segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Da contribuição da Teoria Crítica criada pela Escola de Frankfurt para uma prática pedagógica emancipatória

 

 

Isaac Sabino CARDOSO1

 

                  Por um bom tempo a escola de Frankfurt criou a teoria crítica para se posicionar contrário ao racionalismo e ao positivismo. A ideia central é que o ”homem comum” seja um crítico do sistema ao qual ele esteja inserido. De influência marxista, esse movimento vai detectar na cultura, na igreja, e principalmente na escola, aparelhos de controle ideológicos do Estado. E durante um período a instituição escola teve em voga as palavras “senso crítico” no seu meio, mas efeitos adversos aconteceram e a ciência positivista e tecnológica tem dominado esse espaço nos últimos anos.

                 É bem no fim da década de 20 que inúmeros filósofos e cientistas sociais se reúnem e fornam um movimento acadêmico que ficaria conhecido como Escola de Frankfurt. Destaque para Theodor Adorno, Max Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Leo Löwenthal, Erich Fronmm, Jürgen Habermas. Esse movimento visava chamar a atenção para os perigos da veneração de seus contemporâneos a razão, ao positivismo, ou seja, a ciência. A formação foi acertada porque esse culto culminou com a segunda guerra mundial.

                 No intuito de que tal tragédia não se repetisse, a filosofia dessa escola seria a chamada Teoria Crítica - que o homem fosse um participante ativo na criticidade de sua própria realidade - do sistema a qual ele esteja inserido e, para além da cultura, da igreja, um dos principais lugares para se trabalhar esse novo indivíduo seria a escola.

                Por beber na fonte do marxismo, esses filósofos vão focar suas críticas na razão científica, mas como se ela fosse uma nova entidade metafísica criada pela burguesia para continuar mantendo o controle do “homem comum”. Então, a saída seria a criticidade ao sistema. E quem vive na docência, já há algum tempo, ouviu falar muito de “senso crítico”, principalmente na década de 90 e, claro, logo após a chegada da esquerda ao poder em várias partes do mundo.

                   A ideia dos frankfutianos é boa – a Teoria Crítica – o homem sendo crítico de sua condição, contudo, essa briga entre positivistas e humanistas parece não ter fim e do lado dos teóricos da criticidade alguns efeitos adversos são perceptíveis nos anos 2000. Primeiro: a própria Teoria Crítica tem seu paradoxo que é o de que ela também será criticada. Segundo, formar uma crítica bem fundamentada sobre qualquer assunto pode levar anos e mais anos de estudos e o que aconteceu na escola, com culme no fim da década de 80 e todo período de 90, foi a formação de toda uma geração que quer criticar tudo sem base alguma. O que abriu espaço de novo para os positivistas que exigem mais técnica e menos humanismo.

                  Na escola atual, o movimento da Teoria Crítica vem perdendo forças porque, ao longo de anos de criticidade, algumas instituições foram vistas como burguesas e postas em desconfiança, é o caso da família, da autoridade docente e outras, o que, por não haver nada a se colocar no lugar, tem se colhido como resultado muita indisciplina discente.  Nisso, o que tem acontecido é uma virada que traz de volta a Técnica, a ciência, como soluções a problemas que perduram desde sempre.

                 Só para se ter uma ideia, Segundo Dalila (2002) há um entendimento quase tácito entre os pesquisadores da área de que o termo “gestão” é mais amplo e aberto que “administração”. Se gestão está mais voltado para os frankfurtianos e administração está para os positivistas, esse segundo movimento tem ganhado espaço no chão da escola.

                 Basta ver que no uso do termo “administração” o diretor da escola é nomeado por entidade mantenedora ou indicado por líder político local e está sempre preocupado em organizar a burocracia do órgão com vistas a atender pedidos da hierarquia superior. Nesse sentido a escola é percebida como uma realidade objetiva, neutra e amplamente racional. Como o foco é o diretor e as autoridades que centralizam o planejamento, há pouca participação de todos os atores da realidade escolar. Isso é positivismo puro e tem acontecido com frequência nos colégios atuais.

                A criticidade colocada para jovens provocou certa indisciplina. Entre os docentes até fez avançar direitos, mas a Ciência, com sua buscca por resultados, vem impondo nova rotina  no ambiente escolar e os  diretores, coordenadores e professores têm tido pouca margem de autonomia para discutir problemas de sua  realidade, tudo isso monitorado por sistmas onlines que  funcionam como ferramentas tecnológicas  de fiscalização e controle.

               A escola de Frankfurt deu uma imensa contribuição ao ”ser” contemporâneo mostrando que nem tudo é ciência ou reside no campo da exatidão, contudo, ao focar no âmbito escolar, esse movimento deu voz a analfabetos funcionais e polarizou diversas discussões recheadas de pouco entendimento literário, o que tem acontecido com frequência haja vista , agora, cada ser humano querer ser crítico de seu espaço tornando quase impossível a existência de uma realidade factual. Tudo isso tem aberto brechas para o uso de tecnologias de controle dentro das escolas, cobranças por resultados matenáticos, uma realidade neutra, racional e fria. É o positivismo em voga de novo. Só falta mesmo a terceira guerra que se acontecer, a Teoria Crítica da escola de Frankfurt terá falhado em suas ideias. Mas, enquanto essa guerra não acontece, é um sinal de que criticar o sistema tem sido a solução, faltam só mais reflexões para que seja freado esse movimento que tem tornado o espaço da escola frio tecnologicamente e centralizado numa hierarquia vertical.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

         REFERÊNCIAS

 

 

CARDOSO, Isaac Sabino. Mudanças na organização e na gestão do trabalho na escola e Concepções e processos democráticos de gestão educacional: o problema da apropriação falsa dos nomes. Disponível em <https://isaacsabino.blogspot.com/2018/01/mudancas-na-organizacao-e-na-gestao-do.html>. acesso em 22 de janeiro de 2020-01-22

 

ENGELS, F. A Ideologia Alemã. Tradução: Rubens Enderle, Nélio Schneider e Luciano Cavini Martorano, 1ª ed. São Paulo: Editora: Boitempo, 2007.·.

 

 

HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do Espírito. Coleção Os Pensadores, 1ª ed. Editora: Abril Cultural, 1974.

 

Lakatos, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica 1 Marina de Andrade Marconi, Eva

Maria Lakatos. - 5. ed. - São Paulo : Atlas 2003.

 

Oliveira, Dalila Andrade. Política e Gestão da Educação / organizado por Dalila Andrade Oliveira e Maria de Fa´tima Félix Rosar – Belo Horizonte: Autêntica, 2002

 

 Pessoa, Carlos Eduardo Queiroz. Filosofia: história da filosofia contemporânea [ebook].

/ Carlos Eduardo Queiroz Pessoa. – São Luís: UEMA; UEMAnet, 2018.70 p.

 

1. Pensamento Fenomenológico. 2. Existencialismo de Sartre. 3. Movimento Hermenêutico. 4. Escola de Frankfurt. I. Título. II. Serra, Ilka Márcia Ribeiro de Souza.

 

Oliveira . Avelino da Rosa. Duarte .  Zuleyka da Silva . A TEORIA CRÍTICA COMO REFERÊNCIA DE PRÁTICAS EMANCIPATÓRIAS NA ESCOLA PÚBLICA . disponível em <https://ava2.uemanet.uema.br/mod/assign/view.php?id=36307 > acesso em 02 de outubro de 2020

 

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