Quem
nunca se pegou debatendo sobre a origem ou continuidade do ato de conhecer. Noutro
dia eu entrei num fórum desses que debatia, justamente, este tema, a partir de
um texto de Mário Sérgio Cortela – “Nós não nascemos prontos”. O que eu deixei
passar e alguns colegas ali também, é que tal assunto é dialético, histórico,
com reflexões fortes e melhor organizado a priori por Platão e com debates
intensos na modernidade entre o Matemático René Descartes e o Filósofo John
Locke. Este último descartando totalmente a metafísica da formação humana.
Na ocasião do debate eu havia
dito:
“Mário
Sérgio Cortela credita a culpa do comportamento atual dos jovens em nós
professores quando ditamos frases de cunho negativo a eles, e por isso, somos
responsáveis pelo “aprontamento” desses meninos. “Nós não nascemos prontos”, Eu concordo, em partes, porque creio em algo
que já nasce com a gente e amadurece com o tempo: sentir a diferença entre o
bem e o mal quando aplicados a nós ou outrem, por exemplo. Isso é muito na tomada de decisão das pessoas
e suas consequências futuras.”
Embora eu saiba que haja certa
religiosidade em quem acredita que o homem já nasce conhecendo coisas (É o
conhecimento inato defendido na antiguidade por Platão e na modernidade,
principalmente, por Descartes) eu fui opinião vencida, porque eu tinha me
esquecido de John Locke, o principal autor contrário a Descartes.
Descartes é metafísico
porque acredita que alguma ideia do homem já nasce com ele (homem) – é o caso
da noção de espaço ou do uso do corpo sem necessariamente saber o funcionamento
dos músculos. A origem desses pensamentos, para o autor advém de Deus. Há
resquícios de Deus no homem e por isso o homem, através da alma, já nasce
sabendo coisas.
O problema de Descartes,
diz Locke: se houvesse ideias inatas, então todos os seres humanos, de todas as
origens e idades, inclusive as crianças pequenas, deveriam ter as mesmas
ideias, o que não é o que podemos comprovar pela observação.
Realmente, é uma opinião
forte e difícil de ser refutada. E é com ela que o homem moderno vai abandonar
a metafísica (Deus e alma) e criar uma nova consciência que ver o homem como
“uma folha de papel em branco, estando sem nenhuma marca antes da experiência”.
Contando com Cortela e a Tutora do curso, a exceção da minha pessoa, todos os
outros participantes concordaram que o homem e seus conhecimentos podem ser
construídos sem a interferência de um Deus, de uma alma ou de qualquer coisa
que argumente a favor de algo que já nasça com o homem.
Portanto, a principal diferença
epistemológica moderna é essa que tira a responsabilidade da construção do
homem das divindades e a coloca nas mãos dos próprios homens. É a metafísica de
René Descartes sendo afastada do ato de conhecer e sendo substituída pelo
empirismo de John Locke. Só resta saber se na nossa época estamos acertando ou
errando, ou andando em círculo, mas isso é tema para outra dissertação.
REFERÊNCIAS
CORTELLA,
Mário Sérgio. Seminário família, escola e cidadania: quais os caminhos? Escola
da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, agosto de 2007. Palestra “Nós não
nascemos prontos”. In: RAMOS, Rogério de Araújo. Ser protagonista: Língua
portuguesa. 2. ed. São Paulo: SM, 2013. Adaptado.
Dutra, Luiz Henrique de Araújo. Teoria do
conhecimento / Luiz Henrique de Araújo Dutra. — Florianópolis, 2008.
FRASSON,
Antonio Carlos,:JUNIOR, Constantino Ribeiro de Oliveira. METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA. São Luís, Maranhão : 2010
SILVA,
José Maria da. Apresentação de trabalhos
acadêmicos: normas e técnicas/José Maria da Silva , Emerson Sena da
Silveira. 5. Ed. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2009
1. 2. 4.20 (ENEM 2016) Nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora nossa memória possua todas as demonstrações feitas por outros, se nosso espírito não for capaz de resolver toda espécie de problemas; não nos tornaríamos filósofos, por ter lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles, sem poder formular um juízo sólido sobre o que nos é proposto. Assim, de fato, pareceríamos ter aprendido, não ciências, mas histórias.
DESCARTES, R. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
Em sua busca pelo saber verdadeiro, o autor consiDera o conhecimento, de modo crítico, como resultado da
A investigação de natureza empírica.
D autonomia do sujeito pensante.
TEXTO
I
Fragmento
B91: Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio, nem substância mortal alcançar
duas vezes a mesma condição; mas pela intensidade e rapidez da mudança,
dispersa e de novo reúne.
HERÁCLITO.
Fragmentos (Sobre a natureza). São Paulo: Abril Cultural, 1996
(adaptado).
TEXTO
II
Fragmento
B8: São muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois é
compacto, inabalável e sem fim; não foi nem será, pois é agora um todos homogêneo,
uno, contínuo. Como poderia o que é perecer? Como poderia gerar-se?
PARMÊNIDES.
Da natureza. São Paulo: Loyola, 2002 (adaptado).
2. 3
(ENEM questão 23 prova azulb) Os fragmentos do pensamento pré-socrático expõem uma
oposição que se insere no campo das
A
investigações do pensamento sistemático.
B discussões de base ontológica.
3. Infere-se do texto acima:
(A) a principal diferença epistemológica moderna é essa que tira a responsabilidade da construção do homem das divindades e a coloca nas mãos dos próprios homens.
(B) a principal diferença epistemológica moderna é essa que tira a responsabilidade da construção do homem do própria homem e a coloca nas mãos das divindades.
4º 4.16 (Vestibular UEMA
PAES E2013) No fragmento a seguir,
Descartes propõe quatro etapas fundamentais ao processo do conhecimento: ―[...]
jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente
como tal; [...] dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas
parcelas possíveis e quantas necessárias; [...] conduzir por ordem meus
pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis; [...], até o
conhecimento dos mais compostos; fazer todas as enumerações tão completas e
revisões tão gerais que eu tivesse a certeza de nada omitir.‖
DESCARTES,
R. Discurso do método. São Paulo: Nova Cultural, Coleção Os Pensadores,
1991.
As etapas do conhecimento na visão de Descartes são,
respectivamente, as seguintes:
D) análise, enumeração, síntese
e evidência.
E) evidência, análise, síntese e enumeração.
GABARITO PARA MARCAR
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