domingo, 30 de abril de 2023

Uma avaliação da gestão escolar considerando o uso da tecnologia nas aulas remotas durante a pandemia

 

Isaac Sabino CARDOSO1

 

                  A história da humanidade é marcada por povos que se sobressaem ao longo dos tempos e outros que são extintos ou se tornam escravos. Fator decisivo do sucesso de uma comunidade é o quanto de tecnologia ela consegue acumular. Entende-se aqui, como avanço tecnológico, também, a organização social. Este texto é uma análise do uso da tecnologia, inclui-se a organizacional, e da inovação em escolas do Brasil durante o período da pandemia por conta do vírus da Covid-19. Para tanto, de forma indutiva e discreta, foi observada uma escola num estado, outra no município e mais uma em outra federação.

                Não é difícil imaginar a diferença que fez o fogo para a humanidade: cozinhar os alimentos, se proteger dos animais, fez a comunidade crescer de forma mais saudável. Avançando um pouco na história, pode-se falar da língua, da escrita, de armas para distâncias maiores. O lado ruim é que tudo isso resultou na extinção de outras culturas e até animais.

                Indo mais longe, os idos de 1600, 1700 e 1800 tiveram como marco inovações como a máquina a vapor e a lâmpada; Essas invenções demandaram novas estruturas sociais. No caso da máquina, tem-se a criação do trem, de trilhos e mais tarde de carros. O modelo social do fim desse período será o Fordismo/Taylorismo e mais tarde o Toyostismo. Movimentos que, para além das cidades em si, marcarão a organização escolar até como se conhece hoje,

                Do século XX aos dias atuais, a marca do sucesso são as TICs (Tecnologia da Informação e Comunicação). O destaque é para a escola que consegue usar a internet, softwares (redes sociais e outros programas) e hardwares (ar-condicionado, computadores, televisores e Data shows) a seu favor. A diferença com outros tempos é só a NÃO extinção de quem ou alguma instituição que opta pelo comodismo – de qualquer forma a mão de obra barata – escrava – continua, pois, é fácil deduzir que escolas acomodadas produzirão alunos que se submetem a qualquer tipo de trabalho.

                Exemplos práticos são as três escolas observadas. A prova de que algo está errado quando o assunto é a adoção de tecnologias, sejam as físicas ou as organizacionais, é a evasão escolar ou o êxodo do aluno da escola pública para a privada. Uma das instituições já experimenta essa realidade há algum tempo por está situada em cidade maior, já as outras duas começam a dar sinais de fuga discente no momento em que as famílias melhoram usas condições financeiras. Nesse caso, já que não existe a extinção do órgão, considera-se a saída da pessoa como um problema que merece atenção.

                 Saber se a escola inova em tecnologias é fácil, o IBGE, através do PINTEC (Pesquisa de Inovação Tecnológica), a cada dois anos e desde 2000, publica o que estados, municípios e regiões em si, requerem, registram ou introduzem de inovação no mercado; ainda há o Educacenso do governo Federal que disponibiliza o patrimônio tecnológico dos colégios, contudo, ao olhar os dados e comparar com a realidade, tem-se, na verdade, um problema de lixo eletrônico nos três ambientes pesquisados: são vários computadores que não funcionam. O outro problema a ser analisado é a estrutura organizacional. Só uma das três instituições escolhe o seu núcleo diretor através de eleições diretas e está com o seu Projeto Político Pedagógico (PPP), Colegiado e Grêmios em dia, embora, em questionário aplicado junto aos alunos, percebe-se um desconhecimento dos discentes acerca desses órgãos do ambiente escolar. Contudo,  numa das três escolas a situação é bem ruim, pois, viu-se ali indicações políticas para cargos chave como a coordenação pedagógica, pouca divulgação da eleição para membros do Conselho que, provavelmente, por conta disso, há uma inadimplência de recursos federais, bloqueados por questões de prestação de contas.

                  Para se ter uma ideia, a ausência da Construção organizacional do PPP tem impactado diretamente no período pandêmico, pois, para além de ser um planejamento estratégico, a cultura de fazer o Projeto, rotineiramente, seria fundamental na alocação dos recursos financeiros, haja vista que todos os computadores de duas escolas estão sem manutenção há tempos. Funcionando, esse aparato seria um diferencial na vida de vários alunos, o que ajudaria a impedir a enorme evasão por conta da crise. A cultura organizacional seria bem mais eficaz se houvesse uma Programação e não reuniões esporádicas, sem nenhuma menção num plano anual ou mensal, marcadas por circunstâncias. Outro ponto que deveria ser mais uma tecnologia organizacional posta no Projeto Pedagógico, é o caso da autonomia como necessidade de organização social e já na legislação. Desde a Lei de Diretrizes e Bases de 96, essas escolas, com pólos de Universidade Aberta próxima de si, não tiveram nenhum dos diretores se mobilizando por criar um ambiente de parceria com essas instituições que possuem vasta experiência no ensino à distância. A salvação, de novo, feriu a própria autonomia, porque veio de forma centralizada, das secretarias de educação (SEDUC’s) com distribuição de chips e, em alguns casos, até o controle do planejamento mensal do professor. Essa postura se torna perigosa, porque retira os ônus da direção e representa um certo comodismo do núcleo diretor em desejar ser criativo. Quando verificada a história, os povos que se acomodaram não foram muito longe. Em um dos ambientes pesquisados, percebe-se, também, diversas outras normativas que centralizam mais a situação à SEDUC como a cobrança excessiva do registro diário em sistemas onlines até mais do que a prática pedagógica em si. O problema aqui é que essa política vai contra a literatura que pede uma escola mais autônoma e descentralizada. Heloísa Lück (2013) apud Cunha (1995) diz que descentralização existe mesmo é no sistema americano de ensino, onde as famílias se sentem totalmente responsáveis pelas escolas, “... cada vila ou cidade constitui um sistema escolar inteiramente autônomo. O Estado apenas dá algumas diretrizes de caráter extremamente geral e compensações financeiras, [...]”.

                   A verdade é que é difícil de entender como escolas de Estados diferentes, umas até de município, são tão parecidas a ponto de na pandemia continuarem idênticas, Todas adotaram a mesma dinâmica de aulas pelo Whatsapp e cadernos impressos, com diferenças, apenas, de uma fazer o trabalho menos eficiente com relação as outras. Isso faz lembrar algo acerca da “identidade da escola” tão propagado por Heloísa Lück (2013). A autora defende que uma escola que funciona é aquela que tem uma identidade própria e difere, em todos os aspectos, das demais mesmo estando numa mesma cidade.

                A tecnologia é histórica. Praticamente ninguém cria nada sozinho, nisso a época é benéfica às ESCOLAS: a energia elétrica chega a todos os cantos e a internet propicia produzir mais com bem menos esforço. Mesmo assim muitos números negativos mostram o quanto algo está errado na adoção de certas políticas escolares. Basta ver os indicadores antes da quarentena. Nenhum dos órgãos trabalhados consegue passar de 4.0 no Índice da Educação Básica. Mesma pontuação de quinze anos atrás, mesmo com o advento das mídias onlines. Se algo está errado, os diretores costumam dizer que estão apenas seguindo normativas.

                  De forma indutiva é perceptível que nenhuma escola será extinta, pois a sua situação é semelhante a todas os outras do País. Para que a extinção ocorresse era preciso que uma outra escola pública próxima estivesse produzindo inovação, seja tecnológica ou organizacional, suficiente para assimilar os alunos das que têm direções acomodadas.

                  A verdade é que a história tem sempre as repostas, e é sempre bom não perder de vista o que já aconteceu no passado: o comodismo foi derrota de muitas culturas; o sucesso está ligado diretamente ao quanto se cria – realidade distante das escolas brasileiras que se acomodaram em só administrar os normativas das Secretarias de Educação e sem perceberem que reproduzem problemas históricos como o trabalho mal remunerado. Solução passa por inovação organizacional vinda de Brasília.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

 

CARDOSO, Isaac Sabino. Mudanças na organização e na gestão do trabalho na escola e Concepções e processos democráticos de gestão educacional: o problema da apropriação falsa dos nomes. Disponível em <https://isaacsabino.blogspot.com/2018/01/mudancas-na-organizacao-e-na-gestao-do.html>. acesso em 22 de janeiro de 2020-01-22

CARDOSO1. Isaac Sabino. Um painel de experiência Sobre Avaliações em larga escala: uma pesquisa acerca das políticas relacionadas ao processo de avaliação numa escola maranhense e piauiense. Disponível em <https://isaacsabino.blogspot.com/2020/02/um-painel-de-experiencia-sobre.html>  acesso em 26 de novembro de 2020

 

CARDOSO1. Isaac Sabino. Considerações acerca da evolução da concepção de Gestão: dos conceitos que expressam a realidade Disponível em <https://isaacsabino.blogspot.com/2020/01/consideracoes-acerca-da-evolucao-da.html>  acesso em 26 de novembro de 2020

 

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Sanson, João RogérioTeoria das finanças públicas / João Rogério Sanson. – Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2011.

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Oliveira, Dalila Andrade. Política e Gestão da Educação / organizado por Dalila Andrade Oliveira e Maria de Fa´tima Félix Rosar – Belo Horizonte: Autêntica, 2002

 




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