1.
Racionalistas VS Empiristas: um
debate atual
Quem nunca se pegou debatendo sobre a origem
ou continuidade do ato de conhecer. Noutro dia eu entrei num fórum desses que
debatia, justamente, este tema, a partir de um texto de Mário Sérgio Cortela –
“Nós não nascemos prontos”. O que eu deixei passar e alguns colegas ali também,
é que tal assunto é dialético, histórico, com reflexões fortes e com debates intensos
na modernidade entre René Descartes e John Locke.
Na ocasião do debate eu havia dito:
“Mário Sérgio Cortela credita a culpa do comportamento atual dos jovens
em nós professores quando ditamos frases de cunho negativo a eles. “Nós não
nascemos prontos”, Eu concordo, em partes, porque creio em algo que já nasce
com a gente e amadurece com o tempo: sentir a diferença entre o bem e o mal
quando aplicados a nós ou outrem, por exemplo.”.
Embora
eu saiba que haja certa religiosidade em quem acredita que o homem já nasce
conhecendo coisas (É o conhecimento inato defendido pelo Matemático e filósofo francês
René Descartes) eu fui opinião vencida, porque eu tinha me esquecido de John
Locke, o principal autor contrário a Descartes.
René Descartes é metafísico porque acredita
que alguma ideia do homem já nasce com ele (homem) – é o caso da noção de
espaço. A origem desses pensamentos, para o autor advém de Deus. Há resquícios
de Deus no homem e por isso o homem, através da alma, já nasce sabendo coisas.
O problema de Descartes, dito por Locke é que
se houvesse ideias inatas, então todos os seres humanos, de todas as origens e
idades, inclusive as crianças pequenas, deveriam ter as mesmas ideias, o que
não é o que podemos comprovar pela observação.
Realmente, é uma opinião forte e difícil de
ser refutada. E é com ela que o homem moderno vai criar, junto à metafísica
(Deus e alma), uma nova consciência que ver o homem como “uma folha de papel em
branco, estando sem nenhuma marca antes da experiência”. Contando com Cortela e a Tutora do
curso, a exceção da minha pessoa, todos os outros participantes concordaram que
o homem e seus conhecimentos podem ser construídos sem a interferência de um
Deus, de uma alma ou de qualquer coisa que argumente a favor de um conhecimento
que já nasça com o homem.
2.
Deus: o racional e o inatismo em
Descartes
Depois de sair da tutoria de seus mestres e
após viajar por outras terras, Descartes se ver duvidando de tudo aquilo que
ele aprendera: da história filosófica, da língua, dos costumes. Subentende-se
do autor que tudo isso foi colocado nele como uma verdade e que, só na sua
maturidade, ele percebe como ilusório. A premissa de crer em tudo como falso
leva a conclusão de que o que fala o próprio autor pode ser considerado
ilusório por outros pensadores. Descartes é humilde em reconhecer tal situação.
Mas, para não incorrer no erro, o filósofo propõe um método baseado na razão. O
método é dividido em quatro partes:
O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não
conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a
precipitação e a prevenção,[...]
O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis
e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las.
O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos
objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como
por degraus, até o conhecimento dos mais compostos,[...]
E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e
revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir (Descartes. P. 13
adaptado)
O método cartesiano é
revolucionário porque exige que a partir de então qualquer teoria siga um
caminho, sempre com a proposta de se aproximar da verdade eliminando partes
frágeis do argumento. É o começo de algo mais próximo da ciência. O pensador vai
além em suas pesquisas e ao descobrir que os signos humanos usados para comunicação
possuem problemas, ele conclui que a língua universal é aquela encontrada na
matemática. Por conta deste método, do desejo da verdade
e de sua proximidade com os números, o matemático francês se enquadra no grupo
dos racionalistas.
Racionalista porque quando o filósofo
francês descobre que a maior parte do seu conhecimento é falsa e no momento em
que ele parte para buscar o seu “eu” verdadeiro, ao descobrir-se racional, o pensador
conclui com o inatismo, pois a noção ou moral verdadeira já existiam nele e só
quando ele começou a questionar, através de um senso ou vontade da verdade é
que acontece a descoberta. É por conta
disso que o filósofo matemático propõe uma metafísica que dita que as ideias advêm
de Deus e estão transcritas na alma. Para o autor, o “penso” é a alma. A verdade sendo a razão já estava dentro dele e foi contaminada pela
falsidade, mas alguns costumes resistiam.
3.
Uma proposta contrária ao Racionalismo
e Inatismo. John Locke apresenta o empirismo
Mesmo
lutando para se livrar de um “eu” que Descartes acreditava não ser ele, o
pensador não conseguiu inovar em dizer de onde vem o conhecimento, e por conta
disso, só acabou reforçando uma ideologia monárquica que já pregava serem eles
(reis) uma descendência direta de Deus. Essa postura fragilizou a obra do autor e não
tardou, o médico inglês e filósofo John Locke apontou uma série de argumentos
que negavam o racionalismo e o inatismo de René Descartes.
Para
negar o racionalismo, John Locke lança o empirismo. A proposta deste movimento
é que todo e qualquer tipo de conhecimento humano (o autor usa o termo ideia)
começa do zero a partir de cada nascimento. É através dos sentidos e das
experiências que o homem vai somando uma coisa com a outra até chegar aos
entendimentos necessários à vida diária.
Logo nas suas primeiras falas, o filósofo inglês usa um argumento muito
forte ao dizer que se existisse uma entidade buscando se descobrir, ou seja, a
razão, querendo mostrar as verdades já existentes dentro do homem, todos
estariam de posse da verdade – da criança ao idiota. Ele conclui dizendo que
isso não acontece na realidade
Não se encontrou naturalmente impressas na
mente porque não são conhecidas pelas crianças, idiotas etc. Em primeiro lugar,
é evidente que não só todas as crianças, como os idiotas, não possui delas a
menor apreensão o pensamento. (Locke.
P.38)
Já o empirismo, além de discordar
do racionalismo, é crítico ferrenho do inatismo, e para defesa desse sistema, o
médico inglês defende que a mente apreende ideias particulares e as nomeia para
posterior uso, aperfeiçoamento ou descarte. Percebe-se, que para Locke não há
nada anterior ao homem e só num processo de aceita ou não aceita é que o homem vai
formulando suas verdades. Esse processo mental da disputa que prevalece o
argumento mais forte, segundo o filósofo inglês vai influenciar em diversos
contratos sociais que inclui-se aí os princípios de fé, justiças, diversas
regras morais, até as virtudes estão vinculadas ao proveito.
Empirista porque quando o
filósofo inglês acredita que todo o conhecimento humano é fruto de um contrato
inconsciente entre todas as partes a depender do local e do momento histórico.
Por isso, para ele, o inatismo não existe.
4.
O problema do conhecimento em
Descartes e Locke à luz leiga dos dias atuais
Este texto é escrito num momento
anterior aos debates que se promoverão, historicamente, após as publicações de René
Descartes e John Locke. É sabido que muitos pensadores já refutaram ou
confirmaram as teses desses dois filósofos modernos. Contudo, até o momento
desta escrita, não se teve acesso a essas arguições. Deixar as leituras de
textos posteriores para depois foi proposital no intuito de apontar alguns
pontos de vistas pessoais verificados durante as leituras acerca do
Racionalismo e Inatismo Cartesiano e do Empirismo de Locke.
Se fosse para se criar uma pintura de
Descartes e Locke, a transcrição seria a seguinte: Descartes apontando para
cima, para a metafísica – como quem diz que os pensamentos puros e racionais
são obras de uma divindade, enquanto Locke aponta para baixo dizendo que o
homem pensante é só uma criação do próprio homem.
Tanto Descartes quanto Locke
procuram demonstrar como surge e se desenvolve o conhecimento no homem. Ambos
coincidem em dizer que certas “morais” são só convenções humanas. Para
Descartes, algo que deve ser derrubado igual uma casa e construído de novo;
para Locke, algo que deve ser transcrito com um novo contrato social que
abandone totalmente a ideia de que alguém já nasce especial. O problema dos dois
são as contaminações daquilo que eles próprios combatem. Assim como o
matemático francês deixa o seu “eu” particular de matemático interferir na sua
proposta de apresentar a origem do conhecer, a medicina do inglês é
subentendida nos seus textos – o resultado é um homem dissecado e seco, finito
e sem alma. Por conta disso, é fácil perceber uma defesa política e humana nos
dois autores. Pode ser importante para a mudança de rumos da humanidade daquela
época em diante, foi o que aconteceu mais tarde, mas não deixa de ser uma
contaminação de um momento histórico e de lugar.
Incômodo
em Descartes é o momento em que ele descobre que todo o seu conhecimento é
falso e no momento em que a sua razão parte para buscar o seu “eu” verdadeiro, a
própria razão e, portanto a verdade, o pensador conclui com o inatismo. Nisso, ele
sai do plano da razão e entra na metafísica inconscientemente reforçando a
ideia de poder sobrenatural pregado à época. Dos dois um: ou faltou coragem do
autor de ir contra a igreja e o poder da época ou, por falta de tempo vital, o
matemático francês preferiu um caminho mais fácil com argumentos
pré-existentes.
Já em Locke, é inevitável não questionar
como há certos costumes coincidentes entre povos mesmo que eles nunca tenham
tido contato um com o outro? É o caso da noção de Deus, deus, deuses. Todos os
povos cultivam fé com alguma divindade. E há outras várias atitudes no homem
que não são ensinadas, mas estão lá. O plano terreno do filósofo inglês coloca
uma barreira querendo encerrar um assunto, o que não acontece.
O
debate acerca do racionalismo/inatismo versus o empirismo é um debate acerca
das origens do conhecimento e sempre culmina num conflito entre divindades
versus homens, do começo. René Descartes e John Locke tentam separar algo que é
a complexidade misturada do homem. Mesmo, em dias atuais, pelo menos depois que
se dê um lado para que as pessoas um, várias indivíduos, pelo menos de forma teórica
e oral, optam pelo inatismo metafísico de Descartes. Quando se trata de um
discurso escrito e prático, as pessoas tendem a ficar mais do lado de John Locke.
Questão 1 - René Descartes e John Locke apresentam visões diferentes sobre a origem do conhecimento. Qual é a principal diferença entre as suas perspectivas?
A) Descartes defende o inatismo, enquanto Locke defende o empirismo.
B) Descartes defende o empirismo, enquanto Locke defende o inatismo.
Questão 2 - De acordo com o texto, qual é a crítica de John Locke ao inatismo de René Descartes?
A) Locke argumenta que as ideias inatas são necessárias para a sobrevivência humana.
B) Locke argumenta que, se existissem ideias inatas, todas as pessoas teriam as mesmas ideias, o que não é o caso.
1ª) QUEM É O FILÓSOFO RACIONALISTA DO TEXTO?
(A) RenRené Descartes
(B) John Locke
2ª) QUEM É O FILÓSOFO EMPIRISTA DO TEXTO?
A) René Descartes
(B) John Locke
3ª Qual é o pensamento de René Descartes
(A) Lança o empirismo. A proposta deste movimento é que todo e qualquer tipo de conhecimento humano (o autor usa o termo ideia) começa do zero a partir de cada nascimento.
(B) Émetafísico porque acredita que alguma ideia do homem já nasce com ele (homem) – é o caso da noção de espaço. A origem desses pensamentos, para o autor advém de Deus.
4ª Qual é o pensamento de John Locke
(A) Lança o empirismo. A proposta deste movimento é que todo e qualquer tipo de conhecimento humano (o autor usa o termo ideia) começa do zero a partir de cada nascimento.
(B) Émetafísico porque acredita que alguma ideia do homem já nasce com ele (homem) – é o caso da noção de espaço. A origem desses pensamentos, para o autor advém de Deus.
Link para o gabarito
REFERÊNCIAS
CORTELLA, Mário Sérgio. Seminário família, escola e
cidadania: quais os caminhos? Escola da Assembleia Legislativa de Santa
Catarina, agosto de 2007. Palestra “Nós não nascemos prontos”. In: RAMOS,
Rogério de Araújo. Ser protagonista: Língua portuguesa. 2. ed. São Paulo: SM,
2013. Adaptado.
Dutra, Luiz Henrique de Araújo. Teoria do conhecimento /
Luiz Henrique de Araújo Dutra. — Florianópolis, 2008.
FRASSON, Antonio Carlos,:JUNIOR, Constantino Ribeiro
de Oliveira. METODOLOGIA DA PESQUISA
CIENTÍFICA. São Luís, Maranhão : 2010
Descartes, René, 1596-1650. Discurso do Método/René Descartes; tradução Ciro Mioranza, - São
Paulo : Escala Educacional, 2006
Locke, John, 1632-1704. Ensaio acerca do entendimento humano; tradução Anoar Aiex, - São Paulo
: Editora Nova Cultura, 1999
SILVA, José Maria da. Apresentação de trabalhos acadêmicos:
normas e técnicas/José Maria da Silva , Emerson Sena da Silveira. 5. Ed. –
Petrópolis, RJ : Vozes, 2009
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