Por Isaac Sabino
Desde sempre a humanidade transmitiu os
conhecimentos acumulados às gerações mais jovens, o ápice dessa transmissão foi
a criação da escola nos moldes que se conhece hoje e que bem recentemente não
tem mais atendido os anseios da sociedade. Tomado por base que todos os
professores são amigos do saber e, portanto, filósofos, essas figuras têm uma
missão de refletir e repensar a escola que sirva a estes tempos. E papel mais
importante ainda tem o filósofo formado na academia. O problema tem sido a
prevalência no foco e visão única entre os docentes - a de que a escola tem que
formar um cidadão crítico - e o esquecimento de outras diretrizes tão
importantes quanto.
Numa rápida viagem na
literatura oficial, é perceptível que o homem sempre buscou formas de
transmitir os saberes acumulados aos mais jovens. Isso acontecia nas rodas numa
fogueira qualquer ou de forma individual – de pai para filho. No bojo de tais
transmissões tinham a moral vigente e o artesanato útil às tarefas do dia a
dia. Isso acontecia em todas as dimensões culturais, mas é claro que algumas
sociedades avançaram mais em suas instituições de educação. O que de certa
forma representou problema porque acabou por elitizar um conhecimento
organizacional e tecnológico de um grupo que menosprezou as outras formas de
conhecer de outros. O auge de tudo isso é o surgimento da escola que não
existia em comunidades ditas mais simples.
Essa elitização adentrou os muros
da escola em dois momentos: num quando a escola era lugar só dos que tinham
posse, e noutro quando os indivíduos marginalizados no primeiro momento começaram
a participar das atividades escolares. Interessa aqui falar desse segundo
momento porque é quando a escola é universalizada e ao mesmo tempo em que ela
começa a perder o prestígio que existia no momento anterior.
A verdade é que esse
prestígio começa a ser perdido no momento em que os professores descriminam a
cultura do aluno e seus familiares. A premissa que diz que a escola tem que
desenvolver o senso crítico leva à conclusão de que a família não sabe fazer
isso, e pior, que o discente não sabe pensar. A escola e os professores
incorrem no erro de se acharem detentores do pensar “correto”. Significa dizer que mesmo quando essa
instituição tenha sido universalizada, o aluno continua sendo marginalizado
porque é apontado como alguém que nada sabe. E aqueles que formam uma elite no
ambiente escolar já recebem a formação crítica em casa e por conta disso, esses
meninos ricos passaram a menosprezar a escola, e principalmente a pública, e
buscar o conhecimento mais útil à vida em outros ambientes: a internet,
cursinhos e fala- se até em educação domiciliar. A escola onde todos os
professores passam todo o horário com o blá blá de formar senso crítico, e
esquecem as outras diretrizes, não consegue ser atrativa nem para os alunos
pobres que lutaram tanto ao longo da história para está ali.
Quando só um pequeno
grupo tinha direito sobre a escola, esse pequeno grupo vivia confortável e
parecia feliz. Tudo isso era associado ao espaço escolar. Depois de muita luta,
o espaço foi aberto a mais pessoas, mas o conhecimento foi para outro lugar e o
que restou no colégio foram só professores que tentam ideologizar crianças para
serem usadas como “bucha de canhão” numa missão docente de uma política particular
e corporativista. Alguns meninos caem nessa lorota, mas quem tem mais dinheiro
vai assistir vídeo aulas na internet e se preparar para uma vida mais produtiva
em ganhos financeiros (o sonho dos pobres quando lutaram para adentrar a
escola).
Esse modelo de escola
não corresponde mais os anseios de uma sociedade que quer ser feliz. E recai
sobre os professores pararem de ressentimentos e de quererem focar só mais no
desenvolver senso crítico, não que isso deva ser deixado de ser trabalhado, mas
os professores e principalmente os filósofos têm a missão de conclamar o desejo
por uma escola que realmente realize sonhos. Uma escola prática e produtiva.
Onde realmente aconteça do aluno saindo dela e enfrentando os primeiros dias no
mundo trabalho, ele diga que sabe fazer isso ou aquilo porque aprendeu na
escola. Hoje isso não acontece.
A visão única de
que a escola tem que desenvolver o senso crítico tem que parar de tratar as
pessoas como criancinhas. As pessoas sabem se defender e se virar. O homem
comum que fica desempregado consegue fazer diversas outras coisas para viver,
mas coisas que ele aprendeu na vida, fora da escola. Agora pense no medo de um
professor universitário doutor com senso crítico desenvolvido e desempregado.
Ele não sabe fazer diversas outras coisas. Com todo o seu senso crítico ele é
aleijado e só sabe dar aulas. Por isso, só o senso crítico desenvolvido não ajuda
nas tarefas cotidianas. Aproveita-se para dizer que há outras diretrizes para
cada carreira docente, mas nos últimos tempos todo o foco é só para o
desenvolvimento do senso crítico. Isso é que em parte tem provocado certo
desinteresse pelo universo escolar, até porque desenvolver senso crítico é mais
teoria.
De novo, Não que o
senso crítico não deva ser trabalhado, esse texto é crítico por si só, contudo,
os jovens da modernidade querem criar coisas, se sentirem úteis e o filósofo
contemporâneo tem a missão política de avisar aos seus colegas docentes a
necessidade de se parar de discriminar os serviços técnicos, braçais, ou
aqueles que gostam de empreender porque isso é, justamente, marginalizar e
tirar de algumas pessoas o que os deixa feliz. É querer elitizar um tipo de
conhecimento em detrimento de outros. É o que mais tem prejudicado o atrativo
que deveria ser a escola. O filósofo não pode ser parcial e viver divulgando
ideologias que só geram um conflito interminável. Por
conta disso, esse pensador é o principal responsável em sair de um campo de
cegueira e apontar outras caminhos que torne a escola mais útil.
REFERÊNCIAS
FRASSON, Antonio Carlos,:JUNIOR, Constantino Ribeiro
de Oliveira. METODOLOGIA DA PESQUISA
CIENTÍFICA. São Luís, Maranhão : 2010
Lakatos, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica 1 Marina de Andrade
Marconi, Eva
Maria
Lakatos. - 5. ed. - São Paulo : Atlas 2003.
Libâneo,
José Carlos. Adeus professor, adeus
professora. Novas exigências educacionais e profissão docente. Cortez
Editora. 1998.
Silva, José Maria da. Apresentação
de trabalhos acadêmicos: normas e técnicas/José Maria da Silva , Emerson Sena da Silveira. 5.
Ed. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2009
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