A
arte da negociação é histórica e, para sobreviver e expandir suas influências,
o Estado conta com dois dispositivos: a diplomacia e a guerra. Base para o bom
funcionamento do comércio é a segurança e para tanto há a necessidade de paz. Irônico
é que para isso tem que haver preparação para a guerra. Sobre esses temas,
brilham na literatura recente Carl Von Clausewitz que bebe dos contratualistas e
no pensamento contrário tem-se Pierre-Joseph Proudhon que remonta aos gregos
antigos.
Embora não haja registros, é muito
provável que as negociações nasçam quando o homem passa a dominar a
agricultura. A lógica é que os excedentes produzidos por uma família, diante da
necessidade de outro produto, poderiam ser trocados pelas sobras produzidos por
outras. O passo seguinte, com certeza, foi a especialização - em todos os seus
aspectos: dos produtores, dos negociadores e dos soldados.
Destaque para reflexão do pensador militar
Von Clausewitz que parte da premissa do homem com suas ambições, amores e ódio
para concluir a consciência do Estado como todo. Ou seja, a nação é a expressão
“macro” dos seus partícipes. Para o militar, a única diferença é que a intriga
entre duas pessoas só poderia ser finalizada com o extermínio de uma das
partes, enquanto no que toca o país o que se almeja é a submissão do
outro.
Com o advento da agricultura e das trocas
de mercadorias, deduze-se, que em certo momento, há a necessidade de se
transitar por determinado caminho, que pode ser negada a permissão por outro.
Pense também num país que se sente lesado na balança comercial. Nesses casos
hipotéticos o conflito é inevitável. A figura do diplomata entra em ação e não
havendo acordo, o outro lado da moeda - o exército - toma de conta.
É claro que no Estado de natureza (premissa
contratualista a ser refutada) dificilmente o comércio daria certo. O
funcionamento da compra e venda de mercadorias está ligado diretamente à
segurança. Um estado de guerra de “todos contra todos” inviabilizaria esta
instituição, contudo, uma outra face do comércio é a liberdade (o fechamento,
as barreiras, são prejudiciais a livre iniciativa).
Para a paz e liberdade, duas faces da
mesma moeda: o diplomata e/ou o soldado.
Para Clausewitz, a guerra funciona mais
como um castigo ao perdedor que tende a atender os anseios do vencedor. Neste
sentido, o soldado é só uma continuação do fazer política do diplomata. Para o
pensador, guerrear é uma decisão vinculada diretamente à existência do Estado
porque ainda não há um CONTRATO UNIVERSAL entre os países tal qual há entre os
homens de um mesmo lugar. É por isso que a ideia do militar coincide com a dos
contratualistas como Thomas Hobbes, John Locke e Jean Jacques Rousseau.
Do lado oposto do argumento está
Pierre-Joseph Proudhon que defende a guerra como mecanismo de readaptação do
Estado. Para o escritor, depois de uma vitória ou derrota, um país tende a se
organizar melhor, fortalecendo assim suas instituições. É como se, além do congresso,
houvesse mais esse mecanismo de legislação que deveria ser acionado com
frequência pelo líder para amadurecimento da nação. A ideia não é nova porque o
filósofo grego Heráclito já havia dito que “a guerra é pai de tudo”.
É clara a diferença entre os dois autores:
um mais na defensiva e outro no ataque quando o assunto é guerra.
O certo é que há verdades nas duas ideias:
diplomacia é uma extensão da guerra e vice versa. Tanto na natureza quanto na
civilização, qualquer poder quando se torna grande no seu território tende a
querer se expandir. Não há relatos na história de força grande que se conforma
com o isolamento total e sem nenhuma influência. A expansão requer diálogo ou
confusão. Nisso todas as partes se preparam da forma que podem.
Queira sim, queira não, o comércio é o maior
beneficiário e/ou às vezes prejudicado entre as negociações dos países. Também
o maior acionador dos diplomatas ou dos soldados. Abrir fronteiras comerciais
demanda negociação e em muitos casos conflitos diretos. Também, depois de uma bateria
de diálogos ou agressões, ou as corporações se desfazem ou se aperfeiçoam.
Com base no todo exposto, é perceptível
que a guerra é sim tão necessária quanto a diplomacia. Seja para defesa ou para
o ataque. Percebe-se também que o comércio e as instituições crescem a depender
da dosagem do diálogo ou do conflito. O tema é tão importante e discutido que há
vestígios do debate na antiguidade e nos dias atuais na modernidade.
REFERÊNCIAS
10 passos
essenciais para se tornar o negociador de referência. Disponível em <http://www.administradores.com.br/noticias/carreira/10-passos-essenciais-para-se-tornar-o-negociador-referencia/37112/>
Acesso em 18 março 2016
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