isso quer dizer que, se não houver sinais de esperma, ou se a vítima não tiver sido ameaçada por arma de fogo ou se ela não apresentar machucados porque preferiu ficar imóvel e não apanhar do estuprador, as provas ficam mais frágeis. Quem poderá garantir que a relação foi diante de ameaça, afinal? Se a mulher conhecer o criminoso, então, as Entre universit‡rios

• 4% dos rapazes admitem que já obrigaram alguém a fazer sexocom eles.

• Desses, 63% já fizeram isso com mais de uma mulher (a média é seis vítimas) 

• 83% deles têm o hábito de embebedar as meninas antes do sexo. • 92% conheciam as moças que estupraram.

248 UNIDADE 3 EM BUSCA DA VERDADE

chances de seu caso ser levado à frente caem drasticamente.

Primeiro, pelo medo de retaliação:

muitas preferem nem fazer a queixa para não serem perseguidas pelos seus agressores. E, segundo, porque é quase impossível provar se houve ou não consentimento. Se a vítima chegar à delegacia dizendo que foi estuprada por um namorado, marido, ficante ou amigo, é quase certeiro que seu caso não vá para frente. Mesmo se for parar no tribunal. a acusação corre o risco de se voltar contra a mulher, como já vimos. “Os advogados podem usar qualquer tipo de argumento para invalidar a vítima. Geralmente são argumentos moralistas – e que funcionam”, diz Ana Paula Meirelles Lewin, coordenadora do Núcleo de Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Não é à toa, então, que 9% das mulheres

desistam de denunciar o crime:

sabe-se lá o que advogados e procuradores vão inventar sobre ela. O estupro acaba silenciado pela vergonha, uma arma eficientíssima. E vergonha é a palavra-chave nesses casos. “O estupro é um crime extremamente íntimo, uma violação profunda, como pouquíssimas outras coisas são. Se as pessoasque lidam com esses casos

– médicos, advogados, policiais

– não tiverem respeito por essa violação, elas não vão conseguir ajudar as mulheres”, diz o médico Jefferson Drezett, que atende vítimas de violência sexual nohospital Pérola Byington, emSão Paulo.

[…]

(Superinteressante, nº 349, p. 32-41. Abril Comunicações S.A.) B.O.: Abreviatura de boletim de ocorrência, documento em que um escrivão de uma delegacia policial registra a ocorrência de um crime ou queixa.


2º Em relação à reportagem lida, responda: Qual é o tema central?


(A) O tema central é a falta de rigor com que as autoridades e as pessoas em geral lidam com denúncias de estupro.


(B) O tema central é o rigor com que as autoridades e as pessoas em geral lidam com denúncias de estupro.


3º. Nas reportagens, é comum haver dados numéricos e estatísticos, como meio de fundamentar cientificamente as informações. De acordo com a reportagem lida: Quantos são provavelmente os casos reais de estupro no Brasil por ano?


(A) Cerca de 100 mil casos, segundo levantamento do IPEA.


(B) Cerca de 500 mil casos, segundo levantamento do IPEA.


4ª Muitas vezes o estupro é associado a fatores como nível social e grau de escolaridade dos estupradores, ou se pensa que o estuprador é sempre um estranho. Esses dados são confirmados pelos dados estatísticos apresentados no texto?



(A) Não; o texto apresenta dados impressionantes de estupros ocorridos no meio universitário, em que o nível social e o grau de escolaridade geralmente são altos; além disso, segundo o texto, “92% dos universitários conheciam as moças que estupraram”.


(B) Sim; o texto apresenta dados impressionantes de estupros ocorridos no meio universitário, em que o nível social e o grau de escolaridade geralmente são baixos; além disso, segundo o texto, “92% dos universitários conheciam as moças que estupraram”.


Link do Gabarito

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfrRC3n2O7fSlJtK1SuyiQg8Hxn-7DnzEKJygIMhOqhwdDH-g/viewform?usp=sf_link



É chegado ao ponto onde a humanidade cultua mais à imagem até do que a saúde

     Para os jovens, poucas espinhas e magreza; para os homens adultos, bastantes cabelos e sem barriga; para as mulheres adultas a juventude sempre. Sem essas exigências cumpridas nos tempos modernos, o ser humano pode ficar à margem da sociedade e, portanto, distante da felicidade. O problema é que todas essas posturas têm efeitos colaterais e o culto à imagem torna-se muito arriscado à saúde.
     Pode procurar nas salas de aulas, aqueles que têm o rosto com acnes são os mais tímidos e os que mais sofrem “bullying”. E as portas do mercado são um pouco mais fechadas para homens carecas e barrigudos. O mesmo acontece com a mulher que ousa envelhecer – a sociedade sempre a coloca de lado. A iniciativa privada e a clientela em geral prima por ser servida por perfis belos – e por belo entende-se pele limpa, cabelo, magreza e juventude.
     O indivíduo que não se deixa escravizar pelos padrões de beleza impostos nos tempos atuais corre o risco de ser marginalizado. O emprego, a convivência social, a “felicidade”, estão intimamente ligadas ao quanto de remédios com efeitos colaterais se suporta tomar; ao quanto de alimentos se nega a comer; ao quanto de dor se suporta sentir para se manter com aparência juvenil. 
     Ressecamentos dos lábios, sangramento nas narinas, fome, fraqueza, impotência, depressão e dores são os efeitos adversos de remédios para espinhas como roacutan, ou para queda de cabelos como finasterida e de dietas mirabolantes para se manter magro, sem falar nos diversos produtos de uso externo danosos a pele. Efeito colateral quando o culto à imagem só cobra isso, porque há casos de morte mesmo.   
    A verdade é que a humanidade chegou sim ao ponto onde o culto à imagem acaba sendo prioritário em detrimento à própria saúde. É o costume da época, e afastar-se dele implica arcar com consequências que vão do lazer ao emprego. A felicidade dos tempos modernos está ligada ao quanto o individuo se dispõe a se sacrificar para ser belo. Mudar toda essa cultura leva tempo e demanda o envolvimento da família, da escola, da mídia e outros entes.
    





REFERÊNCIAS



Morgan, Gareth, 1943 - Imagens da organização: edição executiva/Gareth Morgan; tradução Geni G. Goldschmidt. - 2. ed. - 4a reimpressão - São Paulo : Atlas, 2002.

Silva, José Maria da. Apresentação de trabalhos acadêmicos: normas e técnicas/José  Maria da Silva , Emerson Sena da Silveira. 5. Ed. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2009

Pinheiro, Ivan Antônio Negociação e arbitragem / Ivan Antônio Pinheiro. – Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2012.
         82p. : il.






quinta-feira, 13 de outubro de 2022

UM ESTUDO DE CASO ACERCA DE UMA TURMA DO ENSINO MÉDIO INDISCIPLINADA: O RESULTADO DO CENTRALISMO ESTATAL[1]


UM ESTUDO DE CASO ACERCA DE UM PROFESSOR FILÓSOFO NUMA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO, EM ESPECIAL, NUMA TURMA INDISCIPLINADA: O RESULTADO DO CENTRALISMO ESTATAL[1]

Isaac Sabino Cardoso[2]
          

                 Tornar o ensino de Filosofia o mais rentável e eficaz possível, como princípio de vida, implica enfrentar, para além das dificuldades do dia a dia no ambiente escolar, os constantes movimentos políticos contra a disciplina. Dito isso, uma das saídas é a constatação da necessidade de profissionalização - com notório saber do professor que pretende lecionar nessa disciplina. Conhecer bem a tradição literária com seus clássicos filosóficos - com suas diversas vertentes do estudo da “verdade” - é de suma importância. 

                     O problema desse espaço é que ele está ocupado por professores de Artes, História, Língua Portuguesa, Matemática e outros. Pode-se até dizer que a ideia, ao lotar docentes, seja justificada por alguns conhecimentos particulares existentes em cada área citada, ou mais, na tomada de gosto pelo ato de filosofar de forma mais didática e metodológica, pode-se atrair esses indivíduos de outras matérias para uma graduação na própria Filosofia, contudo, esse argumento foca mais no docente e incorre no risco de criar uma repulsa dos alunos pelo conhecimento filosófico. Dito isso, relatar-se-á uma narrativa ensaística de experiência vivida como professor de filosofia e sobre o ensino dessa matéria:

                Para além da minha graduação em Filosofia, outra em Literatura, onde, ainda no meu processo de amadurecimento, tenho percebido que possuo fortes influências de Parmênides, Platão, Jesus Cristo, Santo Agostinho, São Tomás de Quino e Descartes. Flertei com o marxismo em certo período da minha vida - período em que, justamente, eu só possuía a formação em Letras Português e que, pelo meu espírito questionador, como forma de punição, as direções só me davam componentes alheios a minha formação - como a própria Filosofia: a minha frustração, nesse sentido foi a leiguicidade na área e tentar convencer, através do livro didático de Marilena Chauí que o melhor caminho político era a comunhão marxista entre os indivíduos; de Paulo Freire eu incentivei a quebra da hierarquia. A frustração veio com vários efeitos colaterais nas minhas turmas - interpretações errôneas por parte dos alunos: a principal delas foi a quebra da hierarquia com uma indisciplina quase incontrolável. Pelo analfabetismo funcional do brasileiro eu não deveria ter mexido nessa temática.

               Nisso, a minha maior hesitação tem sido com relação ao ensino e todas essas novas pedagogias que com frequência vêm alterando a legislação e colocadas em prática no chão da escola com danos irreversíveis aos alunos e professores - isso tanto fisicamente quanto psicologicamente. Por conta disso, tenho estudado muito uma espécie de conservadorismo reformador e me afastado de ideias que querem mudar revolucionariamente o ensino. Contudo ainda está no dilema se eu sou uma consciência progressista ou conservadora. Ainda não tenho pesquisas suficientes para me firmar, porém, tenho visto que um progressismo dentro da escola não tem dado certo.

                    O meu tabu mor é tentar, na minha escola, reformar o método tradicional de ensino e não revolucionar - é o meu drama e minha preocupação. A minha vida, principalmente depois da graduação em Filosofia é pensar o ensino das minhas disciplinas sem ser opressor, mas fazendo com que o aluno goste do ato de conhecer, aprenda a protestar de forma argumentativa através do desejo de debater e seja consciente do que é o seu "eu" com suas ações. O processo, nessa minha nova fase, tem sido mais difícil do que quando eu era um marxista leigo, pois há um processo de ecletismo funcional tanto por parte dos alunos quanto dos colegas professores. Mesmo assim, o Professor Filósofo sabe fazer protestos que mudam a realidade. Embora no meu caso eu já tenha sido denunciado várias vezes na ouvidoria de meus respectivos cargos, mas, como também sou estudante de Direito sei os meus limites e tenho conseguido arquivar todos os processos. Vejamos um caso concreto de um dos meus desafios e um de meus manifestos:

                Primeiramente, há várias formas de se manifestar a respeito de algo no que toca à escola pública: por grita ou silêncio com gestos. Os dois jeitos têm efeitos colaterais danosos ao manifestante. Este relato de experiência vivida, trata, justamente, de um protesto silencioso que eu fiz durante alguns anos numa pequena escola do interior X que nos meus pensamentos eu chamava de "manifesto do monopólio do Data show".

     A escola só tinha um aparelho para atender todas as salas dos três turnos, o que ara errado. Fosse pelo menos três ainda era errado. Nenhum professor reclamava. Tinha um negócio de um agendar a máquina e todos achavam aquilo absolutamente normal.

      Discordando totalmente daquele negócio de agendar e pensando (ninguém conseguia me convencer do contrário) eu resolvi monopolizar aquele negócio no intuito de criar um distúrbio em algo que todo mundo achava normal.

      Na minha cabeça a escola tinha que se mexer para me dar condições de trabalho de forma que eu não precisasse me explicar toda vez, para todo mundo, quando fosse usar o Data show (interessante que quem sempre inova nas aulas é que tem que se explicar aos colegas porque está inovando. Quem vive do giz ou só do pincel vive uma vida tranquila).

       A partir do primeiro dia de manifesto eu comecei a chegar cedo e levar o bicho para sala. Sempre calado e como um doido. O que eu imaginei deu certo. Eu acredito que quando se quer mexer com a coisa, tem-se que fazer com que haja um certo conflito dentro dela. Conflito é sinal de reflexão na certa, contudo, eu também sabia que eu sairia como vilão naquela empreitada.

     Num dia desses, um colega professor chegou para mim e disse que não fazia sentido eu ser dono do Data show e que escola nenhuma conseguiria ter dinheiro para fornecer um aparelho para cada sala, e que várias vezes ele teve vontade de usar o projetor e ele estava ocupado por uma única pessoa, e que eu queria só ser, e que... e que... Depois de tantos “e quês” eu o interrompi e o perguntei se a revolta dele não deveria ser colocada era para a direção... ou ele optara por mim por ser a parte mais fraca na história. O próprio vigia da escola me agrediu verbal. Isso porque eu também comecei a deixar o aparelho na sala. De novo eu disse para ele também que ele não tinha obrigação de pegar o objeto e guardá-lo, a direção era quem deveria providenciar tecnologia fixa nas salas.

      No fim do ano a direção do colégio me chamou e disse que soubera do conflito e para que um momento daqueles não acontecesse mais, eles estavam providenciando uma televisão para cada sala de aula.


      Noutra vez, no ano 2019 na da escola “X”, na turma do 2º “Y” noturno da unidade escolar que no início do ano letivo contava com 45 alunos matriculados e com 42 ao término do ano letivo, percebeu-se que no fim do ano houve uma evasão muito pequena, isso porque, muito provável, a fuga não seja maior, porque a escola é a única forma de lazer de toda a cidade. Significa dizer que a maioria dos alunos não vai ao colégio com o objetivo principal de estudar. A prova disso são as faltas discentes, tirando os vários dias que o ônibus que transporta os alunos falha, é raro algum aluno da turma faltar, o que, num olhar superficial em outras realidades é comum um ou outro aluno se ausentar, por conta do trabalho ou até mesmo de uma festa na cidade, já na escola “X” não acontece, haja vista o município ser deficiente de trabalho e lazer, contudo, estando os meninos na sala, o controle de turma é difícil.
            O 2º ano “Y” possuía em sua maioria alunos carentes da zona rural onde os familiares "vivem" da bolsa família, um auxílio do governo federal que dificilmente passa de um quarto do salário-mínimo. Ainda há uma quantidade de alunos que sobrevivem por conta da aposentadoria de algum idoso na família. Uma grande parcela trabalha na lavoura e na pesca e quase todos já são maiores de idade.
                 É perceptível a ausência de modos simples que representam uma boa educação caseira e cotidiana por parte dos meninos. É comum eles saírem em plena aula sem pedirem licença, ficarem no celular o horário inteiro, falarem uns com os outros durante a aula no mesmo tom de voz com que o professor explica a matéria, assim como a prática de algumas brincadeiras como soltar “pum” na sala provocando um alvoroço na turma, sem falar dos constantes casos de bullying. Várias vezes a coordenação pedagógica se dirigiu a sala para reclamar com alunos que estavam pulando o muro. 
                    As saídas para cada problema citado, para além da tentativa de resolvê-los, buscou-se incentivar a solidariedade entre eles e criar um vínculo de amizade com o professor: primeiro, tiramos um horário para organizarmos uma pequena partida de futebol, para tanto a recompensa seria também os bons modos. Para a utilidade do celular, organizou-se a atividade do livro no google forms e com pequenas vídeos aulas gravadas antes para pesquisa e resolução das respostas no momento do horário. Para o combate ao bullying foram passados filmes como A Lista de Schindler e explicado no que culmina os desrespeitos a diversidade. Durante todo o ano letivo, por conta do barulho, não foi possível se ter proveito em alguma aula. (Risos) O efeito colateral do futebol foi que alguns não queriam mais assistir as aulas conteudista - pediam todas as vezes para irmos ao jogo; a intenção de criar laços se tornou um conflito sempre que era necessário convencê-los das aulas a partir do livro didático; Sobre a atividade no google forms, eu fui denunciado na ouvidoria com a alegação de que eu tinha nojo dos alunos e só trabalhava pelo celular. Na minha defesa eu consegui arquivar o processo. Para o combate ao bullying, os alunos demonstraram não ter o hábito de assistir filme nenhum.
               Em meados do ano, em uma reunião pedagógica, a direção foi comunicada dos problemas da sala e, por conta do encerramento de uma turma de Educação de Jovens e Adultos, viu-se uma oportunidade de mexer naquele ambiente. Um professor disse que no ano anterior, quando aqueles meninos estavam no primeiro ano no matutino, teve problemas na mesma turma com ameaças até de uso de facão por parte de um aluno. Para além da indisciplina, foi comunicado que os problemas da turma adivinham da superlotação, que, por conta das carteiras serem com mesas, havia mais a sensação de sala cheia. Também foi observado a estatura daqueles jovens. Todos bem altos. A sala, também, por ser forrada com alvenaria, produzia um efeito estufa com um calor insuportável e mesmo ligando os ventiladores, o alunado continuava a se abanar com seus cadernos. Falado de climatização, suspensão, mudanças de meninos de salas ou divisão da turma em duas, o núcleo diretor alegou que não tinha autonomia para tomar nenhuma decisão dentro do ano letivo. Em algum momento ficou perceptível ironia na fala da coordenação, no caso da estatura dos meninos. Foi alegado ainda que em cidades maiores haveria alunos mais indisciplinados.
             Começado o segundo semestre, a turma continuou lotada e a indisciplina provocava angústia em todos os professores que reclamavam no mensageiro do grupo da escola. Em novembro, logo após quinze dias de evento promovidos pelo núcleo diretor, os alunos exigiram dos professores a nota máxima por conta de terem participado ativa e financeiramente das dinâmicas. Nesse momento alguns professores ficaram muito chateados e a exigência dos alunos quase culminou em agressão física. Finalmente o ano letivo terminou. Registrada mais uma reclamação no grupo da escola, a resposta da coordenação veio recheada de descrédito quanto ao comportamento da turma no corrente ano chegando a se dizer que não era assim no ano anterior embora já houvesse registro de ameaças com facão a um dos docentes. O que pareceu estranho, como se a coordenação estivesse esperando algo muito ruim para atestar os problemas daquela turma.
                     Por fim, o que resta de questionamento é que medidas serão tomadas para melhorar o trabalho dos professores no 2º “Y” que será 3º no ano vindouro? A saída já foi apresentada, mas não acatada: dividir a turma em duas e deixá-la, preferencialmente, no mesmo turno para que se tenha margem para deslocar-se aluno indisciplinado de uma sala para outra, por último, em caso de ausência de efeito, seguir os passos de suspensão proposto no regimento interno; Essa proposta não foi acatada, justamente, porque não houve conversas prévias com a comunidade escolar acerca da rotina escolar. A maior parte das decisões já veio da Secretaria de Educação.
O artigo 206, inciso VI, da Constituição Federal menciona as práticas democráticas na escola pública e a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 9394/96 amplia esse conceito, garantindo em seu artigo 14, I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto político-pedagógico (PPP) da escola e, para além dos profissonais, faz-se necessário convidar a família na tomada de decisão de tudo na escola, inclusive na formação de turmas, o que não acontece na instituição pesquisada, haja vista que mesmo diante de ameaças quase concretizadas em agressões físicas nos anos letivos de 2018 e 2019, o pedido de divisão da turma não é aceito, porque, segundo a direção, a escola não teria autonomia para isso, mesmo diante de várias provas de que a turma era diferenciada em vários aspectos como a idade discente e a origem dos alunos.
Fora as reuniões com os professores, em nenhum momento, o núcleo diretor sentou com, pelo menos, todas as representações da comunidade para ver, no mínimo, a formação de turmas de salas lotadas e com indicadores claros de indisciplina. Isso é um ato político que tornaria todos os agentes importantes no meio.
Na desobediência desse trecho da legislação que pede política, debate acerca da realidade da escola, perde-se uma excelente oportunidade de elaborar um rito que direciona todas as ações da escola. Não mobilizar de forma autônoma é arriscar numa escola sem rumos e que tem como certo o conflito. A saída para evitar coisa pior é política e, nesse caso específico, dividir turmas problemáticas pode evitar algo ruim. O que não acontece porque não se tem autonomia é muito menos descentralização naquele órgão.
Dias (2003, p. 1) em ato contínuo, corrobora da ideia de Aristóteles, em sua citação e em seguida tece seus comentários.
Segundo Aristóteles, “o homem é um ser político”, portanto, todas as suas ações se dão de forma intencional e nas relações sociais. A educação sendo uma construção humana e ocorrendo nas relações sociais de forma intencional, passa a ser um ato político”.
                   O que se percebe dentro das escolas que deixam de fazer política são alunos e famílias distantes. Nem os jovens, nem os familiares, se sentem atores na escola. O que se tem, numa rápida visão de tal ambiente, são regras prontas, muitas vezes feitas pela Secretaria de Educação, e discentes com seus responsáveis que chegam e têm que obedecê-las.  Neste sentido não há política, não há diálogo e por isso, não há o debate.  É por isso que esses corpos estranhos e seus responsáveis não sentem apreço nenhum pelo ambiente escolar.  Por essas características não é difícil encontrar escolas com paredes riscadas, xixi fora dos vasos, muito lixo em todas as partes da escola e indisciplina que é o que vem acontecendo na turma ”Y”.  
                   O artigo 14 é mais “político” ainda e subentende-se dele a necessidade do incentivar, por parte dos sistemas de ensino, a entrega da gestão da escola a comunidade escolar de forma a incrementar na instituição órgãos que efetivem a democracia. Segundo Lück (2013)
essa iniciativa é a superação do modelo estático [...] que desconsidera a necessidade de criatividade, iniciativa e discernimento em relação a dinâmicas interpessoais e sociais [...] que entende a escola como do governo e não da sociedade.
                   Esses dois artigos podem facilmente serem resumidos pela necessidade de “descentralização” e “Gestão Democrática” que a mais de duas décadas têm despertados uma nova perspectiva no mundo escolar, embora seja claro que esse período ainda seja embrionário haja vista perdurar características viciosas do centralismo, do não querer fazer política.
                   Descentralização”, “autonomia”, são nomes autoexplicativos. Por si só já trazem no seu bojo o seu significado. Mas, para quem tem dificuldade de saber se a sua escola os traz em sua rotina ou não, há uma palavra que é a prova dos nove, que é “identidade”. Uma escola descentralizada possui sua identidade própria, ela se difere das demais em tudo: no seu fazer pedagógico, com um jeito particular de promover suas avaliações, seus eventos culturais e o trato com seus servidores. A escola descentralizada não se parece com nenhuma outra. Cunha (1995) apud Heloísa Lück (2013) diz que
descentralização existe mesmo é no sistema americano de ensino, onde as famílias se sentem totalmente responsáveis pelas escolas, “... cada vila ou cidade constitui um sistema escolar inteiramente autônomo. O Estado apenas dá algumas diretrizes [...] ”
                   O que acontece com a escola estudada é o que o pessoal do Direito chama de “desconcentração” que é quando há a divisão dos respectivos órgãos central administrativo em escala hierárquica (Oliveira 2012). No caso da escola X, o órgão superior é a secretaria ou a regional. Para se ter uma ideia até o dia de prova, segundo os diretores, é uma normativa do Estado e sincronizado com todas as outras escolas. Com tais prática a escola perde sua identidade e se torna só mais uma de toda a região. A continuar dessa forma, sem autonomia, sem descentralização,  sem nenhuma tomada de atitude no sentido de diminuir os conflitos que já existem, no intervalo de bem pouco tempo, a Unidade colherá sua primeira agressão física grave. Não adianta um aluno reclamar de um colega que praticou bullying contra ele; não adianta o professor dizer que está sofrendo com as imoralidades da turma; não adianta alguém reclamar que algo está errado, pois todos são corpos estranhos e dificilmente a direção tomará alguma providência porque precisa consultar seu órgão superior e daqui que alguma decisão seja efetivada, o mal comportamento já terá vencido.
                    A saída pelo acompanhamento de turmas INDISCIPLINADAS com a proposta de DIVISÃO da sala, claro, depois de tudo bem debatido durante a confecção do Projeto Político Pedagógico é interessante de ser adotada. Isso porque essa decisão representa uma maior autonomia da própria escola na busca por organização no ambiente local e segurança para os que estão em seu convívio.
No caso dos três anos letivos do Ensino Médio, o ideal é que a sala seja acompanhada logo na entrada dessa modalidade. Nesse momento, a família é de suma importância numa conversa que deixe bem claro que práticas que fogem a moralidade serão punidas com passos a serem seguidos e devidamente registrados no regimento interno.
               Na verdade, a tomada de decisão - de separar e dividir turmas - é mais ampla do que qualquer outra, porque representa mais debate e conduz para uma maior autonomia da escola, inclui família e funcionários na escolha de uma rotina e intimida mais os conflitos que impedem a boa aula e até futuras agressões físicas, contudo, essa proposta não se encerra em si só, havendo a necessidade de promoção de mais pesquisas para confirmar se o projeto funciona ou não.


REFERÊNCIAS

Cardoso, Isaac Sabino Cardoso. O diretor ideal: uma conclusão a partir da gestão democrática do Projeto Político Pedagógico confeccionado e executado. / Isaac Sabino Cardoso. – Santa Quitéria, 2019.

Herrero. F. Javier. A Ética de Kant. Síntese. Belo Horizonte, v. 28, n. 90, 2001

Lück, Heloísa. Concepções e processos democráticos de gestão educacional/ Heloísa Lück. 9. Ed – Petrópolis, RJ : Vozes, 2013. Série: Cadernos de Gestão









[1] UM 2º ANO DO ENSINO MÉDIO INDISCIPLINADO: UMA TENTATIVA DE EVITAR O PIOR (2019) – Curso de Filosofia – UEMA/Uemanet.
[2]Isaac Sabino Cardoso Aluno (a) de Filosofia da UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO – UEMA.





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