sexta-feira, 7 de abril de 2023

Uma dissertação acerca da relação conceitual da “pessoa” em Stork e Echevarría com a definição de homem de todos os tempos

              Embora haja um debate, desde a antiguidade, acerca de achar o nome certo para expressar a verdade da “coisa”, do “ser”, Dantas (2011, p. 27) lança mão de dizer que o “ser homem” apresenta dimensão somática, psíquica, racional, individual, social, econômica, política, sapiencial, erótica, estética, técnica, informacional, ética etc. É uma visão macro do “ser homem”. Interessa aqui a “micro” de Stork e Echevarría (2005) quando nomeiam o indivíduo particular de “pessoa”. Para tanto eles partem da explicação das marcas da intimidade, manifestação, liberdade e dialogicidade, mostrando uma relação conceitual com a visão macro.
                 O dilema acerca de nomear a “coisa” pelo nome que verdadeiramente a expressa remonta a antiguidade grega. Sócrates, por exemplo, vivia perguntando aos seus conterrâneos se eles sabiam o significado das palavras que nomeavam os atos como “coragem” ou “virtude”. [...] Tal situação tem acontecido desde muito tempo para adjetivar o “ser” que habita isso que se chama corpo, aquilo que todos chamam “homem” e pelo qual não se consegue achar a palavra “una” para predicá-lo na sua essência. Só há partes. E o problema do signo que expressa partes, resignificadas ao longo da história, como ser “material”, “racional”, “sociopolítico”, “ético-moral”, “de práxis”, “estético”, “religioso e transcendental”, é, justamente, o retorno à problemática socrática, o que implica dizer que com o tempo, todos os que optam por vários nomes ou partes para conceituar o “ser” e diferenciá-lo dos animais, por exemplo, incorrem ao erro momentâneo com o surgimento de uma nova tese com outra “parte”. Isso não acaba nunca se for dessa forma. Há que se achar o predicativo que verdadeiramente expressa a essência “homem”. E ele deve existir em alguma língua, sendo numa única palavra de forma universal e precisará ser atemporal.
                Um exemplo de termo histórico temporal e que já soa mal na contemporaneidade é a própria palavra “homem”. Nos dias atuais querer conceituar uma essência com esse nome deixa no ar certo machismo muito combatido hodiernamente. A língua é cheia de ideologias, contaminada, mas é viva e aberta, e por conta disso o emissor é responsável por procurar inovar com substantivos e adjetivos que sejam unos e versáteis.  Tarefa muito difícil, mas com diversos autores ousando por esses caminhos. É o caso de Stork e Echevarría (2005) que em “Fundamentos da Antropologia – um ideal da excelência humana”, trilham por significar “pessoa”.
                Até bem pouco tempo várias violações foram cometidas contra homossexuais, judeus, mulheres e negros porque havia a percepção, na classe dominante, de que aquelas pessoas não eram gente. Essas agressões chamaram a atenção para o entendimento de que eram “homens” e “que o homem é inviolável e [...] porque o atentado contra o homem [...] são sempre uma desordem” Stork e Echevarría (2005, p. 35). A partir dessa premissa a humanidade tomou consciência da existência do “ser” no outro, mesmo o outro sendo muito diferente. Com o surgimento de mais indivíduos na composição do “Ser homem”, Stork e Echevarría (2005) percebem a necessidade de um trabalho em mais este “homem” a partir de seu ser pessoal na intimidade, manifestação, liberdade e dialogicidade.
                 Entende-se dos autores, que a “intimidade” é o desconhecido e escondido da “pessoa”.  O próprio “homem” em contato consigo se ver diante de uma apresentação conhecida e estranha sempre. “o homem tem interior, é para si, e se abre para seu próprio interior na medida em que se atreve a conhecer-se, introduzir-se na profundidade de sua alma” Stork e Echevarría (2005, p. 35). Nesse sentido, a intimidade é o “eu”, a alma, outro mundo. Pela linguagem ou por alguns gestos do próprio corpo, a “pessoa” pode deixar outro indivíduo entrar dentro de si. Dos pensadores antigos, pode-se se dizer que a materialidade (as coisas), a razão, as ideias sociais e políticas, os valores éticos e morais, as práticas, a estética, a religião nascem na intimidade. É o que os dois antropólogos chamam de manifestação.
                 Nisso o corpo é só uma ferramenta para a intimidade fazer acontecer a manifestação.
                 Que pai, que mãe, que professor não ficou feliz por ter ensinado algo ao seu educando e obteve uma resposta com o aprendizado do discípulo? E quantos mestres se apegam aos seus discentes passando cada parte do conhecimento com um prazer imensurável. Tudo isso é o deixar entrar na intimidade e é um ato de dar que poderia ser negado, porque o dono do conhecimento é livre para deixar entrar quem quer dentro do seu interior. Essa tomada de decisão é marcada pela liberdade que é mais uma das notas que caracterizam a pessoa segundo Stork e Echevarría (2005).
                 “A intimidade e a manifestação indicam que o homem é dono de ambas, e ao sê-lo, é dono de si mesmo e princípio de seus atos. Isso nos indica que a liberdade é a terceira nota” Stork e Echevarría (2005, p. 36).
                 Por último, a dialogicidade, que é aquela porta de entrada   ou de  saída  de um para o outro. Conhece-se uma pessoa a partir do momento em que ela fala. O Dar-se, o deixar entrar ou o entrar no outro se dá primordialmente pelo diálogo. Ou seja, Subentende-se, que preso ao corpo o homem precisa sair e viajar rumo ao outro e isso só acontece pela dialogicidade e, viajando ao outro, o homem pode construir (manifestar), é um íntimo que quer se libertar para se manifestar e tudo isso só é possível pelo dialogar. “Dissemos que uma forma de manifestar a intimidade é falar: o homem necessita dialogar”. Stork e Echevarría (2005, p. 39).
                 Alguns problemas são incômodos em Stork e Echevarría (2005) O primeiro problema é precisar de quatro notas ou palavras para concluir “pessoa”. São as partes já combatidas por Sócrates. A velha dificuldade de se desapegar de uma língua contaminada e que quando enumera, temporaliza e localiza, abre espaço para um debate infinito (a humanidade não pode viver de um constante conflito – o ideal é encerrar uma temática com a palavra certa e já partir para outro assunto). O outro problema reforça o primeiro, logo na primeira nota - a intimidade – o leitor é obrigado a pensar: - se a intimidade é debatida com mais força depois da percepção de que grupos excluídos são “homens”, e isso é bem recente na história, implica dizer que o mesmo pode acontecer mais tarde, até com outras espécies, animais, por exemplo. Isso mostra a temporalidade do termo “intimidade” hoje usado só para humanos, ontem usado só para heterossexuais, cristãos, homens e brancos. Dessa forma achar a “palavra” que melhor essencializa o “homem” não vai acabar nunca. O signo intimidade é tão temporal que com alguns cliques e cruzamento de dados se sabe mais da pessoa do que a própria pessoa. O “eu” está escancarado e pode piorar. 
          A Intimidade tem tudo para cair em desuso em bem pouco tempo, porque ela não está mais dentro das pessoas, está em pedaços espalhados pela internet, por exemplo. O termo precisará ser substituído tanto no seu código quanto no seu signo/significante e significado, por outro que nomeie melhor esse “ser” que conversa com o corpo vez por outra, mas que não possui mais segredos guardados dentro de si. Num olhar mais atento, a observação feita neste parágrafo pode se estender para o caso da manifestação, da liberdade e da dialogicidade. Contudo, pode até ser que algum dos outros termos resista e sejam realmente aquilo que os dois antropólogos querem expressar, haja vista alguns já terem sido tão significados e resignificados por vários filósofos.
              É esse o incômodo: a enumeração do “ser” com várias palavras ou com alguma que não resiste ao tempo por desconsiderar outros seres. Sabe-se que é uma falha na língua.
                Portanto, de resto, há sim uma relação conceitual da “pessoa” de Stork e Echevarría (2005) com o “homem” da antiguidade, da idade média, o moderno e o contemporâneo. Uma relação que chama para o dilema da procura de uma essência a ser nomeada de forma particular e universal a esse ser complexo que vem habitando a terra. A relação dos autores com a procura, travada desde muito tempo, é tamanha que se repete a problemática que todos os outros enfrentaram: a de se livrar da língua “humana” contaminada por vivências de lugar, de época e que tende a forçar o emissor a dar mais de um predicativo ao sujeito sempre provocando, assim, um debate infinito.



REFERÊNCIAS

Dantas, José Carlos. Antropologia filosófica / José Carlos Dantas. – São Luís: UemaNet, 2011.

FRASSON, Antonio Carlos,:JUNIOR, Constantino Ribeiro de Oliveira. METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA. São Luís, Maranhão : 2010

Lakatos, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica 1 Marina de Andrade Marconi, Eva
Maria Lakatos. - 5. ed. - São Paulo : Atlas 2003.

PAVIANI. Jayme. Ética e aprendizagem em Platão. HYPNOS, São Paulo, número 27, 2º semestre 2011, p. 246-259

PLATÃO. Ménon. Tradução de Ernesto R. Gomes. Lisboa: Edições Colibri, 1992.

PLATÃO. Fédon. Introdução e comentários de Maria Arminda Alves de Sousa. Porto: Porto Editora, 1995.

Silva, José Maria da. Apresentação de trabalhos acadêmicos: normas e técnicas/José  Maria da Silva , Emerson Sena da Silveira. 5. Ed. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2009


A partir da leitura e percepção do texto acima, Produza um texto dissertativo-argumentativo a partir do tema “OS LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO”.





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