quarta-feira, 19 de julho de 2023

Democracia Direta e Representativa e o perfil dos líderes políticos atuais

     

     Demo (povo)+Kratos (poder) - Democracia - é o regime de governo em que o poder de tomar importantes decisões emana do povo. Em alguns países a democracia difere sendo liberal ou não liberal. Dá para se analisar três países que interpretam a democracia ao seu modo: no Brasil, a democracia é representativa – os representantes são eleitos diretamente pelo povo; No caso inglês - a democracia é monárquica, com o povo elegendo os partidos que formam o parlamento que elegem o primeiro ministro; Contudo, o país que mais tem servido de exemplo para outros no mundo é a Suíça. Lá a Democracia tem sido direta desde 1890. A adoção de um dos tipos democráticos determina o perfil dos líderes destas nações.
     Surgida na Grécia, em seus primórdios, a Democracia era de forma direta, ou seja, o povo ia às praças públicas e votava naquilo que melhor lhe covinha. Não havia interferência de cunho subjetivo de um indivíduo (representante) que fosse contra a vontade direta do cidadão. Mas houve o crescimento das cidades e por conta disso, a democracia teve que ser remodelada e passou a ser de forma representativa – o cidadão passou a votar num outro e depositar toda a sua confiança neste.
     O tempo passou e mesmo sem participar das decisões da cidade de forma direta, aos homens foi dada a chance de eleger seus líderes periodicamente através de eleições livres e justas. Regras básicas de organização do Estado e os direitos civis e políticos dos cidadãos foram mantidos. Samuel Huntington (1927-2008) chama esse período democrático de Liberal. Democracia liberal que não existirá em todos os lugares: boa parte dos países do mundo terão seus líderes eleitos pelo voto popular, mas pequenos atentados, como governar por decreto ou desrespeito às instituições como o judiciário serão frequentes. Fared Zakaria chamará essas democracias de Não Liberais.
     Na história, cada nação adaptou a democracia a sua realidade. Com o Brasil não foi diferente. Por aqui, o regime é representativo: a cada dois anos a população é convocada a votar em seus líderes e confiar que no restante dos dias, eles tomarão decisões favoráveis àqueles que os elegeram. O país dificilmente faz alguma consulta popular e qualquer fala a respeito de plebiscito leva o parlamento a argumentar que o cidadão comum não tem competência para o debate. O povo se convence e vive a espera de um líder salvador da pátria. Essa espera acontece porque algumas instituições não são respeitadas – é o caso dos partidos políticos.
     Esse desejo por um salvador da pátria - um rosto, um líder, não existe em democracias onde os partidos são instituições fortes. É o caso da Inglaterra. Lá um rosto não fica na mídia por muito tempo, pois os cidadãos votam em partidos e estes, por sua vez, escolhem o primeiro ministro que governará o país. Ainda há o contrapeso da monarquia, que não governa, mas faz a função de chefe de Estado e funciona como reserva caso os partidos ou o primeiro ministro ultrapassem seus limites. A Monarquia é legitimada pela vontade popular inglesa.
     Tanto a democracia brasileira quanto a inglesa são alvos de protestos. É como se as pessoas não quisessem mais ser representadas. Há um desejo enorme nos cidadão de participarem de forma direta das decisões que influenciarão suas vidas. O debate é fomentado com o advento da internet.
     A dúvida tem como premissa o seguinte: se o mundo, o Brasil ou Inglaterra usam a internet para fazer circular trilhões em dinheiro por que não há interesse em fazer circular vontades do povo por este mesmo mecanismo?
     É como se a vontade do cidadão fosse benéfica a eles (cidadãos) e maléfica a uma pequena minoria que vive na zona de conforto - sempre envolvidos com o poder e aprovando leis que beneficiam suas empresas, propiciam sua manutenção no poder e mantém o homem comum na mesmice. Aquela democracia que era direta sofre interferências de cunho subjetivo do representante, passa a ser indireta e aristocrática. Para piorar, o povo é levado a crer - a começar pela escola, pela igreja e pela mídia, que não tem capacidade de decidir – que é um ignorante e pode tomar decisões que prejudicariam a “democracia” e quebrariam o país. Tudo falácias.
     A prova vem de lugares melhores de se viver do que o Brasil. Menos conflituosos do que a Inglaterra. É o caso da Suíça. Lá a democracia é direta: decisões polêmicas sempre passam por referendo e qualquer cidadão pode convocar um plebiscito. Percebe-se numa ordem mundial a ausência de um rosto de escala internacional vindo da Suíça, conforme ocorre com presidentes no Brasil, a rainha ou mesmo o primeiro ministro na Inglaterra. Os dois países sempre têm rostos estampadas nas mídias internacionais. Na Suíça, como o povo detém o poder, a autoridade se dá de forma horizontal, sem rosto internacional. No Brasil e na Inglaterra, o poder é vertical e por isso sempre há um rosto símbolo destes países.
     Na verdade, é notório que uma pequena elite tem medo de que as decisões sejam tomadas diretamente pelo povo, pois com isso ocorreria de fato distribuição de renda. – Que maioria votaria por fazer voto de pobreza para que uma minoria viva confortavelmente?  Para que não haja essa tomada de decisão direta e o povo não se rebele, é oferecido a cada período (normalmente quatro anos) um rosto – um rosto e o direito de votar nele. Há uma falsa impressão de democracia, e por conta disso o povo pensa que participou do processo. A grande mídia fica responsável em fazer o eleitor acreditar que ele é quem não sabe votar, quando na verdade o rosto foi oferecido com opções de “pior ou menos pior” ao eleitor, e muito bom aos patrocinadores (empresários e grande mídia).
     É com tudo isso que se conclui o seguinte: países erram e acertam em suas políticas democráticas. O problema é que os erros dificilmente são eliminados e mesmo que haja experiências de sucesso, até mesmo no Brasil ou na Inglaterra, há uma persistência no erro. Percebe-se acertos na democracia representativa quando ela é flexível – ao povo é dada a chance de “recall” caso os líderes tomem decisões ou se comportem de forma prejudicial ao país. Permitir, de forma rígida, que o povo vá às urnas só de quatro em quatro anos é o erro; outro acerto é o fortalecimento de instituições como os partidos políticos – uma instituição forte é mais duradora do que um rosto. O erro reside em países que têm partidos fracos e que para se manterem no poder buscam sempre um rosto popular para expor.
     Todos os erros citados só propiciam o desejo da população por um líder mítico, um rosto mítico.  Que tem aparecido. O perfil é o mesmo: carismático, forte, cheio de boas intenções. A verticalização do poder continua. Com pouco tempo as esperanças do povo se esvai, não demora muito e aparece outra figura na mídia – é um andar em círculo. Tem acontecido no Brasil.
     Uma saída para toda essa problemática é copiar as experiência de sucesso, mesmo as de países que optaram pela representatividade. Mas o melhor mesmo é usar a tecnologia que se tem atualmente e incentivar ao máximo a participação popular, reduzindo a representatividade a casos excepcionais. E já há experiências com êxito nesse sentido. A Democracia Representativa nos moldes em que se encontra atualmente está fadada ao fracasso – pode até incentivar grandes líderes, mas a humanidade já percebeu que o melhor não são líderes, mas instituições que funcionam.
   

    

 

REFERÊNCIAS

 

Coelho, Ricardo Corrêa Ciência política / Ricardo Corrêa Coelho. – 2. ed. reimp.Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC, 2012.159p. : il.

 

Silva, José Maria da. Apresentação de trabalhos acadêmicos: normas e técnicas/José  Maria da Silva , Emerson Sena da Silveira. 5. Ed. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2009

 

Sistema político inglês . Tradição e bom senso. Disponível em: <http://www.flc.org.br/revista/materias_view816c.html?id=%7BDA140FEF-6A79-46B2-BFAB-341FFC2D8D42%7D> Acesso em 08 julho 2013

 

TREVISAN, Andrei Pittol; BELLEN, Hans Michael van.  Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro 42 (3): 529-50, maio/jun. 2008.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

O QUE EU SEI!

QUER SABER? Aqui você encontrará resenhas de livros, resumos, comentários sobre política e COISAS que você não achou em outro lugar.