Em março de 64, o
Brasil, mais uma vez, muda radicalmente os rumos da política e consecutivamente
os da educação também. Um ser humano, antes moldado pela igreja, depois pelo
liberalismo econômico, quase pende para a esquerda, mas gira totalmente para a
direita militar. A escola que quase acerta por ser a transmissora de
conhecimentos sistematizados passa a ser ideológica e social desde então.
Trinta anos após a promulgação da constituição, o Brasil passa por
fortes críticas à democracia e suas diversas instituições públicas (destaque
para a escola pública que tem recebido severas críticas). Contudo, alguns podem
pensar que os militares almejam o poder e o país esteja parecido com março de
64. Ledo engano. Mas, muito parecida situação. Naquele período, partes
importantes dos setores sociais não queriam o comunismo ou o socialismo
implantados no Brasil: é o caso de alguns empresários proprietários rurais,
industriais paulistas, uma grande parte das classes médias urbanas e o setor
conservador da igreja católica. Tal situação não se configura atualmente. Até
foi bem parecida à situação de queda de um governo de esquerda como o de João
Goulart com o de Dilma Rousseff, mas, como os militares já foram testados, o
brasileiro segue acreditando num governo civil eleito pelo voto direto.
Mesmo
que fosse qualquer ideologia que ascendesse ao poder – a educação sempre seria
usada como uma ferramenta de extensão daquele poder. Nisso os militares não
perderam tempo e trataram logo de mudar a Lei de Diretrizes e Bases (LDB)
4.024/61 para a 5.692/71 (Esse texto observa só essa lei do ensino básico).
Além de ser um profissional técnico, o
homem desejado pelos militares é fruto das principais características de uma
grade curricular que incluía educação física, artística, programas de saúde e,
evidentemente, educação moral e cívica. O ano letivo tinha 180 dias e exigia-se
dos professores, para lecionarem na 1ª e 4ª séries habilitação específica. Para
o 2º grau, um curso superior em nível de graduação.
Mesmo que não se aprofunde é bom ressaltar, tornar os homens cobaias de
projetos que não lhes pertence, vem desde sempre – dos jesuítas a Pombal, dos militares
aos dias atuais, da esquerda à direita.
É
sabido que os militares exageraram no poder: censuraram, mataram e reprimiram
muito. E ainda por cima demoraram a devolver o Governo aos civis, até por conta
disso, nenhum civil em sã consciência os quer de volta no governo, mas algumas
mudanças propostas por eles persistem até hoje e são sempre bem recepcionadas
pela população mais humilde – é o caso do ensino profissionalizante, embora
haja uma elite intelectual que bateu muito contra esta proposta no período
militar e continua batendo mesmo em época de lei 9394/96, aquele momento
histórico requeria uma escola que formasse um trabalhador que não desejava
tanto ir para o ensino superior – alguém que só queria uma profissão e entrar
no mercado o mais rápido possível. Na verdade o ideal seria uma escola de tempo
integral que visasse o mercado de trabalho e a universidade, mas mesmo na
atualidade isso ainda não vigorou.
Outra mudança, que talvez o momento histórico exigisse, é a inclusão das
disciplinas educação física, artística, programas de saúde, educação moral e
cívica. O momento poderia requerer, mas aqui, a ditadura tirou o foco da
escola, que este texto concorda com Saviani (2011) de que a escola é uma
instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado. As
novas matérias eram de cunho muito subjetivo e, continuam sendo, e ocupando
espaços que deveriam ser dos estudos
linguísticos, matemáticos, físico-químicos. Daquele conhecimento que é bem mais
difícil se fazer no íntimo familiar. Sem falar que alguns assuntos daquela
grade aparecem em textos da base obrigatória como nos de língua portuguesa.
Sempre apareceram e irão aparecer. Os militares queriam uma escola técnica e
criaram uma escola social “aperfeiçoada” mais tarde pelos governos sociais da
década de 90 e dos anos 2000.
Mesmo assim, há que se concordar com o pensamento dialético no sentido
de que a coisa histórica vai se construindo sempre procurando a alternativa “menos
pior” para o momento. “Menos pior”, não melhor. Por isso, a alternativa
jesuítica, pombalina, militar, petista, era a “menos pior” para aquele momento
histórico. Mas é bem sabido por este articulador que adjetivar um passado com o
olhar do presente é de uma covardia sem tamanho. Por isso
é que, sem pejoração, o que o homem do presente tem admirar é a coragem de quem
ousa mexer com as estruturas da educação: educar um único filho já é tarefa
hercúlea quiçá um país, embora se saiba que todos os que tentam educar os faz
para manipular, controlar, escravizar – da esquerda a direita – todos têm um
interesse muito particular quando se enfileira ou não os outros.
REFERÊNCIAS
Dutra,
Luiz Henrique de Araújo. Teoria do conhecimento / Luiz Henrique de Araújo
Dutra. — Florianópolis, 2008.
FRASSON, Antonio Carlos,:JUNIOR, Constantino Ribeiro de
Oliveira. METODOLOGIA DA PESQUISA
CIENTÍFICA. São Luís, Maranhão : 2010
Lei de Diretrizes e Bases 5692/71. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l5692.htm>
acesso em 17 de junho de 2018
Saviani,
Dermeval, 1944- Pedagogia histórico-crítico: primeiras aproximações/Dermeval
Saviani-11.ed.rev. – Campinas, SP: autores associados, 2011.
SILVA,
José Maria da. Apresentação de trabalhos
acadêmicos: normas e técnicas/José Maria da Silva , Emerson Sena da
Silveira. 5. Ed. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2009
Vieira,
Ana Lívia Bomfim. História da Educação Brasileira.
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