sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Da Cidadania e do Pluralismo Político. Brasil: um país difuso de ideologias


          O ano é 2013, a Constituição de 1988 faz 25 anos. O Brasil ultrapassa duas décadas de “democracia” ininterrupta e a Constituição Cidadã foi a base da calmaria existente nesses anos - uma esperança - que, graças aos “grandes homens” desta nação (vândalos de espírito), corre o risco de não passar de uma utopia e de ter, de si, realizado só os artigos que são benéficos a esses líderes. É o que ocorre com a interpretação do Título “Dos Princípios Fundamentais”, em especial o artigo 1º. Lá são descritos cinco fundamentos, mas quem tem uma influência por aqui reluta em enxergar só o V – “dO pluralismo político”. Por conta disso, a instituição partido político está desacreditada – já são 32 e o povo não se identifica com nenhum.
     Instituições desrespeitadas, vista grossa para alguns artigos, e a Carta Magna, em seu aniversário, já não consegue esperançar e impedir os vários conflitos que eclodem em todo o país.
     Não que seja errado o pluralismo de ideias existente na política, isso é até bom. Uma expressão fiel da aceitação do diferente.  Contudo, da forma banalizada que vem sendo feita nos últimos anos, tem parecido “bagunça” (pense na cabeça do homem simples diante de tantas siglas). A questão é que a mesma “banalização” (no sentido de tornar comum) não ocorre na aplicação de itens como o II e o III do mesmo artigo – “dA cidadania e dA dignidade da pessoa humana” respectivamente.
     Foi dado tempo. Mesmo assim, passados anos, a maior parte da população brasileira é desrespeitada com serviços públicos de péssima qualidade. Quem tem uma boa remuneração, a classe média, por exemplo, já se acostumou em pagar por tudo: escolas, hospitais, estradas, segurança.  Ou seja, optou-se pela iniciativa privada. Esse comportamento fere diretamente o princípio da cidadania. Qualquer dicionário simples que seja dirá que ser cidadão é quem possui todos os direitos e deveres garantidos pelo Estado. Os “deveres”, por parte do cidadão - pagar uma das cargas tributárias mais pesadas do mundo e votar (obrigatoriamente), até acontecem; os direitos, receber do Estado, no entanto, têm ficado só no desejo.
     E pelo menos o básico? Lê o mundo ao redor? Viver mais um pouco? Ir e vir? Esses direitos são fundamentados no princípio da “Dignidade Humana, no tópico III”. Também não são cumpridos com tanto empenho. O número de analfabetos e analfabetos funcionais tem aumentado e todos os indicadores apresentam piora. Como um país pretende crescer e gerar dignidade quando a grande maioria não sabe nem ler a lei ou interpretar um manual simples que seja? e quantos não têm morrido com doenças simples só porque não há uma vaga no hospital, e se conseguem o atendimento, morrem por não poder comprar o remédio; ir e vir é outro problema, tanto quando o assunto é segurança quanto quando é viajar mesmo. Por aí se percebe o desinteresse dos políticos daqui por alguns artigos.
     Em todos esses anos houve um empenho enorme dos que têm dinheiro ou influência em criar uma nova legenda. O precedente para o número recorde de siglas é justamente o “Pluralismo Político” descrito na carta. Todas as forças, da esquerda à direita, foram mobilizadas nessa empreitada. Não que seja ruim para o país (o maior número de ideias), mas da forma que é feito aqui soa a “bagunça/vandalismo” por parte de quem deveria guardar a ordem – os líderes. Para piorar, no ano de aniversário da jovem Constituição, da jovem democracia, o povo saiu às ruas e mesmo com trinta e dois partidos políticos, o que se leu em quase todos os cartazes foi que nenhum deles representava o brasileiro. Alguém que se propôs participar das passeatas portando a bandeira da sigla foi expulso com violência do movimento.
     A atitude de todos os políticos brasileiros, de não mobilizarem suas forças para a realização dos cinco fundamentos, e se concentrarem somente naqueles que lhe rendem poder e “legitimidade”, é uma ameaça concreta a esperança que alimentou a tranquilidade brasileira até aqui. Se há um culpado, um “vândalo”, pelo momento que passa o Brasil, esse não é o Artigo 1º da Constituição Federal do Brasil de 1988, mas sim todos os que se dispuseram a liderar essa nação pós-ditadura. A impressão que se tem, quando mais um líder se propõe a criar mais um partido, é aquela da criança que sem motivo chuta a brincadeira dos outros, só para provocar. A prova disso é a ausência de ideologias por aqui: é esquerda com aparência de direita; direita com moldes de centro; centro que não sabe o que é.
     É com tudo isso que se percebe o dilema constitucional brasileiro nesses tempos. Ficou difuso para o eleitor seguir uma ou outra ideologia (por conta das várias), mas o processo é legítimo. O que poderia acontecer para melhorar a situação seria uma lei ordinária que regulasse a criação das legendas e vinculasse a sua sobrevida a uma revisão periódica junto aos filiados e com número mínimo de eleitores conquistados nas eleições. Do contrário, deixar as coisas como estão, é desejar que os pequenos tomem os grandes como exemplo, e se isso acontecer, aí sim - vandalismo vai virar guerra civil e em seguida vem a ditadura e adeus ao aniversário de trinta, cinquenta ou mais anos da Constituição Cidadã de 1988. Para a cidadania, o melhor remédio, além dos constitucionais já existentes, seria uma lei que forçasse a renovação por completa dos quadros políticos de tempos em tempos.

Por Isaac Sabino





REFERÊNCIAS

Presidência da República. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> acesso em 03 nov 2013




Oliveira, João Rezende Almeida Instituições de direito público e privado / João Rezende Almeida Oliveira, Tágory Figueiredo Martins Costa. – 2. ed. reimp. – Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2012.


Silva, José Maria da. Apresentação de trabalhos acadêmicos: normas e técnicas/José  Maria da Silva , Emerson Sena da Silveira. 5. Ed. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2009


TREVISAN, Andrei Pittol; BELLEN, Hans Michael vanRevista de Administração Pública. Rio de Janeiro 42 (3): 529-50, maio/jun. 2008.




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