segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Por uma escola de cidadãos.

RESENHACRITICA
Isaac Sabino CARDOSO1

PINSKY, Jaime e PAHIM, Regina. Por uma escola de cidadãos. Disponível em <http://www.jaimepinsky.com.br/site/main.php?page=artigo&artigo_id=127> Acesso em 26 de dezembro de 2017

                  Jaime Pinsky é Historiador, professor titular da UNICAMP, Doutor e livre docente da USP.  Foi também professor na Unesp (Assis) e na USP. Colaborou na criação das revistas Debate & Crítica, Contexto, Anais de História e Religião e Sociedade. Já Regina Pahim possui graduação em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(1963), mestrado em Sociologia pela Universidade de São Paulo(1977) e doutorado em Antropologia Política pela Universidade de São Paulo(1992).
                  “Por uma escola de cidadãos” é um artigo que trata da cidadania a ser exercida no dia a dia e que coloca o caso específico do preconceito a ser combatido a começar pela escola. O texto resulta da experiência histórica do Professor Jaime Pinsky em parceria com a Professora Regina Pahim. O objetivo encontrado nos próprios autores “é tão somente iniciar a discussão desse tema”.
                      O artigo começa mostrando que conhece os diversos outros problemas enfrentados pela educação brasileira, contudo é na cidadania que Pinsky chama a atenção para o que deveria ser o foco, mas que nos últimos anos tem sido relegado a plano ”secundário”. Percebe-se a seguinte divisão no trabalho dos autores: a introdução apresenta o problema e conceitua cidadania apontando a escola como instituição responsável em ensinar esse valor ao brasileiro. As outras partes são nomeadas em “nossa tarefa”, “existe preconceito?”, “nós e o outro”, “Cuidado com as generalizações”, “preconceitos positivos”, “preconceito e racismo”, “o papel do professor”, “a hora da ação”.
                     Em “nossa tarefa”, o leitor é alertado sobre a cultura de distanciamento que existe entre o “cidadão” e o Estado brasileiro: é como se ambos fossem inimigos, o que não acontece em outras nações. O título conclama, justamente, uma mudança de postura no intuito de tornar o brasileiro participante ativo de sua democracia a começar por combater o problema do preconceito e da discriminação. A sequência do texto é uma resposta à pergunta “existe preconceito?”. Neste momento é trazido à tona a ideia do povo brasileiro como tolerante, pensamento desfeito numa rápida observação dos estereótipos como o do francês, do mexicano ou nacionais como o do nordestino ou do carioca ditados pelo próprio brasileiro.
                      Em “nós e o outro” o preconceito é confirmado a partir das falas de um indivíduo que tem sua religião como religião e a de outro como seita. Ainda são citados casos pequenos como no mundo do futebol para ilustrar que de nada adianta protestar contra limpezas raciais se nos menores gestos há preconceito. E são com essas premissas que os autores chamam a atenção do leitor para o “Cuidado com as generalizações”. Aquelas que atingem algumas categorias sociais, pejorando-as de forma negativa e dificultando o crescimento delas. A coisa piora em casos que envolvam crianças. Até o que se chama de “Preconceitos Positivos” (quando se acredita que todo negro seja bom de samba ou que todo japonês domine tecnologia) devem ser evitados, pois, segundo Jaime e Regina “são perigosos, prejudicam as suas vítimas do ponto de vista psicológico, uma vez que bloqueiam a criatividade [..]”.
                      Próximo dos parágrafos finais é traçada a linha tênue que existe entre “preconceito, discriminação e racismo” e é lançado um alerta que indaga sobre a igualdade convivendo com tais práticas e, de novo, o sistema educacional é conclamado a dar a sua contribuição para tornar o educando um cidadão que respeita o seu semelhante. Os autores reconhecem o pouco envolvimento dos professores com a temática. Justamente, “o papel do professor” é a penúltima pauta no artigo e aqui, o primeiro passo diz respeito à formação: o docente deve ser “habilitado” a transmitir a seu alunado a gravidade, as consequências de “tais questões”. Neste momento os escribas pedem que o professor reconheça seus próprios preconceitos no intuito “de tornar a escola um local onde realmente as crianças, independentemente de raça, cor, religião, origem, se sintam bem e tenham possibilidade de se desenvolver plenamente”.  
                      Por fim, “a hora da ação” é a conclusão onde é reconhecido o tamanho da tarefa, é ratificado o convite ao professor e às instâncias educativas no combate ao preconceito e a discriminação e é apresentada a solução de criação de ambientes que deem voz   aos que sofrem de tais males.
                    “Por uma escola de cidadãos” seria um texto inovador não fosse um discurso repetido numa época em que virou moda defender algo que dificilmente alguém vai ser contra. O tema da cidadania, do preconceito e das discriminações vem sendo tratado com intensidade nos últimos anos. Contudo, no caso do Brasil, e não se encontra no texto também, não há nenhum dado estatístico que comprove uma realidade de preconceito e discriminações disseminadas. Esse é o primeiro problema do artigo.
                      O segundo está no segundo parágrafo, quando são enumerados vários problemas da educação brasileira. O desânimo vem quando se subentende do argumento que esses problemas devem ser deixados para depois e o debate acerca da cidadania deveria ser o foco. A questão é que cidadania já é ensinada de forma natural e rotineira por professores que continuam com baixos salários, em salas de aulas sujas, carteiras quebradas ou insuficientes, com escolas que passam décadas sem reformas e com  milhares de alunos dividindo um único banheiro. Nessa hora, fica a sensação no leitor educador de está sendo convocado para algo que ele já faz. A cidadania almejada por Pinsky e Pahim só se efetivará quando os problemas estruturais e financeiros, enumerados por eles próprios, forem resolvidos. A cidadania será uma consequência – um resultado. Fica uma sensação de que os pesquisadores não conhecem a realidade - “na carne” - do ensino básico público no Brasil que tem convivendo na mesma sala superlotada e quente, as várias diferenças existentes na humanidade como o homem, a mulher, o negro e o branco pobres, o homossexual, o baixo, o alto, o gordo, o magro, o “crente”, o ateu e o católico.
                      Fosse verdade a disseminação do preconceito e da discriminação da forma como alardeia o texto, a escola e até mesmo o país já teriam eclodido num conflito incontrolável, insuportável e mortal. De um lugar assim todos já teriam se afastado, o que não se confirma porque, pelo menos no caso da educação, o número de matrículas só aumenta e os concursos para professores são sempre preenchidos.
                       Mas há coisas interessantes no texto: o estilo, por exemplo, é uma dessas coisas boas: o texto é marcado por ser conciso e simples. A linguagem é de fácil leitura, clara. O uso da primeira pessoa mostra que os autores se incluem nas más práticas e que também precisam se policiar para dar exemplo (só no penúltimo capítulo é que há o uso da terceira pessoa quando toda a tarefa da resolução do problema é delegada só ao professor secundário).
                       É de se observar que o artigo é só mais um chamamento repetitivo para o politicamente correto tão em voga neste tempo. É válido, mas é “raspar o fundo do tacho ou jogar para plateia”. Mas é válido. O artigo é um chamamento à escola e principalmente ao professor a adoção contínua da cidadania com foco no combate ao preconceito e a discriminação. Contudo, nada que qualquer leitor assíduo já não tenha lido, ou até mesmo um leigo telespectador já não tenha assistido, haja vista essa temática está toda hora na TV. 
                  

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