quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Uma breve análise crítica sobre o funcionamento do Conselho Escolar da Unidade Escolar Santa Teresinha e do CE Cônego Nestor Cunha








               A Constituição de 1988 em seu artigo 206, inc. VI estabelece a gestão democrática na forma da lei e o art. 14 da lei de diretrizes e bases da Educação Nacional de 1996 ratifica e ressalta a ideia da importância da participação dos profissionais da educação e da comunidade em conselhos escolares ou equivalentes para estimular a autonomia da escola. Este artigo é um relato e análise de experiência em dois momentos vividos nestes espaços democráticos que são os colegiados com foco na aplicação dos recursos de PDDE. O primeiro se deu entre os anos de 2010 e 2011, então como diretor da Unidade Escolar Santa Teresinha da cidade de Madeiro do Piauí, e assessorado pelo Conselho Escolar da referida instituição, e o segundo momento se deu nos anos de 2016 e 2017, como representante dos professores, eleito para atuar no Conselho do Colégio Cônego Nestor Cunha situado na cidade de Santa Quitéria do Maranhão.
                      A ideia dos Conselhos, amparada em lei, é entregar a escola à comunidade: professores, pessoal de apoio, pais e alunos. Cada célula desta tem a sua representatividade assegurada pela Carta Magna para participação nas decisões da escola no âmbito administrativo, político-pedagógico, e financeiro.
                     Enquanto gestor na escola de Ensino Médio madeirense, a primeira dificuldade era encontrar os candidatos com desejo de participarem das eleições para os Conselhos. Ninguém queria. Há até um ânimo por parte dos alunos só na hora da competição, que logo se esvai com os primeiros dias de atuação. Na representatividade dos professores, o que se presenciou à época foi um total desinteresse dos docentes em participarem da agremiação. Notou-se um jogo de “empurra, empurra”, onde chegou o momento da direção adular um dos mestres a se candidatar. Com relação à representatividade dos pais e de pessoal de apoio havia tanto silêncio que a única conclusão que se chegava era que eles não estavam entendendo nada do que se tratava. Para piorar, um dos professores, que de forma alguma quis dispor o nome para candidatura, sempre fazia uma observação nos encontros pedagógicos: “que os membros da agremiação eram todos próximos e submissos ao diretor”. O que não deixava de ser verdade. Quem era contra a gestão não tinha interesse de participar de nada que representasse organizar o colégio.
                    Por conta de tudo isso, a função deliberativa, com a confecção do Projeto Político Pedagógico (PPP) e do Regimento Interno, até deu certo, mas os documentos tiveram bem pouca influência, até por desconhecimento, dos pais, alunos e pessoal de apoio. E numa espécie de chacota, os professores efetivos elegeram um professor de contrato temporário e mais leigo para representá-los, o que implicou em problemas na função consultiva. Durante o biênio, a função fiscalizadora e avaliadora se mostrou eficaz: a escola recebeu de PDDE um montante de R$ 15.205,09 (quinze mil duzentos e cinco reais e nove centavos) o que foi gasto de forma vinculada no que diz respeito a capital e custeio e prestado contas junto aos membros. Os eventos e organização da escola tiveram avaliação bimestral. Tudo isso representou a adimplência da escola por alguns anos vindouros, contudo, a persistência para a realização das reuniões ordinárias e extraordinárias demandava um esforço enorme por parte da gestão e muita reclamação dos membros do Conselho que não expressavam muito ânimo em deliberar, fiscalizar e avaliar.
                       Na tentativa de entender por que há um desânimo da comunidade escolar em participar deste órgão democrático, este articulista entregou a gestão da escola piauiense e se candidatou como representante dos professores no Colégio Cônego Nestor Cunha na cidade de Santa Quitéria do Maranhão.
                       O processo democrático se deu da mesma forma da Unidade Escolar Santa Teresinha da cidade de Madeiro do Piauí. Foram eleitos membros para representarem os pais, alunos e pessoal de apoio. A busca pela representatividade dos professores se deu, justamente, visando fazer algo diferente do outro momento, a começar por se formar uma chapa em oposição às gestões que atuariam no biênio.
                        Característica idêntica ao outro momento foi o jogo de “empurra, empurra” entre os professores na hora do pedido dos diretores para o registro da chapa.
                        Nessa nova fase, percebeu-se que para a realização das reuniões, a estrela do diretor é de suma importância, de onde, se um membro do conselho pedir um encontro para tratar de determinado assunto, não há um atendimento e nem muita respeitabilidade por parte dos outros. E, há sim, um certo receio, por parte de ser membro da agremiação, de deliberar sobre algo que desagrade o diretor, pois o mesmo detém um poder legitimado, às vezes, pela urna ou por algum líder político local, que desequilibra a balança democrática dentro desta instituição.  E, talvez, por isso, na representatividade docente no Conselho, pediu-se que se deliberasse acerca da confecção do PPP e como não houve interesse da gestão, o momento não aconteceu.
                   Com relação a parte consultiva buscada pela gestão do CE Cônego Nestor Cunha, ela aconteceu em 2016 e com mais intensidade em 2017, devido a uma renovação compositora no Conselho Fiscal. A Fiscalização e avaliação por parte das agremiações foi tímida haja vista o desconhecimento do funcionamento correto da estrutura burocrática da escola.
                         Essa percepção de problema, talvez o principal, que muito provável leve a todos os outros, se deu por conta da ausência de capacitação aos membros do Colegiado. Nisso todo e qualquer dado, informação advém da gestão. O que é um problema para o Colegiado porque para ele só resta acreditar e confiar, pois, os órgãos que repassam essas informações, caso algum membro deseje saber, demandam tempo e são bem parecidos com aqueles “call centers” da telefonia celular.
                    Durante a atuação nas agremiações das duas escolas houveram desistências de algumas representatividades. Tudo é tão vinculado, pouco discricionário, que os partícipes não se sentem tão úteis. Por isso, problema gravíssimo é convencer os membros mais leigos a sentarem e inspecionarem num intervalo de tempo maior as prestações de contas ou avaliarem as dinâmicas da escola.  Com ofícios de convocação, em sua maioria, marcados para começar as ordinárias ou extraordinárias às nove ou dez horas da manhã, os encontros duravam menos de uma hora – o que é pouco para inspecionar um bloco de prestações de contas. Isso aconteceu tanto na escola piauiense quanto na maranhense. Percebeu-se no rosto dos participantes um desejo de que aquele momento terminasse logo, o que implica em assinar prestações sem o devido controle. Para se ter uma ideia, na assinatura do PDDE de 2016 do Colégio Cônego Nestor Cunha, no valor de R$ 9.850,00 (nove mil oitocentos e cinquenta reais) alguns papeis burocráticos faltaram no bojo o que fez a prestação voltar para as devidas correções.
                        Portanto, a ideia de entregar a escola à comunidade não funciona, ninguém quer participar ativamente destas agremiações, e o motivo são diversos, a citar: as vinculações, o PDDE, por exemplo, já vem quase todo discriminado. Sem falar dos valores que são insignificantes. Na verdade todo o montante deveria ser discricionário a atender o desejo alocativo proposto pelos membros do Colegiado. No que toca as eleições, estas deveriam ser realizadas por órgão externo à escola sem participação alguma do Núcleo Gestor. A regional poderia organizar este momento e logo em seguida promover uma capacitação aos eleitos e não deixar que toda e qualquer informação fique a critério do diretor repassar ou não. E para melhorar o desejo das pessoas participarem do processo democrático há que se rever uma bonificação, pode ser nos moldes do júri popular (aqueles que se propuserem a atuar na gestão democrática da escola ganhariam dias de folga no serviço ao participarem das ordinárias e extraordinárias). No caso do representante dos professores, pode-se até pensar na redução da carga horária. Do contrário, o Conselho é sempre um desgaste físico num trabalho a mais aos membros da comunidade que têm seus afazeres privados.

REFERÊNCIAS

        


CONSTIUTIÇÃO FEDERAL DE 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> acesso em 19 abril de 2018

Lei de Diretrize e Bases da Edcuação Brasileira. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L9394.htm> acesso em 19 abril de 2018

FRASSON, Antonio Carlos,:JUNIOR, Constantino Ribeiro de Oliveira. METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA. São Luís, Maranhão : 2010

Lück, Heloísa. Concepções e processos democráticos de gestão educacional/ Heloísa Lück. 9. Ed – Petrópolis, RJ : Vozes, 2013. Série: Cadernos de Gestão

Oliveira, Dalila Andrade. Política e Gestão da Educação / organizado por Dalila Andrade Oliveira e Maria de Fa´tima Félix Rosar – Belo Horizonte: Autêntica, 2002

SILVA, José Maria da. Apresentação de trabalhos acadêmicos: normas e técnicas/José Maria da Silva , Emerson Sena da Silveira. 5. Ed. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2009

SÃO PAULO. Folha. Confira a posição de sua escola no ranking nacional do ENEM 2016. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2017/12/1942488-confira-a-posicao-de-sua-escola-no-ranking-nacional-do-enem-de-2016.shtml> acesso em 12 dezembro 2017





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