sábado, 10 de abril de 2021

Como a guerra e a diplomacia podem interferir no fortalecimento do comércio e nas Instituições do Estado



     A arte da negociação é histórica e, para sobreviver e expandir suas influências, o Estado conta com dois dispositivos: a diplomacia e a guerra. Base para o bom funcionamento do comércio é a segurança e para tanto há a necessidade de paz. Irônico é que para isso tem que haver preparação para a guerra. Sobre esses temas, brilham na literatura recente Carl Von Clausewitz que bebe dos contratualistas e no pensamento contrário tem-se Pierre-Joseph Proudhon que remonta aos gregos antigos.
     Embora não haja registros, é muito provável que as negociações nasçam quando o homem passa a dominar a agricultura. A lógica é que os excedentes produzidos por uma família, diante da necessidade de outro produto, poderiam ser trocados pelas sobras produzidos por outras. O passo seguinte, com certeza, foi a especialização - em todos os seus aspectos: dos produtores, dos negociadores e dos soldados.
     Destaque para reflexão do pensador militar Von Clausewitz que parte da premissa do homem com suas ambições, amores e ódio para concluir a consciência do Estado como todo. Ou seja, a nação é a expressão “macro” dos seus partícipes. Para o militar, a única diferença é que a intriga entre duas pessoas só poderia ser finalizada com o extermínio de uma das partes, enquanto no que toca o país o que se almeja é a submissão do outro. 
     Com o advento da agricultura e das trocas de mercadorias, deduze-se, que em certo momento, há a necessidade de se transitar por determinado caminho, que pode ser negada a permissão por outro. Pense também num país que se sente lesado na balança comercial. Nesses casos hipotéticos o conflito é inevitável. A figura do diplomata entra em ação e não havendo acordo, o outro lado da moeda - o exército - toma de conta.
     É claro que no Estado de natureza (premissa contratualista a ser refutada) dificilmente o comércio daria certo. O funcionamento da compra e venda de mercadorias está ligado diretamente à segurança. Um estado de guerra de “todos contra todos” inviabilizaria esta instituição, contudo, uma outra face do comércio é a liberdade (o fechamento, as barreiras, são prejudiciais a livre iniciativa).
     Para a paz e liberdade, duas faces da mesma moeda: o diplomata e/ou o soldado.
     Para Clausewitz, a guerra funciona mais como um castigo ao perdedor que tende a atender os anseios do vencedor. Neste sentido, o soldado é só uma continuação do fazer política do diplomata. Para o pensador, guerrear é uma decisão vinculada diretamente à existência do Estado porque ainda não há um CONTRATO UNIVERSAL entre os países tal qual há entre os homens de um mesmo lugar. É por isso que a ideia do militar coincide com a dos contratualistas como Thomas Hobbes, John Locke e Jean Jacques Rousseau.
     Do lado oposto do argumento está Pierre-Joseph Proudhon que defende a guerra como mecanismo de readaptação do Estado. Para o escritor, depois de uma vitória ou derrota, um país tende a se organizar melhor, fortalecendo assim suas instituições. É como se, além do congresso, houvesse mais esse mecanismo de legislação que deveria ser acionado com frequência pelo líder para amadurecimento da nação. A ideia não é nova porque o filósofo grego Heráclito já havia dito que “a guerra é pai de tudo”.
     É clara a diferença entre os dois autores: um mais na defensiva e outro no ataque quando o assunto é guerra.
     O certo é que há verdades nas duas ideias: diplomacia é uma extensão da guerra e vice versa. Tanto na natureza quanto na civilização, qualquer poder quando se torna grande no seu território tende a querer se expandir. Não há relatos na história de força grande que se conforma com o isolamento total e sem nenhuma influência. A expansão requer diálogo ou confusão. Nisso todas as partes se preparam da forma que podem.
     Queira sim, queira não, o comércio é o maior beneficiário e/ou às vezes prejudicado entre as negociações dos países. Também o maior acionador dos diplomatas ou dos soldados. Abrir fronteiras comerciais demanda negociação e em muitos casos conflitos diretos. Também, depois de uma bateria de diálogos ou agressões, ou as corporações se desfazem ou se aperfeiçoam.
     Com base no todo exposto, é perceptível que a guerra é sim tão necessária quanto a diplomacia. Seja para defesa ou para o ataque. Percebe-se também que o comércio e as instituições crescem a depender da dosagem do diálogo ou do conflito. O tema é tão importante e discutido que há vestígios do debate na antiguidade e nos dias atuais na modernidade.
    
    



    
REFERÊNCIAS


10 passos essenciais para se tornar o negociador de referência. Disponível em <http://www.administradores.com.br/noticias/carreira/10-passos-essenciais-para-se-tornar-o-negociador-referencia/37112/> Acesso em 18 março 2016

Coelho, Ricardo Corrêa Ciência política / Ricardo Corrêa Coelho. – 2. ed. reimp.Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC, 2012.159p. : il.

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Pinheiro, Ivan Antônio Negociação e arbitragem / Ivan Antônio Pinheiro. – Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2012.
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Rodrigues, Thiago Moreira de Souza Relações internacionais / Thiago Moreira de Souza Rodrigues. – 2. ed. reimp – Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2012. 164p. : il.

Sanson, João RogérioTeoria das finanças públicas / João Rogério Sanson. – Florianópolis : Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2011.
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Silva, José Maria da. Apresentação de trabalhos acadêmicos: normas e técnicas/José  Maria da Silva , Emerson Sena da Silveira. 5. Ed. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2009

TREVISAN, Andrei Pittol; BELLEN, Hans Michael van.  Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro 42 (3): 529-50, maio/jun. 2008.

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