segunda-feira, 28 de agosto de 2023

O primeiro momento entre fé e razão no pensamento medieval: uma resenha de “Figuras do pensamento medieval”


Lauand, João Sérgio (org.) Temas e figuras do pensamento medieval. Jean Lauand (org.) : vários autores São Paulo: Factash Editora, 2009. p. 14 x 21 cm.
João Sérgio Lauand, Doutor em Psicologia da Educação pela Faculdade de Educação da USP, Foi professor, entre outras, da escola Politécnica da USP e do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, Membro Fundador do CemOrOc – Centro de Estudos Medievais – Oriente & Ocidente, da Faculdade de Educação da USP. Professor Investigador do IJI-UP, Instituto Jurídico Interdisciplinar, da Faculdade de Direito do Porto. Professor da Escola Dominicana de Teologia.
                  “Temas e figuras do pensamento medieval” é um conjunto de textos organizados por João Sérgio Lauand com participação de Jean Lauand, Julián Marías, Roberto C. G. Castro e Josef Pieper. São sete textos que trabalham o cristianismo diante da filosofia numa análise que inclui Santo Agostinho, Boécio, Cassiodoro e São Tomás de Aquino.
                      Os textos tratam dos dilemas de personalidades da igreja cristã que lutaram para tornar o conhecimento religioso algo filosófico e mais próximo do racional. Percebe-se a seguinte divisão no trabalho dos autores: Lauand introduz com “O cristianismo diante da filosofia e da cultura pagãs”. As outras partes, dos outros autores, são nomeadas em “Agostinho e o crepúsculo de Roma”, “Agostinho e a Filosofia”, “A leitura alegórica da Bíblia”, “Boécio e Cassiodoro: a transmissão da cultura aos bárbaros”, “O Pseudo-Dionísio Areopagita: o “antídoto” medieval ao racionalismo na teologia”, “O Elemento Negativo na Filosofia de Tomás de Aquino”.
                     Em “O cristianismo diante da filosofia e da cultura pagãs”, o leitor é convidado a olhar o histórico e o momento da cisão entre a religião judaica e a cristã que, diferente daquela, assimila coisas boas da cultura pagã e deixa participar em si aqueles que não nasceram no judaísmo. Sobre as ideias consideradas “ruins”, Lauand reforça o descarte com texto do apóstolo Paulo. O autor também chama a atenção para uma característica típica do cristianismo: a necessidade do cristão se distanciar do conhecimento formal ensinado nas escolas e universidades e os cuidados com o falso cristianismo que é o maniqueísmo. Interessante ainda falar da vertente mais dura e radical de alguns cristãos, Aquela pregada por Tertuliano que trata de uma moral que se afaste totalmente de práticas pecaminosas.
                      Em “Agostinho e o crepúsculo de Roma”, Jean Lauand relata o declínio do império romano, a queda do mundo antigo, e o nascimento da Idade Média. Grande parte do texto gira entorno dos sermões e livros do padre Agostinho de hipona que compara a invasão do império aos castigos ou testes bíblicos imputados a Jó, Abraão, Daniel e Noé. E, com essas premissas o autor reproduz texto do Santo Padre intitulado “A devastação de Roma”, mas, pautado que se a destruição não foi total é porque Deus ainda encontrou uma quantidade de justos no lugar.
                        De forma mais específica, é Julián Marías que apresentará ao leitor as ligações de Santo “Agostinho e a Filosofia”. Segundo o texto “Santo Agostinho é o primeiro grande filósofo dentro do cristianismo”. Essa parte do livro trabalha a biografia do padre descrevendo o seu local de nascimento “no Norte da África, perto de Cartago. Seu pai era pagão, sua mãe era cristã, e depois foi canonizada: Santa Mônica”. Percebe-se de Agostinho uma busca existencial que não começa com o cristianismo, mas sim no maniqueísmo que afirmava a eterna luta do bem contra o mal e culmina com o filósofo cristão descobrindo a intimidade. Uma intimidade diferente da encontrada em Sócrates, Platão e Aristóteles.
                        “A leitura alegórica da Bíblia” começa, justamente, com Santo Agostinho. Se o homem é uma das criações de Deus e, portanto, nele há vestígios da origem, as alegorias são a linguagem “cifrada sobre Deus e as verdades eternas”. Jean Lauand chama a atenção para uma característica própria dos medievais – a preocupação com os animais e números postos em trechos da Bíblia, e são vários momentos em que se cita serpentes, bois, pombas, dez, sete e outros. Toda essa preocupação resultatrá num tratado escrito por Rábano Mauro, no séc. IX e na interpretação dos nomes bíblicos de São Jerônimo. Chega ao ponto que essa preocupação vai além e se torna um cuidado também com questões gramaticais, fonéticas e etimológicas.
                     Terminada a patrística, em “Boécio e Cassiodoro: a transmissão da cultura aos bárbaros” assinala o nascimento da Escolástica, “um método que iria marcar por quase mil anos o pensamento ocidental”. Usando o instrumental aristotélico, os dois autores são mais radicais no racionalismo bíblico, mas vão influenciar um dos mais famosos pensadores da igreja, São Tomás de Aquino. É graças a Boécio que a cultura greco-romana não desaparece com as invasões bárbaras, pois, através da criação da escola, o pensador conseguiu transmitir um conhecimento racional cristão aos invasores e que se firmará com a organização dos mosteiros em Cassiodoro.
                      Oposto aos dois religiosos racionalistas, Roberto C. G. Castro apresenta “O Pseudo-Dionísio Areopagita: o ‘antídoto’ medieval ao racionalismo na teologia”.
                  Vários textos com o codinome Dionísio Areopagita, encontrados entre o final do século IV e início do século VI representam uma recusa no método de conhecer Deus pela razão. Para Dionísio a lógica que sai da linguagem humana não pode explicar a existência de Deus e, por conta disso, o máximo que o homem consegue são antropomorfismos.
                  Encerrando as dissertações, Josef Pieper explica ao leitor o “aprender o não dito” que seria achar falas importantes nas “fendas” dos textos antigos e principalmente no que toca a “criação”. Para tanto o autor recorre ao existencialismo das coisas e o conceito de verdade de Tomás de Aquino.
                      “Temas e figuras do pensamento medieval” é uma boa introdução para quem queira adentrar o mundo filosófico da idade média. Há vários trechos interessantes que valem a leitura dos capítulos por si só, mas alguns textos precisam da leitura dos autores medievais apresentados para  melhor entendimento: é o caso dos que estão em  “O elemento Negativo na filosofia de Tomás de Aquino”. Mas, antes de mostrar as dificuldades dessa parte é bom ressaltar as partes positivas do  livro.                     
                      Um aspecto muito bom da maior parte dos textos é a forma narrativa com que os autores trabalham antes de seguirem com suas dissertações. Isso facilita a leitura. São contadas história da separação do cristianismo do judaísmo e assimilação da cultura grega, o que é de suma importância para o entendimento do racionalismo de Agostinho, Boécio, Cassiodoro e Tomás de Aquino. E não são deixadas de lado a biografia de cada pensador e como alguns deles influenciaram  outros. Ainda é perceptível, de forma constante, uma briga, dentro do próprio cristianismo, entre os que só querem seguir a fé e os que querem conciliar fé e razão.
                       Parte que deveria ser de difícil compreensão é a questão da “intimidade” em Agostinho, mas, Lauand expõe de forma tão clara que, além de diferenciar o ser “íntimo” no padre com o dos pensadores antigos, pode-se, também, relacionar com os tempos atuais, quando as pessoas não conseguem ficar consigo mesmas por alguns minutos (todo instante o homem moderno precisa conversar, ver ou postar algo aos outros). A solidão é um monstro hodiernamente, o que para o religioso medieval era um prazer. Junte-se a isso que sem precisar ir na fonte é fácil entender as questões alegóricas da Bíblia e o nascimento da Escolástica.
                         Dito isso, a parte que requer mais leituras é o entendimento do negativo em Aquino. Nesse trecho o autor não consegue expor o dilema da criação e do criador ou mesmo da essência de verdade e mesmo com muitas leituras no capítulo fica a sensação de que é melhor ir ler mesmo esses dilemas na fonte.   De qualquer forma “Temas e figuras do pensamento medieval” é bom. Consegue resumir em poucas linhas uma filosofia que durou mais de mil anos e é atrativo porque antes, dos autores exporem os debates dissertativos travados à época, são colocadas narrativas e biografias, o que torna presto mais íntimo do leitor. Só uma pequena parte dos capítulos requer uma leitura mais atenciosa e, talvez, até das obras medievais mesmo, mas nada que atrapalhe a compreensão deste compêndio de João Lauand e companhia.






(1) No dia a dia usamos a palavra razão com diferentes sentidos: certeza, lucidez, motivo, causa. Ao dizermos “você tem razão”, admitimos que

(A) o outro está correto com relação a alguma coisa; 

(B) o outro está errado com relação a alguma coisa;

2) No dia a dia usamos a palavra razão com diferentes sentidos: certeza, lucidez, motivo, causa. Ao dizermos “ao dizermos “você está nervosa demais, perdeu a razão,”, admitimos que

(A)  razão é utilizada no sentido de lucidez;

(B) razão é utilizada no sentido de loucura;


3) No dia a dia usamos a palavra razão com diferentes sentidos: certeza, lucidez, motivo, causa. Ao dizermos “vou lhe contar minhas razões para o que fiz”, admitimos que


(A) significa os motivos que ELA não tem para ter feito algo;  


(B) significa aos motivos que ELA tem para ter feito algo;  



4) No dia a dia usamos a palavra razão com diferentes sentidos: certeza, lucidez, motivo, causa. Ao dizermos Também usamos o adjetivo racional para

(A) indicar obscuridade de ideias, resultado de esforço ingnóbil ou da pouca inteligência segundo normas e regras do pensamento e da linguagem.



(B) para indicar clareza de ideias, resultado de esforço intelectual ou da inteligência segundo normas e regras do pensamento e da linguagem.












Em síntese

1) Marque abaixo alguns sentidos que a palavra razão pode ter no uso cotidiano.

(A) certeza, lucidez, motivo, causa;

(B) dúvida, loucura, motivo, causa;

2) Infere-se do Texto acima:

(A) Percebe-se de Agostinho uma busca existencial que não começa com o cristianismo, mas sim no maniqueísmo que afirmava a eterna luta do bem contra o mal e culmina com o filósofo cristão descobrindo a intimidade. 

(B) Percebe-se de Agostinho uma busca material que não começa com o cristianismo, mas sim no maniqueísmo que afirmava a eterna luta do bem contra o mal e culmina com o filósofo cristão descobrindo a intimidade. 

3) Quais são as atitudes mentais opostas à razão?

(A) o ilusório, as emoções, a crença religiosa, o êxtase místico;

(B)  a verdade, as paixões,  a crença na ciência, o êxtase místico;

4) Quais as principais características da razão?

(A) não indica regras gerais; não possui validade;

(B) indica regras gerais, é universal e possui validade;


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3 comentários:

  1. 01- O conjunto de textos organizados por João Sérgio Lauand com participação de Jean Lauand, Julián Marias, Roberto c.G.castro é Josef pierer, trabalham o que e quem incluem ?

    02-Os textos tratam que dilemas ?

    03-Em " O cristianismo diante da filosofia e da cultura pagãs o leitor é convidado à que ?

    04-Em "Agostinho e o crepúsculo de Roma", Jean Lauand relata o que?

    05-O que foi o nascimento da Escolástica?


    Nome :Mairla Góis Araújo
    Eja 2B Noturno

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  2. NOME:Maria Fernanda Freire Sousa
    SÉRIE: 3ano TURMA:"A" TURNO:Noturno


    1- QUAIS PROFISSÕES DE JOÃO SÉRGIO LAUAND?

    2- O QUE SÃO OS TEMAS E FIGURAS DO PENSAMENTO MEDIEVAL?

    3- OPOSTO AOS DOIS RELIGIOSOS RACIONALISTAS O QUE APRESENTA ROBERTO C.G.

    4- O QUE RELATA-SE EM AGOSTINHO E O CRESPÚSCULO DE ROMA?

    5- QUAL TEXTO DO PADRE SANTO INTITULADO É REPRODUZIDO COM ESSAS PREMISSAS?

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  3. Atividade de filosofia
    Nome Robson Carvalho de Oliveira
    3 ano A noturno
    1 Qual o nome da faculdade quer João Sérgio Lauand estudou?

    2 segundo o texto quem foi o primeiro grande filósofo?

    3 porque para os religiosos medieval a solidão era um prazer ?

    4 Segundo o texto se o homem é uma das criações de Deus e pq?

    5 Quais as escolas q João Sérgio Lauand era professor ?

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