Isaac Sabino CARDOSO1
1 CARDOSO, Isaac Sabino. Graduado em Letras Português e Filosofia, Bacharelado em Administração Pública – Especialista em Gestão, Gestão Escolar e Educação do Campo pela UEMA. Bacharelando em Direito. Mestrando em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí
1 INTRODUÇÃO
Tornar o ensino de Filosofia o mais rentável e eficaz
possível, como princípio de vida, implica enfrentar, para além das dificuldades
do dia a dia, os constantes movimentos políticos contra a disciplina. Dito
isso, uma das saídas é a constatação da necessidade de profissionalização - com
notório saber - de quem deseja atuar na área, uma reserva de espaço igual ao
conquistado em outras matérias como o que ocorreu com a Educação Física, ou o
total desprendimento, da Filosofia, da institucionalização estatal. Conhecer
bem a tradição literária – os clássicos filosóficos – com suas discussões como
a existência do belo, e, no caso do Brasil, “A trajetória das matrizes filosóficas
na educação [...]”, ainda, a lógica das proposições com suas diversas vertentes
do estudo da “verdade” é de suma importância. Ter uma leitura clara da
literatura filosófica disposta pode ser o diferencial na simplificação de algo
tão complexo aos jovens do ensino secundário.
O espaço já existe, porém é pouco e, ainda por cima
está ocupado por professores de Artes, História, Língua Portuguesa, Matemática
e outros. Pode-se até dizer que a ideia, ao lotar docentes, seja justificada
por alguns conhecimentos particulares existentes em cada disciplina citada, ou
mais, na tomada de gosto pelo ato de filosofar de forma mais didática e metodológica,
atrai-se indivíduos de outras matérias para uma graduação na própria Filosofia,
contudo, esse argumento foca mais no docente e incorre no risco de criar uma
repulsa dos alunos pelo conhecimento filosófico, haja vista que a apreciação
demandará tempo.
Numa rápida conceituação do
belo à luz da Filosofia, tem-se o debate Platônico como algo de outro plano que
deve ser alcançado e, em períodos mais recentes, uma beleza mais relativista.
Ainda é possível buscar um belo na “coisa” ou no “sujeito” - Outra discussão.
Tudo isso possui uma complexidade que não é possível ser disposta numa
disciplina de Artes de forma mais geral e filosófica. No caso de História, o escrito
na leitura de “De Deus à Diferença – trajetória das matrizes filosóficas na
educação brasileira” DE Cristiane Maria Marinho - tem-se um histórico da
evolução do Ensino de Filosofia, mas com um olhar voltado para o conhecimento
filosófico na história, o que, subjetivamente, sendo um professor de História a
lecionar o tema, o pêndulo pode pesar para a sua matéria. Para Língua
Portuguesa, as sentenças, se ficarem tão somente por aqui, ficam mais no
aspecto sintático, morfológico ou semântico, enquanto quando analisadas por um filósofo
há um olhar mais atento nas ambiguidades e nos aspectos implicitos tanto das
palavras quanto das proposições. A mesma proposição pode apresentar todos os
seus aspectos lógicos sendo melhor generalizada pelo professor de Filosofia do
que pelo de Matemática.
Não é pretensão deste artigo esgotar o assunto aqui abordado, mas
desenvolver uma análise crítica frente ao improviso quanto as lotações da
disciplina de Filosofia no ensino básico e, a partir daí diferenciar a
produtividade de quem tem a formação na área ou não.
Assim, no primeiro capítulo,
aborda-se NA BUSCA DA VERDADE, UM LEIGO EM FILOSOFIA PODE NÃO CONHECER OS MAIS
VARIADOS CONCEITOS DESTE TEMA. Em seguida, UMA SAÍDA PARA O FILOSÓFO A PARTIR
DO SABER HSTÓRICO/FILOSÓFICO: UM RETORNO AO FILOSOFAR CONTRA A LEI.
2 NA BUSCA DA VERDADE, UM LEIGO EM FILOSOFIA PODE NÃO CONHECER OS MAIS VARIADOS CONCEITOS DESTE TEMA
O problema do
professor de Artes, de História, Língua Portuguesa e Matemática é a verdade
pronta em suas disciplinas e o desconhecimento de que na busca da “verdade” há
várias concepções que precisam ser lecionadas com os alunos. Na concepção
medieval, por exemplo, para essa busca, há a necessidade de se afastar do mundo
físico e se situar no espiritual no intuito de se alcançar o todo. Na
Modernidade essa concepção está disposta no idealismo, pragmatismo,
relativismo, niilismo e voluntarismo. Dessas tendências, destaque para
Descartes que acredita que as coisas se iniciam na mente e Kant que continua
colocando a “verdade” no sujeito. Essa postura será chamada de idealismo por
Bruno Sproviero que a critica por ser um sistema fechado que não aceita a
verdade nas coisas. Perceba, que a leiguicidade nesse debate histórico é
prejudicial aos discentes, que podem ter só um docente reprodutivista da coisa
pronta o que pode inibir a criticidade dos mais jovens a ponto de impedi-los de
participarem dessa dialética.
Também,
há a “verdade” do pragmatismo que trata das questões práticas, mas não Sabe
lidar com teóricas como as que envolvem a própria Matemática e que leva ao
voluntarismo onde a verdade fica vinculada ao império da vontade. Duns Scotus,
filósofo medieval, afirmava que essa “vontade” era divina, mas que a humana
também pode prevalecer. Esse “voluntarismo” também será encontrado em
Schopenhauer e Nietzche. Schopenhauer, por exemplo, afirma que a vontade é
irracional e que o homem não consegue se libertar do
prazer e da dor, nisso, o filósofo inaugura o pessimismo que é seguido por
Nietzche e seu niilismo.
Na
contemporaneidade, a verdade não é tão buscada porque o homem se
volta para a epistemologia, mas, quando se tira a problemática da “verdade” do
campo ontológico é preciso afastar todo um debate que incluiria
Aristóteles e Tomás de Aquino. Talvez seja essa consciência que faz o homem
desta época não questionar quem pouco estudou Filosofia trabalhar com esse
componente curricular. Afastar ou ter pouca leitura das obras de Tomás de
Aquino que leu Aristóteles com maestria, é, também, se distanciar da
“verdade” dentro de um contexto ontológico onde o criador é de ordem divina e,
por conta disso, dificilmente há a possibilidade da criatura reter
as verdades daquele que cria, por completo. Seria como desejar que um animal
entendesse a criação de uma casa que saiu do intelecto humano. Colocar tudo isso
para o discente é já ter pronto toda uma conversa com quem formulou todos esses
pensamentos. Para tanto, é necessário o tempo que possibilitou essa leitura que
é aquele colocado à disposição na academia.
O
Foco na Literatura, que pode até ser uma das áreas dentro do currículo de
português, não licencia a leitura em Santo Agostinho que chega a afirmar que o
“verdadeiro é o que é”, a opinião coincidindo com a de alguns filósofos
antigos, e nem nos sofistas que relativizaram a “verdade”. Olhando, agora o
aspecto gramatical, é verdade que se a “verdade” estivesse nas coisas, toda
frase/sentença/oração seria verdadeira, porque, estando fora do “ser” não
precisariam estar em acordo com os intelectos. Para Tomás não é bem assim,
pois, faz-se necessário haver significado intelectual entre os interlocutores.
Desse modo, a “verdade” está num combinado entre as mentes e em parte nas
coisas. Nesse sentido, no aspecto litrerário e gramatical, o professor de
Língua Portuguesa fica limitado ao montante da literatura que ele estudou
sobrando pouco tempo disponível para a tradição filosófica.
Portanto,
há toda uma complexidade no Ensino de Filosofia. Até mesmo este artigo, sendo
só uma breve reflexão em um dos pilares filosóficos existentes, se torna de
difícil leitura para quem não tem um aprofundamento em todos os pensamentos
expostos. Reforça-se então a dispensa de quem não possui graduação para atuar
nesta docência e uma atuação mais firme de quem tem certificação no
convencimento do leigo de quanto ele prejudica a percepção de uma Arte, da
Literatura, da Gramática e da Matemática no pensmento crítco do aluno.
3.
UMA SAÍDA PARA O FILOSÓFO A PARTIR DO SABER HSTÓRICO/FILOSÓFICO: UM RETORNO AO
FILOSOFAR CONTRA A LEI
Comforme dito em capítulo anterior, no caso de História, o disposto na leitura “De Deus à
Diferença – trajetória das matrizes filosóficas na educação brasileira”, DE
Cristiane Maria Marinho, tem-se uma divisão do artigo que se dá
com os seguintes capítulos: “Colônia (1500-1822): de Deus à ciência mitigada; Império
(1822-1889): entre o ecletismo e o cientificismo; Primeira República
(1889-1930): ciência, crença, prática e liberdade; Segunda República
(1930-1937): missão francesa e pragmatismo versus neotimismo; Quarta República
(1945-1964): liberalismo e socialismo cristão e Regime militar 1964-1985”.
Perceba que, para todos os títulos há palavras chaves têm um olhar mais na
Filosofia do que na história o que, subjetivamente, sendo um professor de História
a lecionar o tema, o pêndulo pode pesar para a sua formação.
Numa leitura com foco na Filosofia, é
perceptível uma dialética entre movimentos que se contrapõem, às vezes, com um
novo surgindo e fazendo oposição aos que já estão. Sem falar naquele momento em
que as ideias são juntadas, numa forma de ecletismo. Cita-se aqui o Ecletismo
formal, porque, atualmente, até há tal movimento também, mas posto de forma
incosciente e com uma mistura de ideias de difícil consciliação.
Deixando de lado o olhar
histórico e buscando uma percepção mais holística da coisa, é notório no Brasil
uma “briga” entre quatro linhas de pensamentos: o cristianismo, o positivismo,
o marxismo e o ecletismo. Essas ideias permeiam as mentes e separam homens até
mesmo nos dias de hoje e, posto como “inimigo” de todos, sempre o Ensino de
Filosofia, justamente, porque é esse saber que desnuda o cristianismo com o
Laicismo de Nicolau Maquiavel ou que questiona a famosa frase “os fins
justificam os meios” do mesmo pensador, mostrando que aqui, o homem pode perder
certa moral ou ética. A mesma Filosofia cita Hegel e Karl Marx para evitar que suas
ideias se misturem com outras que eles visavam combater, basta lembrar que em
Hegel, o Estado e a família são o amadurecimento da razão do espírito: “O
Estado é a realidade em ato da ideia moral objetiva, o espírito como vontade substancial
revelada [...]” (HEGEL, 2009 § 257: 216); já em Marx, “o Estado é uma instituição a serviço da
burguesia, para manter, validar e proteger seus interesses tendo a família como
uma das engrenagens do sistema [...].” (MARX, 1986, P.19). Portanto,
é essa Filosofia que não deixará nada nas sombras. Lançará luz sobre tudo. E,
por mais que se queira, ela mostrará problemas em si juntar ideias que na
origem nasceram contraditórias. E,
a saber, todos esses conflitos desembocam nas leis, e por isso, o homem comum
entende que precisa conhecer mais para tomar uma decisão consciente. Esse
conhecer, esse desnundar só quem sabe fazer é a Filosofia, justamente porque
ela, não por muito tempo, vai ficar sempre de um lado desses,
muitas das vezes para implodí-los. A Filosofia deve ser sempre transgressora do
momento e das normas vigentes.
Mostrar que conhece a
tradição e que dialogar com personalidades como Tomás de Aquino, Nicolau
Maquiavel, René Descartes, John Lock e Marx, os colocando da forma mais simples
possível, mostrando suas verdades e
suas contradições e como eles influenciam as vidas das pessoas com as normas,
deve ser papel militante, diário, constante, do professor filósofo.
Essa é a saída do professor de Filosofia –
mostar que sabe e que, na sua natureza, há o ser mãe de todas as outras
disciplinas, e por conta disso há, também, a vontade de correção do que se tem
em voga. Outra natureza do Filósofo é denunciar a norma vigente, contudo, o que
se tem de dilema para a docência deste profissional é se ele continua dentro do
Estado ou se afasta desta insitucionalização para voltar as suas origens e
denunciar a lei vigente.
3.1
SER OU NÃO SER: A FILOSOFIA DEVE CONTINUAR INSTITUCIONAL OU NÃO?
Munido desses embates
filósoficos, onde o ensino de Filosofia aparece servindo o poder de momento, o
professor filósofo sabe que sua vida é permeada pelo conflito. Nisso, para ele se
manter questionador da realidade, ele deve decidir se continua no sistema e o
imploda por dentro ou, então, ele pode se afastar o máximo possível das amarras
do Estado e filosofar para um público usando outras ferramentas. Hoje, é
possível viver fora da sala de aula e ensinando Filosofia a partir de vídeo
aulas postada na rede. Porque quando se opta pela institucionalização, para
além das amarras, há a humilhação da disciplina pelas migalhas oferecidas pela
Legislação. Só para se ter uma ideia, a alteração mais recente da Lei de
Diretrizes e Bases, a lei 13.415 de 2017 só menciona “Filosofia” no § 2º do
Art. 35 A quando diz que:
“A Base Nacional Comum Curricular referente ao ensino
médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de educação física, arte,
sociologia e filosofia”.
Além
da pouca menção ao Ensino de Filosofia, fica implícito que essa matéria ficará
dentro da parte diversificada que não é obrigatória como demanda a mesma lei para
as disciplinas de Língua Inglesa, Portuguesa e Matemática. Como a proposta é já
aumentar os “projetos” voltados para o trabalho do jovem e com uma carga
horária que ainda vai ficar nas oitocentas horas, sendo ampliada gradualmente,
o Ensino de Filosofia já sofre diminuição em suas aulas semanais com ausências nas
2ª e 3ª séries de várias escolas. É por conta disso que é chegada a hora do
professor filósofo decidir se continua no Estado ou se toma para si sua
liberdade para um combate aos moldes da antiguidade.
Cerletti, por exemplo, chama a atenção para
o problema da liberdade que seria inerente ao ensino de filosofia e seus
conflitos quanto ao estado vigente em questões como sua inserção nos programas
curriculares. E mostra a dificuldade de se decidir sobre a institucionalização
da filosofia. Volta ao mérito da questão citando Sócrates, e questionando:
quantos professores não poderiam ser chamados de “corruptores de jovens”, por
redefinir ou simplesmente desvelar o status quo?
Segundo
ele, devido à morte de Sócrates, toda filosofia fica mais moderada e limitada
quando institucionalizada. Porém Platão foi ao extremo, meio que dizendo que o
governante deveria ser filósofo.
“O
questionamento filosófico encontra limites à sua circulação em prol da
necessidade de assegurar o laço social”. (CERLETTI, 2009, p. 69). Ou seja, para
não sumir, deve-se adequar à realidade local. Nosso país com o tamanho que tem
e a diversidade de culturas, além do fato de ter governos diferentes por ente
da federação, torna-se um eterno laboratório enquanto existir democracia (não
que não deva existir), pois claramente, cada governo regula aquilo que comanda,
sob sua perspectiva.
Cerletti
discute a instrumentalização da filosofia quando a mesma serve ao propósito de
ensinar “o que se deve fazer”, como mediação de aspectos socioculturais e
políticos. Também descreve que na América Latina quase todo ensino de filosofia
se tornou uma espécie de explanação prática sobre ética e cidadania, e não a
disciplina ética. Parece que à filosofia coube a obrigação de transmitir os
“valores morais vigentes na sociedade atual”, e isso dilui o sujeito político
no sujeito moral. Assim, torna-se um manual de obediência ao invés de se tornar
crítica ao modelo, que na verdade pode e deve ser qualquer modelo
Também
critica o ensino da forma que é feita, ou seja, a educação fica circunscrita ao
ensino da cidadania, ao ensino de uma democracia capitalista com a vigência de
políticas de direitos humanos. Privilegia-se nas instituições de ensino mais
uma filosofia de funcionalidade prática do que uma filosofia com sua
potencialidade crítica.
Cerletti
fala em unidades controladas pelo Estado que, no entanto, não é diferente em
colégios ditos particulares onde há a mesma ideia, e isso também vem dos pais
que colocam seus filhos nestas instituições que há mais de um século vêm
insistindo na manutenção dos valores transmitidos aos seus filhos.
A
filosofia é fundamental para formar sujeitos críticos capazes de questionar a
validade de uma argumentação, a legitimidade de um fato ou a aparente
inquestionabilidade do que é dado. Infelizmente, como cita o próprio autor, o
filosofar fica longe da realidade quando se tem limitações impostas pelo Estado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando os aspectos
descritos anteriormente, pode-se dizer com ênfase que o problema do ensino de
Filosofia e do professor filósofo reside no fato de continuar ou não como
instituição estatal. Para ser confirmada como escola democrática, a legislação
vigente deveria deixar a filosofia ser o que ela se pretendeu ser quando surgiu
– uma consciência questionadora da realidade vigente e sem amarras alguma,
contudo desde os pedidos de Platão para a institucionalização dessa disciplina,
o que se viu foi uma armadilha em que o ensino de filosofia ficou a serviço do
poder de outrora. Vários autores modernos vêm questionando essa postura
filosófica onde uns dizem que o espaço pode ser aproveitado para implodir a
realidade a partir de dentro dela mesma e outros colocam à disposição do
professor filosófo o retorno às origens da Filosofia que é a capacidade de ser
totalmente livre e acusada como corruptora de jovens. Sem esse segundo passo, o
que se tem é uma servidora do Estado. A ágora moderna já existe, são as redes
sociais, contudo, o dilema é a coragem do professor filósofo: teria o docente
do ensino de filosofia coragem de abandonar seus vencimentos pagos pelo Estado e
tentar carreira num espaço mais livre? O
espaço aberto para a construção do novo Filósofo já existe, porém, por medo,
preguiça e covardia é deixado de lado.
REFERÊNCIAS
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