terça-feira, 5 de setembro de 2023

Os conceitos das correntes racionalistas e empiristas: uma crítica leiga à luz da atualidade





1.         Racionalistas VS Empiristas: um debate atual

                   Quem nunca se pegou debatendo sobre a origem ou continuidade do ato de conhecer. Noutro dia eu entrei num fórum desses que debatia, justamente, este tema, a partir de um texto de Mário Sérgio Cortela – “Nós não nascemos prontos”. O que eu deixei passar e alguns colegas ali também, é que tal assunto é dialético, histórico, com reflexões fortes e com debates intensos na modernidade entre René Descartes e John Locke.
                  Na ocasião do debate eu havia dito:
“Mário Sérgio Cortela credita a culpa do comportamento atual dos jovens em nós professores quando ditamos frases de cunho negativo a eles. “Nós não nascemos prontos”, Eu concordo, em partes, porque creio em algo que já nasce com a gente e amadurece com o tempo: sentir a diferença entre o bem e o mal quando aplicados a nós ou outrem, por exemplo.”. 
                   Embora eu saiba que haja certa religiosidade em quem acredita que o homem já nasce conhecendo coisas (É o conhecimento inato defendido pelo Matemático e filósofo francês René Descartes) eu fui opinião vencida, porque eu tinha me esquecido de John Locke, o principal autor contrário a Descartes.
                   René Descartes é metafísico porque acredita que alguma ideia do homem já nasce com ele (homem) – é o caso da noção de espaço. A origem desses pensamentos, para o autor advém de Deus. Há resquícios de Deus no homem e por isso o homem, através da alma, já nasce sabendo coisas.
                   O problema de Descartes, dito por Locke é que se houvesse ideias inatas, então todos os seres humanos, de todas as origens e idades, inclusive as crianças pequenas, deveriam ter as mesmas ideias, o que não é o que podemos comprovar pela observação.
                   Realmente, é uma opinião forte e difícil de ser refutada. E é com ela que o homem moderno vai criar, junto à metafísica (Deus e alma), uma nova consciência que ver o homem como “uma folha de papel em branco, estando sem nenhuma marca antes da experiência”.                Contando com Cortela e a Tutora do curso, a exceção da minha pessoa, todos os outros participantes concordaram que o homem e seus conhecimentos podem ser construídos sem a interferência de um Deus, de uma alma ou de qualquer coisa que argumente a favor de um conhecimento que já nasça com o homem.


2.         Deus: o racional e o inatismo em Descartes

                   Depois de sair da tutoria de seus mestres e após viajar por outras terras, Descartes se ver duvidando de tudo aquilo que ele aprendera: da história filosófica, da língua, dos costumes. Subentende-se do autor que tudo isso foi colocado nele como uma verdade e que, só na sua maturidade, ele percebe como ilusório. A premissa de crer em tudo como falso leva a conclusão de que o que fala o próprio autor pode ser considerado ilusório por outros pensadores. Descartes é humilde em reconhecer tal situação. Mas, para não incorrer no erro, o filósofo propõe um método baseado na razão. O método é dividido em quatro partes:

O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não
conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção,[...]
O segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las.
O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos,[...]
E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir (Descartes. P. 13 adaptado)  

                   O método cartesiano é revolucionário porque exige que a partir de então qualquer teoria siga um caminho, sempre com a proposta de se aproximar da verdade eliminando partes frágeis do argumento. É o começo de algo mais próximo da ciência. O pensador vai além em suas pesquisas e ao descobrir que os signos humanos usados para comunicação possuem problemas, ele conclui que a língua universal é aquela encontrada na matemática. Por conta deste método, do desejo da verdade e de sua proximidade com os números, o matemático francês se enquadra no grupo dos racionalistas.
                   Racionalista porque quando o filósofo francês descobre que a maior parte do seu conhecimento é falsa e no momento em que ele parte para buscar o seu “eu” verdadeiro, ao descobrir-se racional, o pensador conclui com o inatismo, pois a noção ou moral verdadeira já existiam nele e só quando ele começou a questionar, através de um senso ou vontade da verdade é que acontece a descoberta.  É por conta disso que o filósofo matemático propõe uma metafísica que dita que as ideias advêm de Deus e estão transcritas na alma. Para o autor, o “penso” é a alma. A verdade sendo a razão já estava dentro dele e foi contaminada pela falsidade, mas alguns costumes resistiam.

3.                                               Uma proposta contrária ao Racionalismo e Inatismo. John Locke apresenta o empirismo
                   Mesmo lutando para se livrar de um “eu” que Descartes acreditava não ser ele, o pensador não conseguiu inovar em dizer de onde vem o conhecimento, e por conta disso, só acabou reforçando uma ideologia monárquica que já pregava serem eles (reis) uma descendência direta de Deus.  Essa postura fragilizou a obra do autor e não tardou, o médico inglês e filósofo John Locke apontou uma série de argumentos que negavam o racionalismo e o inatismo de René Descartes.
                   Para negar o racionalismo, John Locke lança o empirismo. A proposta deste movimento é que todo e qualquer tipo de conhecimento humano (o autor usa o termo ideia) começa do zero a partir de cada nascimento. É através dos sentidos e das experiências que o homem vai somando uma coisa com a outra até chegar aos entendimentos necessários à vida diária.  Logo nas suas primeiras falas, o filósofo inglês usa um argumento muito forte ao dizer que se existisse uma entidade buscando se descobrir, ou seja, a razão, querendo mostrar as verdades já existentes dentro do homem, todos estariam de posse da verdade – da criança ao idiota. Ele conclui dizendo que isso não acontece na realidade
Não se encontrou naturalmente impressas na mente porque não são conhecidas pelas crianças, idiotas etc. Em primeiro lugar, é evidente que não só todas as crianças, como os idiotas, não possui delas a menor apreensão o pensamento.    (Locke. P.38)             
              Já o empirismo, além de discordar do racionalismo, é crítico ferrenho do inatismo, e para defesa desse sistema, o médico inglês defende que a mente apreende ideias particulares e as nomeia para posterior uso, aperfeiçoamento ou descarte. Percebe-se, que para Locke não há nada anterior ao homem e só num processo de aceita ou não aceita é que o homem vai formulando suas verdades. Esse processo mental da disputa que prevalece o argumento mais forte, segundo o filósofo inglês vai influenciar em diversos contratos sociais que inclui-se aí os princípios de fé, justiças, diversas regras morais, até as virtudes estão vinculadas ao proveito.
              Empirista porque quando o filósofo inglês acredita que todo o conhecimento humano é fruto de um contrato inconsciente entre todas as partes a depender do local e do momento histórico. Por isso, para ele, o inatismo não existe.

4.                                               O problema do conhecimento em Descartes e Locke à luz leiga dos dias atuais
                   Este texto é escrito num momento anterior aos debates que se promoverão, historicamente, após as publicações de René Descartes e John Locke. É sabido que muitos pensadores já refutaram ou confirmaram as teses desses dois filósofos modernos. Contudo, até o momento desta escrita, não se teve acesso a essas arguições. Deixar as leituras de textos posteriores para depois foi proposital no intuito de apontar alguns pontos de vistas pessoais verificados durante as leituras acerca do Racionalismo e Inatismo Cartesiano e do Empirismo de Locke.
                   Se fosse para se criar uma pintura de Descartes e Locke, a transcrição seria a seguinte: Descartes apontando para cima, para a metafísica – como quem diz que os pensamentos puros e racionais são obras de uma divindade, enquanto Locke aponta para baixo dizendo que o homem pensante é só uma criação do próprio homem.
                   Tanto Descartes quanto Locke procuram demonstrar como surge e se desenvolve o conhecimento no homem. Ambos coincidem em dizer que certas “morais” são só convenções humanas. Para Descartes, algo que deve ser derrubado igual uma casa e construído de novo; para Locke, algo que deve ser transcrito com um novo contrato social que abandone totalmente a ideia de que alguém já nasce especial. O problema dos dois são as contaminações daquilo que eles próprios combatem. Assim como o matemático francês deixa o seu “eu” particular de matemático interferir na sua proposta de apresentar a origem do conhecer, a medicina do inglês é subentendida nos seus textos – o resultado é um homem dissecado e seco, finito e sem alma. Por conta disso, é fácil perceber uma defesa política e humana nos dois autores. Pode ser importante para a mudança de rumos da humanidade daquela época em diante, foi o que aconteceu mais tarde, mas não deixa de ser uma contaminação de um momento histórico e de lugar.
                   Incômodo em Descartes é o momento em que ele descobre que todo o seu conhecimento é falso e no momento em que a sua razão parte para buscar o seu “eu” verdadeiro, a própria razão e, portanto a verdade, o pensador conclui com o inatismo. Nisso, ele sai do plano da razão e entra na metafísica inconscientemente reforçando a ideia de poder sobrenatural pregado à época.  Dos dois um: ou faltou coragem do autor de ir contra a igreja e o poder da época ou, por falta de tempo vital, o matemático francês preferiu um caminho mais fácil com argumentos pré-existentes.
                   Já em Locke, é inevitável não questionar como há certos costumes coincidentes entre povos mesmo que eles nunca tenham tido contato um com o outro? É o caso da noção de Deus, deus, deuses. Todos os povos cultivam fé com alguma divindade. E há outras várias atitudes no homem que não são ensinadas, mas estão lá. O plano terreno do filósofo inglês coloca uma barreira querendo encerrar um assunto, o que não acontece.
                  O debate acerca do racionalismo/inatismo versus o empirismo é um debate acerca das origens do conhecimento e sempre culmina num conflito entre divindades versus homens, do começo. René Descartes e John Locke tentam separar algo que é a complexidade misturada do homem. Mesmo, em dias atuais, pelo menos depois que se dê um lado para que as pessoas um, várias indivíduos, pelo menos de forma teórica e oral, optam pelo inatismo metafísico de Descartes. Quando se trata de um discurso escrito e prático, as pessoas tendem a ficar mais do lado de John Locke.


1ª) QUEM É O FILÓSOFO RACIONALISTA DO TEXTO?

(A) RenRené Descartes
(B) John Locke

2ª) QUEM É O FILÓSOFO EMPIRISTA DO TEXTO?

A) René Descartes
(B) John Locke

3ª Qual é o pensamento de René Descartes

(A) Lança o empirismo. A proposta deste movimento é que todo e qualquer tipo de conhecimento humano (o autor usa o termo ideia) começa do zero a partir de cada nascimento. 

(B) Émetafísico porque acredita que alguma ideia do homem já nasce com ele (homem) – é o caso da noção de espaço. A origem desses pensamentos, para o autor advém de Deus. 

4ª Qual é o pensamento de John Locke

(A) Lança o empirismo. A proposta deste movimento é que todo e qualquer tipo de conhecimento humano (o autor usa o termo ideia) começa do zero a partir de cada nascimento. 

(B) Émetafísico porque acredita que alguma ideia do homem já nasce com ele (homem) – é o caso da noção de espaço. A origem desses pensamentos, para o autor advém de Deus. 


Link para o gabarito



REFERÊNCIAS

CORTELLA, Mário Sérgio. Seminário família, escola e cidadania: quais os caminhos? Escola da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, agosto de 2007. Palestra “Nós não nascemos prontos”. In: RAMOS, Rogério de Araújo. Ser protagonista: Língua portuguesa. 2. ed. São Paulo: SM, 2013. Adaptado.

Dutra, Luiz Henrique de Araújo. Teoria do conhecimento / Luiz Henrique de Araújo Dutra. — Florianópolis, 2008.

FRASSON, Antonio Carlos,:JUNIOR, Constantino Ribeiro de Oliveira. METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA. São Luís, Maranhão : 2010

Descartes, René, 1596-1650. Discurso do Método/René Descartes; tradução Ciro Mioranza, - São Paulo : Escala Educacional, 2006

Locke, John, 1632-1704. Ensaio acerca do entendimento humano; tradução Anoar Aiex, - São Paulo : Editora Nova Cultura, 1999

SILVA, José Maria da. Apresentação de trabalhos acadêmicos: normas e técnicas/José Maria da Silva , Emerson Sena da Silveira. 5. Ed. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2009




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