Como é que se constrói o conhecimento? Aí
se tem um dilema que há milênios aflige a humanidade. Vários filósofos tentaram
responder tal pergunta. A arte ao longo do tempo tenta colocar de forma simples
as respostas dadas por estes pensadores aos homens comuns. Dentre os filósofos
que ousaram responder dá para se citar Heráclito, Parmênides e Platão; dentre
as obras de ficção atuais que podem ser usadas para explicar de maneira fácil o desenrolar do conhecer e os pensamentos de Heráclito, Parmênides e Platão pode se citar "O Grande Truque", filme de Christofer Nolan de 2006. A
obra é tão interessante que dá para se extrair, além do conflito entre os dois
mágicos (no real se trata do conflito entre Thomas Edison e Nicolas Tesla - famosos cientistas do século XX) o conflito que existiu entre Heráclito e Parmênides.
O conflito. Essa é a resposta dada por
Heráclito ao surgimento e amadurecimento ou extinção do conhecimento. Para o
pensador é necessário o combate travado eternamente entre o bem e o mal; entre
mentiras e verdades para que sempre renasça algo novo e de novo seja traçado
outro embate. E assim para sempre. Nada melhor para explicar isso do que o
conflito entre os mágicos rivais do filme O Grande Truque, Robert Angier (Huch
Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale). No enredo o embate começa quando
Borden atrapalha o truque de Angier e termina matando a assistente de palco (namorada
de Angier) afogada em uma das magias. A partir daí começa o embate entre os
dois. O surgimento de novos truques, o amadurecimento e a extinção.
É tudo ilusão. Os homens são apaixonados
por serem iludidos. É mais ou menos assim que pensará Parmênides. Sem perceber,
o filósofo contribuirá para o debate (conflito) com Heráclito, mas não deixará
de ter razão em muitos pontos do seus pensamento. Realmente os homens são
hipnotizados pela ilusão, isso é verdade. O filme é a prova. Tanto as pessoas
da época dão valor ao show promovido pelos dois personagens quanto
quem ver a história fica de olhos vidrados esperando o próximo truque. É muito bom e hipnotizante.
Plantão concorda com os dois filósofos.
Para ele há sim o mundo que muda e outro que é imutável. O que muda é ilusório
e é o da matéria - esse aqui. O imutável é outro plano. Os homens só conhecem
algo de verdadeiro aos poucos - o verdadeiro do outro plano é pingado aos homens neste plano (ilusório). É bom pegar cenas dO
Grande Truque para explicar. Imagine, que Thomas Edison invente a eletricidade (que já existe no plano real) e aqui os homens se espantam. Em seguida Tesla
inventa outra máquina. Os homens se espantam de novo. Há um embate de conhecimentos
entre os dois cientistas abastecido por um outro plano - o real.
O conhecimento é a porta de saída deste
mundo das ilusões e a de entrada ao mundo da verdade. Se a ilusão muitas vezes
tem uma lógica e engana as nossas mentes, essa lógica é quebrada quando o
conhecimento produz algo e o homem fica espantado. Imagine a eletricidade (ver filme) criada por Edison; ou a máquina de Xerox humana criada por Tesla. De
início um choque.
A mensagem mais interessante do filme
reside em dois momentos e serve para todos que desejam transformar a verdade em
verdade aos outros ou simplesmente transformar uma aparente mentira em verdade.
A mensagem é “viver o número”. Ela foi dita duas vezes. Na cena do chinês que
vive carregando um aquário entre as pernas e no momento em que Robert Angier
pressiona sua assistente a descobrir o segredo do truque de Borden. O truque é
o homem transportado, onde Borden entra numa porta e sai em outra. Esse truque
tem que ser desvendado pelo telespectador ao longo do filme. Seria fácil não
fosse as excelentes manobras do enredo que levam quem assiste a dúvida.
Contudo, o truque é simples. Trata-se de um irmão gêmeo do mágico que sai na
outra porta. A dificuldade em desvendá-lo se dá por conta do mágico viver o
truque vinte e quatro horas. Já pensou se o conhecimento fosse vivido a todo o
momento.
Viver o truque. Viver o conhecimento. Uma
boa forma de fazer a ilusão parecer verdade como fez o mágico Borden ou
simplesmente mostrar coisas verdadeiras e assombrosas a humanidade como fez
Angier usando ciência pura. O homem pode escolher promover o debate, o
conflito, e mudar de fase; ou por medo, optar pela ilusão e viver o imutável.
Heráclito, Parmênides, Thomas Edison e Nicolas Tesla, sofreram, mas não
recuaram diante dos conflitos que lhes esperavam, sabiam dos benefícios que a
humanidade colheria.
CENA DO MÁGICO VIVENDO O TRUQUE. Já pensou viver o conhecimento o tempo todo?
Bela análise Isaac. Adorei o post.
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