segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

O Caniçal

     Já fazia anos que ela pegava cocorotes. Aquela vida começou quando tinha três anos. Hoje tem quinze. Seus pais acreditavam e a mandaram para o lugar onde todos acreditavam sair de lá com sucesso – o Caniçal. 
     O relógio marcava a proximidade de mais um dia de aulas. Maria se maquiava; a menina era bonita e inteligente.   
     Já no Caniçal, o professor pegou a aluna Joaquina e iria cumprir a rotina que já existia há anos em todos os cantos daquele estranho mundo. Colocou a mão na parte de trás do pescoço da menina e começou a cocorotar. Dizia que os meninos só seriam grandes se suportassem até a campa tocar. A boca de Joaquina ficava entre-aberta e escorria muita saliva pelo canto. Seus olhos ficavam arregalados, mas ela suportava.
     O primeiro coque doía muito, do mil em diante nada mais era sentido. Cansado, doído, humildemente o mestre cumpria a sua missão de cocorotar. Ele também acreditava naquilo.
     No dia seguinte, Maria se arrumou, penteou o cabelo e saiu. Chegando à escola encontrou seus amigos de classe. Tinha um que ela não suportava - “o traidor Pedro”  ( o chamavam assim por ser o dedo duro da turma). 
— onde está a Joaquina? Perguntou Maria.
— Ela não veio, parece que seus pais a colocaram num outro caniçal. Particular.  – “n’outra” cidade. Dizem que os coques daqui são poucos e não levam ninguém a lugar algum. Alguém falou. 
— ela é uma tola, nós vamos ter sucesso na vida é a partir daqui. Disse Pedro.
     Maria ouvindo aquilo ficou com uma raiva e pensou: como sofrer tanto pode está vinculado ao sucesso? Não faz sentido.
     O professor se aproximou e começou a dar cocorotes na menina.
     Maria com a cabeça ardendo pediu para sair. Foi quando ouviu o coordenador Sabino falando ao telefone com um representante do governo. 
— meu querido amigo, a safra deste ano vai ser a melhor de todas. Serão ótimos pagadores de impostos. Trabalhadores braçais muito bons. Os coques os colocam em seus lugares. Os tornam mansos. Nesse ano teremos os meninos que menos questionam. Eles acreditam que quanto mais coques aguentarem, mais sucesso terão. São uns tolos. Mas, é claro que vamos deixar que um deles tenha um bom emprego. Seja o sucesso. Só um, não mais. Os outros vão se encher de esperança querendo ser como esse um. 
— Do que ele esta falando?  — quer dizer que eles estão nos enganando? Pensou Maria ao ouvir tudo.
     A garota volta para a sala de aula e como sempre ver os seus amigos recebendo coques. Aquilo a deixa  nervosa. É quando com a voz estrondosa manda o professor parar:
— Vocês não entendem. É tudo ilusório. No fim não seremos aquilo que tanto desejamos. Estamos sendo preparados como gado ou ovelhas para o abate.    O professor é só mais uma vítima inconsciente nisso tudo. Só o coordenador e as autoridades sabem. No futuro vamos apenas trabalhar muito para gerar impostos para uns poucos viverem confortavelmente.
     De início o professor até concordou com a menina, mas para puni-lá, o mestre  a leva ao poderoso coordenador:
— o que?! Essa menina está nos desafiando? Disse o coordenador.
— você é um mentiroso! Disse Maria.
— como?! Do que você esta falando? Perguntou o Sabino.
— você sabe muito bem. Você não me engana, e em breve não enganará mais ninguém.
     O poderoso coordenador ordenou que a levassem para um quarto escuro no interior do caniçal. E lá ele passou horas dando cocorotes em sua cabeça. 
     No outro dia ele a tirou do quarto e a levou para a sala de aula, os amigos quando viram seu estado ficaram com muito medo. 
     O coordenador pediu a ajuda do aluno Pedro. A proposta do menino foi rápida: 
— faça eventos: futebol, desfiles. Isso fará todos ficarem com você.
     Dias após ocorreram diversas festividades.
     O resto do ano foi marcado por palavras como suspensão, expulsão e outras que provocam medo. A rotina de cocorotes continuou. A aluna Maria suportou tudo e ao término do ano prestou um vestibular e conseguiu o primeiro lugar num bom curso. Formou-se numa profissão muito boa e ganhou muito dinheiro. 
[...]
— É mais um início de ano letivo. Sejam todos bem vindos. O exemplo que vamos falar hoje é de uma grande aluna do passado. Que suportava tudo. Uma vencedora. Passou num bom vestibular e é o sucesso de nossa instituição. Espelhem-se nela – a aluna Maria -  Disse o Coordenador Sabino aos novatos que chegavam para mais um ano letivo de aula.





Whiplash - resenha

 

WHIPLASH

Resenha do aluno Rony Viana

 

                Whiplash é um filme norte-americano lançado em 2014 dirigido por Damien Chazelle, estrelando Miles Teller e J.K. Simmons.    
              O longa narra um estudante aspirante a músico, Andrew Neiman, e um professor tirano, Terence Fletcher. Certo dia, Fletcher chama Neiman para tocar em sua banda e, a partir disso, o músico ver a sua rotina se basear em ensaiar para alcançar a perfeição naquilo que gosta e ao mesmo tempo em que tenta lidar com a pressão imposta pelo professor.           
              O enredo é forte. Uma boa metáfora para a vida. Basta ver alunos que erram e erram, desistem ou persistem. O personagem Andrew é um exemplo: mesmo sendo uma pessoa sem amigos visíveis no filme - sempre está motivado naquilo que quer - procurando de qualquer forma aprimorar seu talento não importando qual seja o sacrifício a tomar.

              O filme é excelente no que se propõe: uma visceral crítica do ser humano que busca pela famigerada perfeição. Tudo no filme é realista e intenso. Qualquer um que se dispor a assistir vai se familiarizar com os personagens, tanto com o Andrew ou o Terence. Nós, seres humanos, somos realmente dessa forma, sempre queremos nos dar e fazer o melhor, não importa onde ou como for.





A imigração no Brasil
Durante, principalmente, a década de 1980, o Brasil mostrou-se um país de emigração.
■, inúmeros brasileiros deixaram ■ em busca de melhores condições de vida. No
século XXI, um fenômeno inverso é evidente: a chegada ao Brasil de grandes contingentes
imigratórios, com indivíduos de países subdesenvolvidos latino-americanos. No
entanto, as condições precárias de vida ■ são desafios ■ para a plena adaptação de
todos os cidadãos ■.
A ascensão do Brasil ao posto de uma das dez maiores economias do mundo é um
importante fator atrativo ■. ■ o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) nacional,
segundo previsões, seja menor em 2012 em relação a anos anteriores, o país mostra
um verdadeiro aquecimento nos setores econômicos, representado, por exemplo, pelo
aumento do poder de consumo da classe C.
■ contribui para a construção de uma imagem positiva e promissora do Brasil no
exterior, o que favorece a imigração. A vida dos imigrantes no país, ■, exibe uma diferente
e crítica faceta: a exploração da mão de obra e a miséria.
■, para impedir a continuidade ■, é imprescindível a intervenção governamental,
por meio da fiscalização de empresas que apresentem imigrantes como funcionários,
bem como a realização de denúncias de exploração por brasileiros ou por imigrantes. ■,
é necessário fomentar o respeito e a assistência a eles, ideais que devem ser divulgados
por campanhas e por propagandas do governo ou de ONG’s, além de garantir seu acesso
à saúde e à educação, por meio de políticas públicas específicas ■.
(Disponível em: http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/guia_participante/2013/
guia_de_redacao_enem_2013.pdf. Acesso em: 20/2/2016.)


a esse grupo 
Embora 
entretanto 
Na chamada década perdida
dessas pessoas 
Portanto 
aos estrangeiros 
Ademais 
Esse aspecto
dessa situação 
ao governo e à sociedade brasileira 
à nova realidade o país

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Síntese e análise do acórdão do STJ contra a “reserva do possível” brasileira que pode ferir normas e princípios Constitucionais à Luz da Hermenêutica Jurídica.

               O Brasil nunca conseguiu atender satisfatoriamente os contribuintes que demandam por serviços públicos de qualidade. A justificativa de quem administra os recursos é sempre a mesma: que a arrecadação não é suficiente.  Essa proposição resulta naquilo que os juristas chamam de “reserva do possível”. Caso interessante é o movido pelo município de Criciúma acerca do acesso à creche aos menores de zero a seis anos.

              “A tese da reserva do possível assenta-se desde os romanos, incorporada na tradição ocidental”. No Brasil, é só com a Constituição de 1988 que vários direitos foram inclusos, pelo menos na Lei maior, para serem ofertados de forma igual para todos. O problema central passou a ser o preço que os brasileiros pagariam por esses direitos – a carga tributária que em 1947 era de 13,80% do PIB passou dos 36% em 2011. O dilema, justamente, é como regrar algo que é escasso sem ofender a legislação e princípios vigentes?

              E mesmo gastando quase a metade do que o país produz, os governantes têm alegado na justiça que os serviços são ruins e não devem ser servidos na totalidade porque os recursos são poucos. No caso do recorrente município de Criciúma, a procuradora Patrícia Tatiana Scimimidt e outros usam a famosa “reserva do possível” numa questão que envolve o oferecimento de creches aos menores de zero a seis anos.

          É sabido que por aqui a contribuição tributária é alta. Subentende-se da tese do Recorrido e do Relator Ministro Humberto Martins, que a verdade é que é comum a coisa pública não se planejar de forma eficaz. O Relator chega a dizer que “o gasto com festividades ou propagandas governamentais pode ser traduzido na ausência de dinheiro para a prestação de uma educação de qualidade”.

              Adendo interessante são os métodos ou técnicas usadas na decisão. É perceptível o Método GRAMATICAL quando da citação seca da letra da lei, que ocorre, para defesa da necessidade de se oferecer creches aos menores de zero a seis anos, ratificado pelo “art. 277 da CF. e o 4º da Lei n. 8.069/90 que dispõe que a educação deve ser tratada pelo Estado como absoluta prioridade”. Nesse sentido as palavras chaves “absoluta” e “prioridade” significam, gramaticalmente, o que elas pretendem significar; Ocorre também a interpretação SISTEMÁTICA que é quando o texto da peça estabelece relação de uma Lei com outras, frisa-se a Constituição Federal (CF) de 88, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei de Direitrizes e Bases da Educação Brasileira 9394/96. Se quisermos falar de método ou técnica HISTÓRICA, de ANALOGIA HERMENÊUTICA, COSTUME e SOCIOLÓGICA é possível retirar do acórdão, o momento em que o relator cita trechos de Hannan Arent e decisões anteriores do Supremo Tribunal Federal como o julgamento de RE 436.996/sp DE Relatoria do Ministro Celso de Mello. Outra técnica interpretativa do caso em concreto é a do TELEOLÓGICO, isso porque a todo instante o relator aponta finalidades na legislação.

                  Há também Normas e princípios de Hermenêutica Jurídicas bem fáceis de serem identificados na peça, é o caso do relator conclamar os Direitos Fundamentais descritos na Lei Maior. Isso porque aqui é respeitada a CF de 88 em detrimento do requerido, que não é positivado. Pode-se dizer que entram em ação nesse momento o PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO, e quando são referendadas diversas leis para amparar o Acórdão e refutar a “reserva do possível”, nota-se o PRINCÍPIO DA UNICIDADE E DA CONCORDÂNCIA PRÁTICA. E para que o município de Criciúma não haja em desconformidade com a Federação é adotado o PRINCÍPIO DA EXATIDÃO FUNCIONAL E EFEITO INTEGRADOR. De nada adiantaria todos esses princípios se não houvesse o da FORÇA NORMATIVA E MÁXIMA EFETIVIDADE DA CONSTITUIÇÃO.

                 Portanto, é acertada a decisão do Acórdão relatado pelo Ministro Humberto Martins requerido pelo município de Criciúma no que tange a indisponibilidade de recursos para o oferecimento de vagas em creches aos menores de seis anos e outros. A alegação do requerente não pode deixar de ser interessante, porque traz a “Reserva do Possível”. Nascida na Alemanha, essa teoria acabou com a querela que envolvia a quantidade de vagas que o Estado devia oferecer na Universidade. À época, a corte alemã derrubou por completo a ideia de que o Estado deveria estar obrigado a oferecer a quantidade suficiente de vagas nas universidades públicas que atendessem a todos os estudantes. A ideia foi bastante discutida e a acatada foi à jurisprudência do Supremo. Mais de três décadas depois, o Brasil discute essa tese, contudo, segundo a própria decisão da relatoria, ela não pode ser usada como regra. De qualquer forma, é um debate válido e que deve ser “acalorado” mesmo, principalmente em época de crise. O problema é que os administradores têm tentado justificar os péssimos serviços de moradia, educação, saúde e segurança com a alegação de baixas finanças. Mesmo assim, por aqui, o trabalhador assalariado tem ficado sem creches, com a violência das escolas e dos hospitais públicos. O acórdão vem, justamente, combater esse tipo de desigualdade obrigando os municípios a se planejarem mais. Em certo trecho o relator é enfático contra a promoção de festividades em detrimento de tantos problemas de ordem financeira.

 

    

    

 

 

REFERÊNCIAS

 

A evolução da carga tributária no Brasil Disponível em < http: //www .catho.com.br /cursos/index.php ?p=artigo&id_artigo=1441&acao=exibir> Acesso em 02 maio 2015

 

CARDOSO. Isaac Sabino. O Planejamento Estratégico Situacional, a “reserva do possível” e a hipocrisia dos políticos administradores brasileiros. Disponível em <https://isaacsabino.blogspot.com/2015/05/o-planejamento-estrategico-situacional.html> Acesso em 15 de abril de 2021

 

Disponível em <http://www.impostometro.com.br/posts/carga-tributaria-brasileira> acesso em 02 de maio 2015

 

 

Silva, José Maria da. Apresentação de trabalhos acadêmicos: normas e técnicas/José  Maria da Silva , Emerson Sena da Silveira. 5. Ed. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2009

 

STJ. RESERVA DO POSSÍVEL. Disponível em < http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Educacao/Jurisprudencia/STJ-creche%20-%20tese%20reserva%20do%20poss%C3%ADvel.pdf> acesso em 15 de abril de 2021

 

 

Teoria da reserva do possível Disponível em <http://jus.com.br/artigos/24062/teoria-da-reserva-do-pppossível>possivel> cesso em 02 maio 2015

 

 


 

 

Um resumo crítico com relação aos principais conceitos e objetivos do projeto de trabalho

      A produtividade do homem moderno está vinculada diretamente a adaptação do local aos funcionários, e não o contrário. Diferente de outras épocas, as faltas por doenças (dores nas costas, enxaquecas) não são punidas com demissões, mas com uma contemplação no projeto de trabalho de um ambiente que elimine os motivos dessas ausências. É aí que entra algo mais específico no Plano – a ergonomia. E a melhor indicativa de como tratar e resolver os problemas do corpo humano e do posto de trabalho vem de Martins e Laugeni (2006): são 22 dicas listadas: – oito sobre o corpo; oito sobre o ambiente e seis sobre equipamentos.
     É difícil achar problemas na proposta ergonômica dos dois autores. Há até umas muito interessantes e que dificilmente se encontram em qualquer instituição. Por exemplo, a que diz: - “o conjunto mesa-assento deve permitir que o operador possa trabalhar alternadamente sentado e em pé”. A verdade é que fica fácil compreender a ergonomia como a solução aos vários problemas modernos relacionados à eficiência e eficácia na produção. Saem na frente as empresas que incentivam momentos de relaxamento de seus funcionários; os cuidados para que todos os materiais estejam o mais próximo possível; a iluminação e ruídos adequados.
    Talvez, se é que pode se dizer que é, o problema principal da ergonomia ou especialização do trabalho é o custo. Por conta disso, a ideia de gerar conforto para o empregado - afim de que ele produza mais - só existe em empresas de grande porte; as pequenas ainda são arcaicas. Para piorar - a realidade - da ausência da ergonomia é tanto da iniciativa privada quanto da coisa pública.  O preço de qualquer cadeira que produza o mínimo de conforto é altíssimo. A saída é lenta e requer a formação de uma consciência que vem se disseminando nos últimos anos, mas que ainda está longe do ideal.
     Com tudo o que foi dito, é perceptível as vantagens que existem quando uma empresa adota um Projeto de Trabalho. É certo que o funcionário chega com grau elevado de vontade de colaborar e, por isso, a Literatura recomenda uma série de cuidados, e as melhores orientações com conceitos e objetivos estão em Slack (1999) Martins e Laugeni (2006). O homem moderno exige qualidade quando vai contratar um serviço ou comprar um produto e para produzir algo que atenda esse desejo - só com pessoas qualificadas, e, funcionários deste tipo só produzem bem quando uma série de exigências são atingidas. Nisso, a ergonomia e a especialização do trabalho tem sido o diferencial das empresas que querem fica sempre à frente.

    
    
    



REFERÊNCIAS

Cardoso, Patrícia Alcântara. Gestão de operações e logística II / Patrícia Alcântara Cardoso.   Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2012.152p. : il.


Rosa, Rodrigo de Alvarenga Gestão de operações e logística I / Rodrigo de Alvarenga Rosa. – Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2011. 160p. : il.

Silva, José Maria da. Apresentação de trabalhos acadêmicos: normas e técnicas/José  Maria da Silva , Emerson Sena da Silveira. 5. Ed. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2009

TREVISAN, Andrei Pittol; BELLEN, Hans Michael vanRevista de Administração Pública. Rio de Janeiro 42 (3): 529-50, maio/jun. 2008.




A PARTICIPAÇÃO POPULAR NA GESTÃO PÚBLICA A PARTIR DA ESCOLA




1.      INTRODUÇÃO

                   A escola pública, uma das células do Estado (ainda há a saúde, a segurança) é o melhor exemplo de comunidade que tem dado errado por conta da ausência de participação popular na gestão. A prova são os números do IDEB, do ENEM ou outras avaliações externas. Fosse um aluno, a escola brasileira seria aquele menino que só tira nota baixa. A gestão escolar pode servir de premissa para explicar qualquer processo administrativo, inclusive o do Estado. Escola, ou Estado têm incentivado pouco ou quase nada a participação do público em suas gestões. Em termos de país, pelo menos ainda se tem as eleições bienais, o que não é suficiente para um exercício completo de democracia: sem a cobrança frequente do contribuinte, os gestores não têm motivação para o desempenho de suas atividades. É aquela velha história dita por alguns maus administradores: “o salário vai vir do mesmo jeito”. Na escola, quase todas as municipais brasileiras, eleger diretores ainda é um sonho distante.
O estudo aprofundado da escola pública brasileira é de suma importância para os administradores contemporâneos. Essa pequena unidade pode servir de campo para uma experiência que poderá ser usada em algo maior. O sucesso da escola é o sucesso da cidade, do Estado. A escolha desse órgão, para falar de uma verdadeira gestão democrática, se dá, porque o funcionamento da entidade é muito simples e bem parecido com o de um país. Sem falar que qualquer homem, simples que seja, já passou por um colégio. Do ponto de vista hierárquico e democrático pode-se desenhar o seguinte: o Diretor é o presidente, ou governador, ou prefeito; o aluno, os familiares são o público; professores e serviço de apoio são os funcionários. Um exercício de democracia aqui, usado de forma constante e num projeto que fosse de Estado, poderia resultar num círculo virtuoso fora dos muros desta pequena célula.
Devido à importância desse assunto (A participação popular na Gestão Escolar, ou em qualquer gestão do município) para a vida acadêmica do administrador, é necessário detalhar o que se entende por um processo verdadeiramente democrático, com participação ativa dos populares envolvidos. É com essa pretensão que esse estudo ora se apresenta. Caracterizando-se como analítico e dedutivo. Para a sua execução, foram realizadas consultas de literatura especializada como livros, revistas, teses e dissertações, além de fontes eletrônicas disponíveis na internet.  A Constituição Brasileira de 88, a Lei de Diretrizes e Bases, e outros documentos, foram consultados.
               A principal metodologia utilizada na elaboração desse trabalho foi a pesquisa e a leitura de textos antigos e atuais referentes ao assunto: buscou-se conceitos em artigos da atualidade para explicar a urgência da participação do público na gestão escolar afim de tornar rotina as cobranças no município, no Estado e por fim, no país. A linguagem é objetiva e simples, trazendo a todo o momento referências à vida no ambiente estudantil. O artigo está dividido nas seguintes partes: Gestão Democrática, conceitos, a lei, eleições e conselhos; o administrador público e a participação popular como rotina. Também se utilizou a troca de ideias entre os componentes do grupo através de e-mails e interações no Ambiente Virtual de Aprendizagem.


2.      GESTÃO DEMOCRÁTICA: CONCEITO, A LEI, ELEIÇÕES E CONSELHOS.


                   A maioria das pessoas pensa que só porque são convocadas para a escolha de líderes de dois em dois anos (Eleições municipais e estaduais) estão fortalecendo a “democracia”. O que não é bem verdade. Votar é só um dos processos, há vários outros que podem fazer isso que se tem no Brasil em Democracia Verdadeira. Visto por esse ângulo – só o do voto – o que se tem é mais uma manipulação baseada no “mudar para deixar do jeito que tá”. (Os Políticos promovem as eleições para passarem a sensação de que todo mundo participa). A Democracia Plena, autônoma, com a participação direta e frequente dos envolvidos, seria o ideal. Esse processo só seria conquistado se fosse trabalhado desde cedo na vida do cidadão. A escola é o laboratório ideal para essa iniciação.
                A participação popular na Gestão Pública tem se mostrado um desafio e tanto para o Brasil. O país promove suas eleições há décadas. Embora democracia, vive-se um paradoxo – o voto é obrigatório. O intuito era fazer com que o processo se tornasse rotina na vida do cidadão, e diante do calor das campanhas, o brasileiro “comesse” e “repirasse” política, sempre de olho em seus líderes. O país funcionaria. O problema é que não deu certo: quase todos os órgãos públicos funcionam precariamente e a sensação de corrupção persiste em todo o país. Para piorar, a população já começa a pedir o voto facultativo, mesmo sem o amadurecimento necessário para tal empreitada.
     As coisas deram e continuam dando errado. O brasileiro ao invés de gostar, sente repulsa por política. Tudo porque há anos é perdido um momento bom na vida do homem para se trabalhar esse tema na prática – a infância e a adolescência. É incrível, mas desde cedo, os meninos, e até suas famílias, convivem com imposições no primeiro contato com um órgão público de suas vidas – a escola. O Diretor é admitido ao cargo sem a mínima pesquisa junto à comunidade. Isso não é participação popular. Então, como querer que essas crianças, quando adultas, tomem decisões de cunho democrático?
     A saída encontra-se em duas palavras - Gestão Democrática. O problema é que - quando há um aprofundamento no assunto - o que se percebe acerca dos administradores é “corpo mole” no incentivo a práticas de participação popular e uma formulação do conceito de democracia que se restringe apenas ao voto.  Um problema.
     Acerca do conceito, a coisa é simples: A Gestão Democrática  é uma forma de gerir uma instituição de maneira que possibilite a participação, transparência e democracia. O bom seria, além da eleição dos chefes do executivo, uma participação mais forte dos populares em todos os órgãos que têm influência direta na vida do público. Mas, enquanto isso não acontece, fala-se da desobediência da lei, que já deu todas as permissões para que seja trabalhada a democracia ao extremo em todas as etapas de vida do brasileiro.
    A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 205 faz menção ao direito de todos e do dever do Estado e da família em educar. O documento é o primeiro na busca de uma educação participativa e se alia a vários outros complementares como a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira), para criar um ambiente participativo que poderia ter reflexos na cidade. A Carta coloca o Estado e a família em patamares iguais perante a Lei naquilo que será a educação das futuras gerações, chama a atenção acerca de um equilíbrio de poder que deve haver entre os dois. Esse equilíbrio coexistiria como mecanismo de ajuda mútua: o Estado faria sua parte propondo enriquecer as crianças de cidadania e qualificação para o trabalho apresentando a sua proposta pedagógica; a família, por sua vez, cumpriria sua função, revisando a proposta, debatendo-a e se aprovada, fiscalizando-a. Por preguiça ou por algum motivo maior a lei é descumprida.
        O artigo 14 da LDB reforça a ideia de gestão democrática, e o 15 - da autonomia das escolas. 
     A Lei de Diretrizes e Bases vai responsabilizar os Sistemas de Ensino pela busca do equilíbrio entre a família e o Estado. Orienta acerca da criação dos Conselhos Escolares e da participação da família nesses colegiados, mas coloca isso apenas como princípios, o que implica dizer, que os Sistemas de Ensino poderiam ir mais longe implantando Gestões Democráticas com o voto direto da família naqueles que vão compor o Núcleo Gestor da escola. Com isso, o Art. 15, no tocante a autonomia das escolas tornar-se-ia uma realidade e as crianças, as famílias trilhariam por um caminho de debates e procura daquilo que seria melhor para si.
      Se fora dos muros da escola, as eleições existem, e só nessa época, o povo se sente ativo na tomada de rumo do país. Intramuros, Conselhos - quando existem, é só para assinar papeis, não opina; e eleições é uma utopia.
          Não há necessidade de criatividade é só obedecer à lei. Os passos são simples e se fossem seguidos o que se teria era uma sociedade que saberia discutir política, porque já estaria acostumada, pois já teria feito isso várias vezes no colégio. Da forma que está, é como se alguém quisesse que as pessoas aprendessem algo na prática. A escola é o lugar onde se pode errar e depois tentar o acerto. É o lugar de experiências. O ambiente foi criado pra isso. Na cidade não. Erros nessa hora custam mais à sociedade. Será que daria certo um médico ou um engenheiro só terem a prática? Não terem passado pela teoria – a escola. Já pensou quantos morreriam até que essa experiência fosse conquistada? É o que tem acontecido com um povo que vota só quando adultos.
      Então, a primeira coisa a se fazer é tornar urgentes as eleições para Diretor de Escola de Ensino Fundamental e Médio. Poderia ser pensada a participação só dos familiares nos ensinos de 1º ao 5º anos. Do 6º ano até o Ensino Médio é muito interessante a participação de toda a comunidade escolar: alunos, pais e funcionários. É bem verdade que há diretores e pessoas envolvidas com o atual modelo que defendem que o aluno pode decidir por algo mais fácil pra si. O discurso é sempre o mesmo: “a maioria dos alunos poderia optar por eleger quem facilitassem mais ainda as aprovações”. É uma falácia. As famílias já entendem que os meninos têm que aprender. É bom resaltar que para cada criança que vota, tem-se um familiar que vota também – pode ser o contrapeso. Sem falar que esse conflito é interessante e a balança penderá para o lado que consegue convencer mais. Depois, que busca de participação popular é essa onde se tem medo de que o popular comece participar? É irônico.
     Outro passo é criar mecanismo de participação popular que funcionem de forma autônoma. Para tanto, há a necessidade de se ativar os Conselhos da escola: aquele que busque a participação da comunidade e o de classe, aquele composto só por alunos e mestres. Percebe-se que toda essa dinâmica demandará reuniões e compromissos, é por isso que, se há um desejo de que um dia a sociedade se torne ativa politicamente, tal modelo de escola não pode ficar facultado ao município, ao Estado. A necessidade é de um projeto de cunho nacional. Um Projeto Federal. Padronizado. Do contrário, a rotina que se terá por longos anos é essa de números negativos nas avaliações externas e que reproduzem uma sociedade submissa, que não sabe debater, que pouco participa.

    
3.      O ADMINISTRADOR PÚBLICO CONTEMPORÂNEO: UM AGENTE MOTIVADOR DA PARTICIPAÇÃO POPULAR NAS ENTIDADES PÚBLICAS MODERNAS

                   A Constituição Brasileira é nova, pouco mais de vinte anos, o que significa dizer que muitos funcionários que estão na chefia ou mesmo no executivo, os mais velhos, possuem uma mentalidade conservadora à sua época. Falar em mudanças, como por exemplo, eleger os servidores para presidir os mais diversos órgãos, é tema difícil de ser tocado. Há total rejeição para qualquer tipo de proposta que mexa nos pilares que já existem. E se isso é um problema nos grandes centros, onde há tempos, cursos de administração pública existem, imagine no interior do Brasil.
      A posição parece radical, mas uma saída é esperar a aposentadoria desses servidores, tendo em vista que há resistência da grande maioria em se reciclar. O próximo passo já está em andamento: o MEC, por meio da Universidade Aberta, lançou a poucos anos diversos cursos de graduação voltados para as áreas de Gestão.  A diferença é que, com o advento tecnológico, os cursos são feitos à distância e possuem um nível de aprendizado tão bom quanto os oferecidos nas capitais. Há uma safra muito boa de jovens dispostos a mudar a situação do país. Principalmente no que toca busca a participação popular na tomada de decisão de muitos órgãos.
     Nos moldes atuais, qualquer pessoa do executivo, ao se eleger, tem um comportamento quase ditatorial: nomeia servidores sem a mínima consulta junto à comunidade. A lógica é simples: imagine um presidente de uma grande empresa. Mesmo que ele sinta vontade de nomear alguém para um determinado cargo, não o fará sem consultar os acionistas. Por que com a coisa pública, o “acionista”, o contribuinte, o povo, não deve ser consultado?
     A situação começa a mudar quando no quadro do executivo são nomeados administradores egressos da universidade. Mesmo que os prefeitos, governadores, presidentes e legisladores eleitos não sejam da área, o auxílio prestado por um técnico já começa a surtir efeito: são eles que cobram pela autonomia dos diversos órgãos, e o novo administrador sabe que essa autonomia, para ser sustentável, só surge quando são incentivadas eleições diretas para gestores das entidades, com a ativação dos diversos conselhos, buscando sempre a participação popular nesses colegiados. Só assim um círculo de compromissos se concretizará: é só lembrar que haverá mais proximidade entre o eleitor e o eleito e com os conselhos, haverá uma cobrança dentro da entidade.
     
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A complexidade assumida por um Estado do tamanho do Brasil, que demanda democracia desde a Constituição de 88, sofre da necessidade de sustentabilidade e autonomia em todos os seus órgãos. Uma capacitação de seus administradores no intuito de fomentarem planos que incentivem a participação popular é de suma importância; ainda é urgente promover, em todos os setores, eleições diretas de seus dirigentes criando um contrapeso – que é a participação popular na gestão. A Escola pode servir de laboratório. As conquistas democráticas conseguidas no Brasil depois da Carta não podem se restringir só ao voto, a manutenção perpassa por todos da nação fiscalizando, mas principalmente por aqueles que agem intimamente para o funcionamento do país – os administradores públicos.
Afim de não retroceder a um tempo ditatorial ou do coronelismo, onde os administradores serviam mais ao ditador ou ao coronel do que ao povo, faz-se necessária uma cobrança: que os que estejam em cargos de gestores da coisa pública tenham passado por cursos superiores, dominem o conceito de Gestão Democrática e participação popular, e acima de tudo passem pelo crivo de um eleitor.
O modelo de só votar no Prefeito, ou no Governador, ou no Presidente, e esperar que ele tome as melhores decisões para todos, é até tolerado, mas não é suficiente. Manter o povo em constante estado de fiscalização seria o ideal.
Apesar das conquistas na última década, muitos Estados já promovem um movimento que deixa o público votar em alguns dirigentes, contudo ausência de conhecimento por parte de quem deveria tê-lo, tem ameaçado a conquista de uma democracia que fosse plena. Nos últimos anos, governos, movidos por um desejo autoritário – de não perderem certos poderes e recursos - têm resistido em promover o mínimo que seja de experiência: a eleição dos diretores escolares; sem falar que os Estados que já usam a escola como laboratório, atendendo ao pedido dos Sindicatos, têm remunerado muito mal os eleitos. O objetivo é desestimular o acesso aos cargos e provar que esse tipo de democracia não dá certo.
A Administração Pública precisa de administradores públicos profissionais. Conhecedores do histórico do pré e pós Brasil democrático; conhecedores do valor da autônima de uma entidade; articuladores de um plano de participação popular que dá certo. Para tal, os centros acadêmicos devem sempre incentivar o estudo acerca das Gestões Democráticas, e principalmente, denunciar práticas que velam um arcaísmo que beira, se não a ditadura, ao coronelismo.





REFERÊNCIAS


BRASIL. Constituição Federal. 1988.


BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB. Lei nº 9394/1996


EDUCAÇÃO. Ministério da. Inep divulga resultados do Ideb 2009. Disponível em: <http://portalideb.inep.gov.br/web/saeb-e-prova-brasil/saeb-e-prova-brasil> Acesso dia 14 junho 2011


EDUCAÇÃO. Ministério da. PARECER CEB/CNE 01/2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/pceb001_06.pdf> Acesso em: 28 junho 2011


Junquilho, Gelson Silva Teorias da administração pública / Gelson Silva Junquilho. – Florianópolis :Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2010.182p. : il.




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