Isaac Sabino CARDOSO1
Por
um bom tempo a escola de Frankfurt criou a teoria crítica para se posicionar
contrário ao racionalismo e ao positivismo. A ideia central é que o ”homem
comum” seja um crítico do sistema ao qual ele esteja inserido. De influência
marxista, esse movimento vai detectar na cultura, na igreja, e principalmente
na escola, aparelhos de controle ideológicos do Estado. E
durante um período a instituição escola teve em voga as palavras “senso crítico”
no seu meio, mas efeitos adversos aconteceram e a ciência positivista e tecnológica
tem dominado esse espaço nos últimos anos.
É bem no fim da década de 20 que inúmeros
filósofos e cientistas sociais se reúnem e fornam um movimento acadêmico que
ficaria conhecido como Escola de Frankfurt. Destaque para Theodor Adorno, Max
Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Leo Löwenthal, Erich Fronmm,
Jürgen Habermas. Esse movimento visava chamar a atenção para os perigos da
veneração de seus contemporâneos a razão, ao positivismo, ou seja, a ciência. A
formação foi acertada porque esse culto culminou com a segunda guerra mundial.
No intuito de que tal tragédia não se repetisse,
a filosofia dessa escola seria a chamada Teoria Crítica - que o homem fosse um
participante ativo na criticidade de sua própria realidade - do sistema a qual
ele esteja inserido e, para além da cultura, da igreja, um dos principais
lugares para se trabalhar esse novo indivíduo seria a escola.
Por beber na fonte do marxismo, esses
filósofos vão focar suas críticas na razão científica, mas como se ela fosse
uma nova entidade metafísica criada pela burguesia para continuar mantendo o
controle do “homem comum”. Então, a saída seria a criticidade ao sistema. E
quem vive na docência, já há algum tempo, ouviu falar muito de “senso crítico”,
principalmente na década de 90 e, claro, logo após a chegada da esquerda ao
poder em várias partes do mundo.
A ideia dos frankfutianos é boa –
a Teoria Crítica – o homem sendo crítico de sua condição, contudo, essa briga
entre positivistas e humanistas parece não ter fim e do lado dos teóricos da
criticidade alguns efeitos adversos são perceptíveis nos anos 2000. Primeiro: a
própria Teoria Crítica tem seu paradoxo que é o de que ela também será
criticada. Segundo, formar uma crítica bem fundamentada sobre qualquer assunto
pode levar anos e mais anos de estudos e o que aconteceu na escola, com culme
no fim da década de 80 e todo período de 90, foi a formação de toda uma geração
que quer criticar tudo sem base alguma. O que abriu espaço de novo para os
positivistas que exigem mais técnica e menos humanismo.
Na escola atual, o movimento da Teoria
Crítica vem perdendo forças porque, ao longo de anos de criticidade, algumas
instituições foram vistas como burguesas e postas em desconfiança, é o caso da
família, da autoridade docente e outras, o que, por não haver nada a se colocar
no lugar, tem se colhido como resultado muita indisciplina discente. Nisso, o que tem acontecido é uma virada que
traz de volta a Técnica, a ciência, como soluções a problemas que perduram
desde sempre.
Só para se ter uma ideia, Segundo Dalila
(2002) há um entendimento quase tácito entre os pesquisadores da área de que o
termo “gestão” é mais amplo e aberto que “administração”. Se gestão está mais
voltado para os frankfurtianos e administração está para os positivistas, esse
segundo movimento tem ganhado espaço no chão da escola.
Basta
ver que no uso do termo “administração” o diretor da escola é nomeado por
entidade mantenedora ou indicado por líder político local e está sempre
preocupado em organizar a burocracia do órgão com vistas a atender pedidos da
hierarquia superior. Nesse sentido a escola é percebida como uma realidade
objetiva, neutra e amplamente racional. Como o foco é o diretor e as
autoridades que centralizam o planejamento, há pouca participação de todos os
atores da realidade escolar. Isso é positivismo puro e tem acontecido com
frequência nos colégios atuais.
A criticidade colocada para jovens
provocou certa indisciplina. Entre os docentes até fez
avançar direitos, mas a Ciência, com sua buscca por resultados, vem impondo
nova rotina no ambiente escolar e
os diretores, coordenadores e
professores têm tido pouca margem de autonomia para discutir problemas de
sua realidade, tudo isso monitorado por
sistmas onlines que funcionam como
ferramentas tecnológicas de fiscalização
e controle.
A escola de Frankfurt deu uma imensa
contribuição ao ”ser” contemporâneo mostrando que nem tudo é ciência ou reside
no campo da exatidão, contudo, ao focar no âmbito escolar, esse movimento deu
voz a analfabetos funcionais e polarizou diversas discussões recheadas de pouco
entendimento literário, o que tem acontecido com frequência haja vista , agora,
cada ser humano querer ser crítico de seu espaço tornando quase impossível a
existência de uma realidade factual. Tudo isso tem aberto brechas para o uso de
tecnologias de controle dentro das escolas, cobranças por resultados matenáticos,
uma realidade neutra, racional e fria. É o positivismo em voga de novo. Só
falta mesmo a terceira guerra que se acontecer, a Teoria Crítica da escola de
Frankfurt terá falhado em suas ideias. Mas, enquanto essa guerra não acontece,
é um sinal de que criticar o sistema tem sido a solução, faltam só mais reflexões
para que seja freado esse movimento que tem tornado o espaço da escola frio tecnologicamente
e centralizado numa hierarquia vertical.
REFERÊNCIAS
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Sabino. Mudanças na organização e na gestão do trabalho
na escola e Concepções e processos democráticos de gestão educacional: o
problema da apropriação falsa dos nomes. Disponível
em <https://isaacsabino.blogspot.com/2018/01/mudancas-na-organizacao-e-na-gestao-do.html>. acesso em 22 de janeiro de 2020-01-22
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> acesso em 02 de
outubro de 2020